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Argentina | Pedido de condenação a Cristina Kirchner: continuam os debates na Frente de Esquerda

O Partido Obrero fez uma campanha personalizada e intensa através de seus porta-vozes com diferentes jornalistas e meios de comunicação para tentar demonstrar que o PTS e seus deputados defendem Cristina Fernandez de Kirchner (CFK) negando sua responsabilidade na corrupção de seus governos, o que teria provocado diferenças na Frente de Esquerda Unidade (FIT-U). No seu afã de aparecer na vida política nacional, Gabriel Solano foi eliminando a caracterização de que o julgamento contra Cristina tem um caráter persecutório e, para variar, atribui ao PTS e aos seus dirigentes posições que nada tem a ver com a verdade.

terça-feira 30 de agosto de 2022 | 15:36

"O fato de que o pedido de condenação alcance apenas Cristina Fernández de Kirchner e funcionários e empresários de menor envergadura, deixando de lado os setores capitalistas mais consolidados e ao pessoal político do macrismo deixa transparecer o caráter parcial e manipulado do processo judicial em curso e a intenção de avançar em uma medida proscritiva no plano político contra a atual vice-presidenta” (Declaração do Comitê Executivo do PO, 23/08. Destacado nosso)

Somente 48 horas depois, e vendo que várias mídias ligadas à direita macrista [do ex-presidente Mauricio Macri] tinham ficado interessadas com a novidade de que na FIT-U existem diferenças sobre o chamado "julgamento de Vialidad" (sobre a corrupção nas obras de construção de rodovias durante o governo de Cristina), Solano publica uma nota contra o PTS onde desaparece qualquer menção à perseguição, proscrição, manipulação, parcialidade do julgamento contra CFK, e em meio a amálgamas afirma que somos uma esquerda que atua como “advogada defensora de Cristina Kirchner”, “como eixo central da sua propaganda” (sic).

Ali Solano tem que acabar reconhecendo (ainda que elipticamente) que neste La Izquierda Diario os posicionamentos e notas que foram publicados não tem nada a ver com tal posicionamento, que diretamente rechaçamos. A "desonestidade" do PTS (sic) estaria em que as notas que publicamos aqui não condizem com as reportagens que fazem nossos porta-vozes nos meios de comunicação, particularmente Myriam Bregman.

Mas acabou sendo que o mesmo dia no qual Solano publica tal absurdo no Prensa Obrera, o jornal La Nación publicava esta nota. Ali o jornalista reproduz a campanha suja lançada pelo PO pela boca do próprio Solano “A esquerda não tem que ser a advogada de defesa de Cristina Kirchner”. E também declarações de Myriam: “Ninguém pode negar, nem sequer o fez a própria Cristina Fernández de Kircher na sua declaração, que houve corrupção durante o governo kirchnerista”, “E apontou contra a vice presidenta ao indicar que não pôde dizer ‘nem uma só palavra’ sobre ‘sua responsabilidade política’ no fato de ‘ter tido José López como secretário de obras públicas enquanto havia todo tipo de negociações’”. Cristina deveria checar que tipo de “advogada de defesa” tem…

Aqueles que nos acusam de desonestidade deveriam olhar-se no espelho.

“Não foi possível provar um vínculo direto de Cristina Kirchner com os fatos”

Para o PO, esta afirmação publicada nesta nota seria a “prova” de que o PTS quer esconder a responsabilidade de Cristina na corrupção durante seu governo. Leiam este artigo para poder tirar suas próprias conclusões.

Aqui reafirmamos que neste julgamento parcial, persecutório e manipulado levado adiante por juízes e promotores macristas não se pôde provar um vínculo “direto” (destacamos di-re-to) de CFK com os fatos, algo que em nada a absolve da responsabilidade política no tremendo emaranhado de corrupção de seu governo. Isso, mais que evidente, é afirmado até pela própria jornalista especializada em tribunais do jornal La Nación, Paz Rodríguez Niell, alguém impensavelmente kirchnerista. E é justamente por isso que tiveram que incluir na imputação a figura jurídica reacionária da associação ilícita. Mas não, Solano e o PO antes de defender a verdade e depois de tentar conseguir “um minuto de fama” indo para cima de Myriam Bregman, Del Caño e do PTS, preferem cantar a música que os Leuco, Viale, Feinman, Wiñazki, Majul, Lanata e companhia gostam, aqueles que pedem por um maior ajuste, reforma trabalhista e da previdência 24 horas por dia, 7 dias na semana.

“Prisão para os corruptos” ou acabar com este sistema

Em seu ataque fracional, Solano e o PO acabam aproximando perigosamente as posições direitistas da Izquierda Socialista (organização irmã da CST-PSOL no Brasil), com sua “prisão para todos os corruptos” e a inversão do peso da prova de todos os políticos: “são culpados até que demonstrem o contrário”. Já nos perguntamos aqui o que esta política tem a ver com uma política revolucionária da classe trabalhadora, como se fosse possível abolir o capitalismo e sua inata corrupção com processos judiciais e prendendo todo seu pessoal político (que de uma forma ou de outra são todos e cada um parte do entramado de corrupção de todos os governos burgueses)... É tão absurdo que se isso fosse levado adiante seria necessário dispor de um plano de obras públicas para construir centenas e centenas de unidades carcerárias em todo o país, dando um poder ilimitado a estes juízes e procuradores, multiplicando por mil a quantidade de efetivos do serviço penitenciário. Esta posição fez a Izquierda Socialista a apoiar o golpe institucional no Brasil contra Dilma Rousseff, prelúdio da prisão e da proscrição de Lula acusado de corrupção, luz verde para a ascensão de Bolsonaro e o aprofundamento do ajuste, reforma trabalhista e da previdência.

O PO volta às andanças da época de Altamira (sempre para o mesmo lado)

Logo após Altamira perder as eleições prévias internas na Frente de Esquerda em 2015, o PO lançou uma campanha cega para tentar demonstrar que o PTS era um “seguidista do kirchnerismo” (um mote que anos depois foi nos dados pelo direitista Fernando Iglesias), enquanto seus deputados participavam de conferências de imprensa no Congresso convocadas por Patricia Bullrich e os setores majoritários de Cambiemos para denunciar o suposto assassinato procurador Nisman. As coisas são tão assim, que publicaram ambas notas para repudiar nossa presença em manifestações contra a detenção arbitrária de Milagro Sala por parte de Gerardo Morales. O mesmo aconteceu quando Hebe de Bonafini se negou a declarar em um processo e foi feita uma manifestação contra o juiz na qual participamos. Nos dois casos em defesa das liberdades democráticas sem que isso significasse nenhuma adesão política.

Analogamente hoje poderiamos dizer que aqueles que participam de conferências de imprensa ou manifestações com o Movimento Evita, governista ou a CCC contra a campanha persecutória que foi lançada aos movimentos sociais, se tornam "seguidistas" do governo ajustador de Alberto e Cristina. Um absurdo que não podia ser sustentado por um único segundo.

Em 2017, a direita de Cambiemos encabeçada por Elisa Carrió apresentou um projeto para expulsar o ex ministro e então deputado Julio de Vido da Câmara, e o PO vacilou até o último momento para rechaçar isso, algo que enfim foi feito pelos três deputados que a FIT-U tinha (Soledad Sosa, Pablo López y Myriam Bregman). Com qual autoridade os protagonistas dos escândalos dos ‘Panamá Papers’, do desfalque do Correio Argentino, os que organizavam as espionagens ilegais enquanto endividavam o país como loucos para financiar a fuga de divisas, vão decidir se tal ou qual deputado era moralmente hábil para exercer seu mandato? Naquele momento Myriam Bregman interveio com uma posição de princípios, e de autodefesa dos próprios deputados da esquerda, algo bem distante de qualquer tipo de solidariedade política com De Vido.

Uma briga alheia?

Em um momento no qual o governo coloca no Ministério da Economia um agente da embaixada ianque para levar adiante o ajuste reivindicado pelo FMI, a classe capitalista se pergunta se a vice-presidente apoiará ou não este giro. Mas como garantia tem um julgamento que está acontecendo e que pode ser ativado ou não segundo as necessidades políticoas. Depois de tudo, Massa era um dos melhores amigos do finado juiz Bonadío, que estava na cabeça dos julgamentos contra a vice-presidenta. Se a Cristina Kirchner viesse a ideia de colocar obstáculos aos planos de ajuste que estão acontecendo, agora mesmo o ministro da Economia poderia utilizar o julgamento para fazer realidade sua promessa de campanha de “prender Cristina e expulsar os membros da La Cámpora” (nota assinada por Gabriel Solano, 3/08).

Coincidimos com o que Solano dizia há 25 dias e agora parece esquerda afirmando que “devemos chamar os trabalhadores e não se distraírem com a briga de camarilhas dos políticos e juízes capitalistas, bandidos que lucram com a fome do povo, e chamar a lutar pelas próprias reivindicações”. É uma obrigação da esquerda revolucionária colocar uma posição de princípios e independente e demonstrar que não é para nada alheio aos interesses do povo trabalhadores o fortalecimento ou não da casta judicial arbitrária por definição, bancada pela direita.

O PO nega as consignas democráticas transicionais para desacreditar as instituições do regime e fortalecer a intervenção popular, como a eleição pelo voto popular dos juízes e promotores e julgamentos por júri popular, o que equivale a sustentar a atual casta judicial e suas arbitrariedade. Sobre isso relembramos a defesa de Leon Trotski em Um Programa de Ação para a França: “Abolição dos tribunais de classe, eleição de todos os juízes, extensão do julgamento por júri popular a todos os crimes e delitos menores: o povo fará justiça por si mesmo”.

Como já tinhamos explicado em numerosas notas e reportagens, denunciar a perseguição e as tentativas de proscrição de uma camarilha capitalista contra outra é uma questão da autodefesa das liberdade democráticas das maiorias populares e da esquerda. É mais que evidente que todas as alas do governo estão usufruindo o julgamento persecutório contra CFK para unificar fileiras e uma “mística”, cobrindo o brutal ajuste que estão aplicando. Uma posição principista e independente da esquerda nos dá a autoridade para justamente denunciar esta operação política que lhes deixou servida o promotor Luciani, enquanto impulsionamos e lutamos pela vitória de lutas operárias como do sindicato dos trabalhadores de pneus (SUTNA) no caminho de impor uma paralisação nacional que seja o começo de um plano de luta que culmine em uma greve geral para derrotar o governo de ajuste de Massa, Alberto e Cristina e o conjunto do regime do FMI.




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