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CARTA DE TEMER A DILMA | O PT se aproveita da carta de Temer reafirmando o pacto pelos ajustes

Ontem vazou na mídia uma carta do vice-presidente, Michel Temer (PMDB) endereçada a presidente Dilma Rousseff, na qual ele critica a relação entre ambos, alega desconfiança de Dilma com sua pessoa e com o PMDB e avança mais uns passos na ruptura com o governo.

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

quarta-feira 9 de dezembro de 2015 | 00:00

O que ele talvez não esperasse era que tal carta aprofundaria ainda mais as diferenças entre as duas alas do PMDB (contra e pró-impeachment) e seria aproveitada pelo próprio governo para exigir de Temer uma posição mais clara acerca do impeachment.

Desde o início do segundo mandato o vice-presidente Michel Temer tem atuado como o lorde protetor de um partido de coronéis, caudilhos, corruptos, arrivistas que é o PMDB, operando cuidadosamente para aparecer como uma base aliada incômoda ao PT, para melhor poder coletar cargos e privilégios enquanto ataca os trabalhadores. De fato, somente uma questão estratégica justifica os seus zigue-zagues táticos: a garantia da rápida aprovação dos ajustes.

No início do ano, com a burguesia unificada na necessidade de Dilma Rousseff, e do PT, se manterem na Presidência do país durante a implementação do plano de ajustes, Temer aceitou a oferta feita por Lula e Dilma de ser o articulador político do Planalto com o Congresso para garantir a unificação da base aliada e a aprovação dos pacotes de ajustes, como ele próprio afirma na carta “Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, em momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal.”

Porem, raposa velha não dá ponto sem nó, e enquanto articulava a aprovação dos ajustes no Congresso também aproveitava para se localizar politicamente como alternativa de direção, em caso de impeachment, na unificação dos partidos burgueses em prol das reformas neoliberais e do arrocho necessário para descarregar a conta da crise nas costas dos trabalhadores.

O PT e o Planalto, embora soubessem que ele costurava pelos bastidores o terreno para se localizar como alternativa a Dilma, sabiam também da importância que a atuação dele, e do PMDB como um todo, tinha para a aplicação dos ajustes, e por isso, concedeu cargos ministeriais para todas as alas do PMDB (cedendo a estratégica pasta da Saúde que era do PT), buscando acomodar esse gigante ainda mais dentro da máquina pública do Estado.

Para se defender do PMDB, o PT tem apostado em impedir que o partido se unifique, e por isso tem dialogado e cedido a todas as alas do PMDB. A tática vem dando certo, e o setor ligado ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e ao governador do Rio de Janeiro, Pezão, com a posse de dois Ministérios, tem se mostrado fiel ao governo. Por outro lado, com a abertura do impeachment e o fim da relação de cumplicidade e chantagem-barganha entre Dilma e o Presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), o vice-presidente tem se postulado cada dia mais como “chefe unificador” do país, ou seja, passando a imagem para a burguesia e a oposição de que ele seria o nome forte para substituir Dilma e unificar o país.

No ultimo embate entre as alas do PMDB pró e contra o governo, com a conformação da Comissão Especial de Impeachment, o líder da bancada, Picciani, emplacou 5 nomes contrários ao impeachment, dentre os 8 que o partido tem direito. Essa atitude garantiria folga para o governo barrar o processo já em janeiro. Porém, a oposição tucana junto da ala pró-impeachment do PMDB lançou uma chapa concorrente para compor a comissão e, assim, se contrapor às indicações dos líderes.

O que temos de fato é a continuidade do fortalecimento do PMDB sob o governo Dilma. Cientes de que, se Dilma passa pelo impeachment e se mantém, a aplicação dos ajustes se acelera e a presença maior do PMDB no governo permitiria um maior controle da maquinaria pública. E que, se Dilma cai com o impeachment, as movimentações de Temer colocariam o PMDB como a alternativa mais viável para unificar o pais em prol dos ajustes e controlar a maquinaria pública.

Nem com o governo, nem com o impeachment: uma saída dos trabalhadores com a Assembleia Constituinte Livre e Soberana

O PT conseguiu a façanha de converter-se num partido tão fisiológico e ligado aos interesses capitalistas e latifundiários como o PMDB e o PSDB. Não tem nenhuma vontade de perder o PMDB como partido da base base aliada. Esta tríade PT-PSDB-PMDB está unificada pelos ajustes, como o próprio Temer admite com toda desfaçatez na carta: "Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos [...] Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos."

A única forma de barrar de fato os ajustes que foram e estão sendo colocados em prática contra a classe trabalhadora e os setores oprimidos no país é pelas forças da mobilização independente dos trabalhadores e da juventude exigindo uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, que retire imediatamente o poder e os privilégios de toda essa casta de políticos, tornando-os revogáveis e que recebam o salário médio de um trabalhador, e seja eleita para deliberar sobre todas os grandes temas sociais, políticos e econômicos do país, tais como uma reforma agrária radical (nunca esboçada em 13 anos de PT) e a ruptura de todas as relações de subordinação com o imperialismo, eliminando seu poder sobre empresas nacionais como a Petrobrás e a Vale.




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