O aumento da repressão e da perseguição aos manifestantes acontece junto com a censura das redes sociais que primeiro garantiu a liberdade da imprensa. Enquanto a extrema-direita tenta legitimar a repressão e atacar os manifestantes, figuras da esquerda, como do Partido Comunista Francês, clamam pela “ordem republicana”. Nesse momento é urgente construir uma frente ampla com todas as organizações políticas, sindicais e dos movimentos sociais contra o racismo de Estado, o autoritarismo governamental e a violência policial na França!
segunda-feira 3 de julho de 2023 | Edição do dia
Na quinta-feira o governo de Macron, através do Ministério do Interior [1] convocou mais 40 mil policiais para estarem de plantão durante as madrugadas, quando ocorrem as manifestações mais explosivas. Junto com isso os batalhões especiais de repressão também passarão a estar de plantão durante a noite/madrugada.
Isso já levou à prisão de mais de 2000 manifestantes. O Ministério da Justiça [2] pediu uma repressão dura nos tribunais aos detidos, com penas que envolvem prisão e multas de 30 mil euros.
O regime se fecha para tentar restaurar a “ordem”
Enquanto reprime e persegue os manifestantes, Macron tenta repudiar a atitude do policial que matou Nahel, qualificando-a publicamente como “inaceitável”. No sábado, 1 de julho, ele também declarou a proibição de manifestação em Marselha, Montpellier e Toulouse, encerramento dos transportes públicos às 9 da noite e cancelamento de eventos com grandes públicos no início do verão europeu. Pensando mais a longo prazo, Macron propõe controlar a juventude através da redução nas férias escolares e aumento do tempo que as crianças passam na escola.
Outra medida que não envolve diretamente a repressão às manifestações é o controle da redes sociais: todos os “conteúdos sensíveis” estão censurados, com restrição de prints, compartilhamentos, acesso de usuários internos e externos afetando principalmente o Twitter. Macron chamou de “instrumentalização inaceitável da morte de um adolescente para “criar e atacar as instituições”.
A extrema-direita tenta atacar a mãe de Nahel, símbolo da revolta
A imagem da mãe de Nahel, Mounia, de punho erguido e radiante com a solidariedade à morte de seu filho foi alvo de ataques da extrema-direita. Segundo representantes da extrema-direita francesa só caberia lágrimas e prostração a quem tem seus filhos arrancados pelas mãos xenofóbicas do Estado imperialista francês.
Um dos representantes mais asquerosos da extrema-direita, Éric Zemmour, tentou desqualificar Nahel: “ele não era um anjo”. Da mesma maneira, questionou as manifestações e a violência dos manifestantes, como se a morte tivesse sido um erro e não a expressão de toda xenofobia e subjugação que o Estado Francês submeteu suas ex-colônias e os povos originários desses lugares.
O Partido Comunista Francês chancela a censura e clama pela “ordem republicana”
Em uma entrevista no noticiário concordou com a censura das redes sociais, argumentando que nesse momento os ânimos acabam se voltando pela destruição do patrimônio público, e que os comunistas (do PCF) seriam a favor dos serviços públicos e da segurança pública. Partindo de denunciar a escalada de violência dos manifestantes e do Estado, o secretário-geral do PCF iguala a atitude xenofóbica e de controle social do Estado Imperialista Francês e a revolta de milhares de imigrantes que sempre foram humilhados por esse Estado, numa atitude que claramente favorece a tentativa de “pacificação social” que Macron buscará construir.
Nos quatro cantos da França e apesar da repressão, milhares de pessoas saem às ruas, contra a violência policial e o racismo de Estado. Uma situação que atesta o apoio da população às revoltas em curso, e traduz, pelo contrário, a ausência de reação da cúpula das centrais sindicais. Enquanto o governo se prepara para aumentar o nível de repressão e as próximas noites prometem ser tensas, é urgente que todas as organizações políticas e sindicais se unam à raiva que impulsiona as revoltas nos bairros populares.
É urgente construir uma frente ampla com todas as organizações políticas, sindicais e dos movimentos sociais contra o racismo de Estado, o autoritarismo governamental e a violência policial e, assim, construir uma resposta de conjunta aos problemas levantados nas ruas.
[1] Responsável pela Segurança Pública do país, sua função é principalmente coordenar as forças policias. No Brasil essa responsabilidade está dentro do Ministério da Justiça
[2] Responsável por fazer pedidos a Justiça, mais semelhante à Advocacia-Geral da União no Brasil