×

USP | Mulheres farão protesto na rota do estupro da USP

Ocorreu nessa segunda feira na USP a primeira plenária de mulheres da USP na ECA (Escola de Comunicação e Artes), com cerca de 60 mulheres discutindo como dar uma resposta a série de estupros que vem ocorrendo na universidade, assim como ao recente escândalo do blog Tio Astolfo que relata como estuprar uma mulher da FFLCH, principalmente as bissexuais

terça-feira 18 de agosto de 2015 | 00:39

Ocorreu nessa segunda feira na USP a primeira plenária de mulheres da USP na ECA (Escola de Comunicação e Artes), com cerca de 60 mulheres discutindo como dar uma resposta a série de estupros que vem ocorrendo na universidade, assim como ao recente escândalo do blog Tio Astolfo que relata como estuprar uma mulher da FFLCH, principalmente as bissexuais. O tom geral das falas foram em caráter combativo para dar uma resposta a opressão e aos estupros.

Os casos de estupros na USP são recorrentes, as estudantes e trabalhadoras denunciam há anos a falta de iluminação no campus, o número escasso de linhas de ônibus e principalmente o esvaziamento do espaço da universidade, que faz com que as mulheres tenham que andar longas distancias em ruas vazias e escuras. Esse problema objetivo sentido no dia a dia das mulheres que estudam e trabalham na USP, é expressão da política da reitoria e do governo do estado para a universidade.

Existe dois eixos principais dessa política, um é o machismo institucionalizando, tanto na terceirização dos serviços de limpeza, que contrata primordialmente mulheres negras, como na própria acadêmica com recorrentes relatos de assédio de professores, assim como os escândalos dos estupros e assédios nos “trotes”, onde as ingressantes são obrigadas a se sujeitarem a humilhações e agressões, e toda essa série de aberrações tem a reitoria e professores de altos cargos, como cúmplices diretos.

O segundo ponto, da qual a violência e os estupros são consequência é o esvaziamento do campus, a população em volta da USP tem seu acesso negado tanto pelo processo seletivo do vestibular, mas também ao espaço físico da universidade, uma vez que é cercada por muros, as festas e atividades culturais são proibidas, e recentemente a reitoria soltou o comunicado de um novo tipo de policiamento na universidade, com o demagógico discurso de “garantir a segurança dos estudantes”, na realidade é uma medida que deve aprofundar as contradições sociais dentro da USP, já que a policia, e é sabido de todos, é um aparato do estado que condensa todo o racismo e opressão.

Essa denúncia foi feita pelas estudantes, Odete Cristina, estudante da USP e militante do Pão e Rosas, disse “o movimento estudantil e de mulheres precisa dar uma resposta profunda aos casos de estupro, combatendo a reitoria e a polícia, hoje na USP a luta contra a opressão passa também por não permitir que esse novo tipo de policiamento passe. E mostrar a toda a sociedade que as estudantes defendem não só o próprio direito do “ir e vir” sem serem violentadas, mas também a todas as mulheres e trabalhadoras, na defesa de uma universidade aberta e a serviço da população. As mulheres devem estar na linha de frente dessa luta, disputando com a política opressiva da sociedade para ganhar a consciência dos homens de que essa pauta também diz respeito a eles”.

Também houveram muitas denúncias da Reitoria, que vem sistematicamente ignorando o movimento de mulheres dentro da Universidade. No final do ano passado foi entregue uma carta de reivindicações com medidas tiradas do Encontro de Mulheres Estudantes da USP para o combate à violência e ao número de estupros crescente dentro do campus. A postura do Reitor Marco Antônio Zago foi mais uma vez nos calar, e no lugar de nossas reivindicações está lançando nesta terça, 18, o Programa USP Mulheres, uma iniciativa da ONU, parte do programa He for She, que nada mais é do que demagogia, um programa voltado para homens que não atende aos nosso problemas. Outra medida que o Reitor propõe se apoiando na violência que sofremos, é a implantação de um novo sistema de policiamento, que consiste em infiltrar policiais entre os alunos, ou seja, mais perseguição e nenhuma proteção para nós.

Ao final da reunião a principal política tirada foi a construção de um ato contra os estupros e a violência na segunda feira, dia 24, para dar visibilidade ao caso, e mostrar que as mulheres não vão aceitar caladas tamanha opressão.
Nesse ponto abriu o principal debate, onde demonstraram duas concepções claras de feminismo, um grupo de garotas defendeu que o ato fosse composto só por mulheres, enquanto outro defendia que fosse composto por todos aqueles que se identificam e apoiam a luta contra a opressão.

Em uma votação apertada ganhou a proposta de um ato feminino, essa concepção apesar de carregar um discurso combativo, na realidade se adapta a uma ofensiva ideológica do capitalismo que visa dividir homens e mulheres, para que não se vejam como aliados nas lutas. É fundamental que as mulheres estejam na linha de frente da própria emancipação, contudo o discurso de empoderamento levado por muitos grupos feministas radicais que não veem os homens como aliados, acaba caindo em um “ódio” aos homens tomando como critério o sexo o que faz com que esses grupos sejam na maioria transfóbicos. Em um país onde os casos de violência e assassinatos a LGBT, essa concepção acaba se adaptando e ficando caladas a centenas de travestis assassinados diariamente.

A Secretaria de Mulheres do SINTUSP também esteve presente na plenária, saudando nosso espaço e ressaltando que as trabalhadoras estão sujeitas aos mesmos riscos que as mulheres estudantes, e que portanto estamos juntas em uma mesma luta. Para nós do Pão e Rosas, esta aliança com as trabalhadoras é estratégica, e esperamos uma forte participação dessas combativas mulheres na próxima segunda-feira. A exemplo do SINTUSP, chamamos todas as entidades estudantis, todos os centros acadêmicos e atléticas, e principalmente o Diretório Central dos Estudantes a colocar a luta das mulheres na linha de frente, e realizarem uma ampla convocação ao nosso ato.

O ato vai ter concentração às 16h em frente a Reitoria, e de lá sairemos em marcha pela repulsiva "rota dos estupros". Nós do Pão e Rosas chamamos todas as mulheres da USP a participarem deste ato, como uma primeira medida para que sejamos centenas de mulheres em luta deixando claro que não aceitaremos mais assédios, estupros e violência dentro e fora da Universidade. Apenas a nossa organização pode responder a opressão que sofremos, e é construindo isso diariamente que vamos rumo ao nosso Encontro de Mulheres e LGBT.


Temas

USP    Juventude



Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias