×

Opinião | Caso Roberto Jefferson: Da radicalização bolsonarista aos planos eleitorais de Bolsonaro

A uma semana das eleições de segundo turno, a ação de Roberto Jefferson com tiros de fuzil e granadas contra a Polícia Federal tem gerado repercussão negativa na base de Bolsonaro, criando confusões e instabilidade no núcleo duro da extrema direita justo na reta final da campanha.

terça-feira 25 de outubro de 2022 | Edição do dia

No último sábado, Roberto Jefferson viu sua prisão preventiva ser decretada por Alexandre de Moraes após transgredir as exigências para a manutenção da prisão domiciliar, que havia sido concedida pelo próprio ministro do STF em agosto. Entre as transgressões apontadas por Moraes, consta o uso ativo das redes sociais, remetendo aos ataques misóginos de Jefferson contra a ministra Cármen Lúcia no Twitter. Como resposta à ordem de prisão, o deputado bolsonarista do PTB escolheu a radicalização contra a Polícia Federal, lançando mão de disparos de fuzil e até granadas para evitar a prisão.

A ação armada de Roberto Jefferson rapidamente tomou conta das redes sociais e da grande mídia, provocando orientações dispersas dentro da extrema direita. Prova disso é que o próprio Bolsonaro em um primeiro momento flertou com a defesa do deputado - que sempre foi um dos seus mais fiéis aliados, vale lembrar -, enviando até mesmo seu ministro da justiça, Anderson Torres, para “apaziguar a situação”. Somado a isso, até Silas Malafaia reagiu em repúdio à decisão de Moraes. No entanto, ao perceber a péssima repercussão que a ação estava tomando dentro dos destacamentos das polícias e na opinião pública que sua campanha vinha tentando atrair com um discurso mais eleitoral, Bolsonaro rapidamente largou a mão de Jefferson e passou a fazer demagogia nas redes, buscando se separar ao máximo dessa ação radicalizada de um dos atores mais golpistas de sua base.

Se por um lado é verdade que a ação de Roberto Jefferson é subproduto do discurso golpista que Bolsonaro aventou em diversos momentos para energizar e manter coeso seu núcleo duro de extrema direita, também é verdade que não é razoável conceber que Bolsonaro tenha participado na articulação dessa ação. Pelo contrário, desde o primeiro turno Bolsonaro vem se mostrando disciplinado pelo regime e tem buscado fazer acenos ao empresariado e a setores da centro-direita, com um discurso mais eleitoral, pois aposta em querer angariar votos para buscar vitória no próximo domingo.

A ação de Jefferson contra a PF mostra que setores mais duros da extrema direita podem promover ataques e provocar distúrbio nessa reta final, mas não significa que existam condições para um golpe de Bolsonaro apoiado pelos militares nesse momento. Essas condições não existem porque o próprio imperialismo veio dando acenos de apoio à chapa Lula-Alckmin, com até o senado dos EUA fazendo uma declaração duríssima contra qualquer intento golpista no Brasil - não porque os senadores democratas estejam preocupados com qualquer sentido democrático, mas sim porque não é do interesse de Biden que Bolsonaro, aliado de primeira ordem de Trump, se mantenha na presidência do principal país da América Latina.

Nesse sentido, frente às ameaças golpistas que setores mais extremados do bolsonarismo venham a fazer, e mesmo Bolsonaro caso tenha um resultado eleitoral adverso, é fundamental que as centrais sindicais rompam com a paralisia e passem a organizar os trabalhadores imediatamente, desde a base, para enfrentar o bolsonarismo e todos os ataques, com greves e manifestações.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias