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Venezuela | Maduro ordena “ação defensiva” no leste do Caribe diante da chegada de navio de guerra britânico

O clima de tensão voltou com a chegada do navio de guerra britânico HMS Trent à costa guianense, o que o Governo de Maduro interpretou como uma “provocação hostil”, em plena disputa territorial entre os dois países, e ordenou a realização de exercícios militares no leste do Caribe e da costa atlântica.

segunda-feira 8 de janeiro | 00:41

Texto de Milton D’León

Maduro ordenou “uma ação defensiva conjunta” em resposta ao que ele chamou de “provocação do Reino Unido” depois do Ministério da Defesa britânico ter anunciado o envio de um navio de guerra à costa da Guiana. A Inglaterra justificou o envio do HMS Trent como “diplomacia defensiva” em apoio à Guiana, sua ex-colônia, na disputa territorial, expressões próprias de tensões bélicas.

“Por isso ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a força militar nacional bolivariana no Caribe oriental da Venezuela, na fachada atlântica. Uma ação conjunta de natureza defensiva em resposta à provocação e ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania do nosso país", disse Maduro durante a cerimônia de saudação de final de ano das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB).

A “ação defensiva” consiste no envio de 5.682 soldados, 28 aeronaves (incluindo caças F-16, Sukhoi russos e caças chineses) e 16 embarcações (navios de guerra, navios de patrulha oceânica e veículos anfíbios) por considerar o HMS Trent da marinha britânica uma “ameaça direta à paz” acordada entre Maduro e o presidente guianense Irfaan Ali, em 14 de dezembro, quando se comprometeram com uma trégua, buscando evitar incidentes relacionados com a disputa.

“Estamos respondendo de forma proporcional”, garantiu o governo venezuelano. Os exercícios foram realizados a partir do estado de Sucre, muito próximo de Trinidad e Tobago, em frente aos limites de água em disputa com a Guiana.

Em 24 de dezembro, a Inglaterra anunciou o envio do navio de guerra da Marinha Real HMS Trent para participar de exercícios com a Guiana em meio às tensões pelo Essequibo. Em 8 de dezembro, os Estados Unidos também anunciaram e realizaram exercícios militares com a ex-colônia britânica por meio do Comando Sul.

Por sua vez, membros do Governo da Guiana não aceitaram o pedido da Venezuela para que o HMS não chegasse à costa guianense. O vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo havia dito em conferência aos jornalistas em Georgetown, capital do país, que o navio de guerra da Marinha Real é uma atividade planejada “que visa melhorar as capacidades de defesa do país” e que tudo continuará conforme programado.

Como publicado originalmento no La Izquierda Diario, da rede internacional de diários da qual o Esquerda Diário pertence, após a reunião em Kingstown, “após reunião, a Venezuela e a Guiana não conseguiram chegar a um acordo ou em uma estratégia para resolver a disputa sobre a vasta região fronteiriça. A tensão continua a desenvolver-se onde os interesses e necessidades nacionais internos de ambos os países, as questões geopolíticas e económicas continuam a convergir para uma dinâmica controversa.”

O Reino Unido realiza uma clara provocação de ingerência imperialista. No entanto, ainda que o governo guianense atue como um peão das transnacionais, o governo venezuelano está muito longe de expressar qualquer política consequente e anti-imperialista. Maduro vem atuando com bravata em suas declarações enquanto ordena as chamadas “ações defensivas”.

Através do discurso do “patriotismo” busca arrastar a classe trabalhadora e os setores populares para um conflito bélico, enquanto este mesmo governo leva a cabo uma das políticas mais entreguistas para o capital transnacional na história do país. E ainda que neste momento sejam improváveis, não estão descartadas ações aventureiras por parte de um governo em decomposição como o de Maduro e com eleições no segundo semestre de 2024.

O governo venezuelano tem levado a cabo uma política que facilita brutalmente o saque dos recursos subordinando o país ao capital estrangeiro, com a nova lei do investimento estrangeiro, com as Zonas Económicas Especiais, com o Arco Mineiro do Orinoco, com as privatizações do petróleo e isenções fiscais para as empresas petrolíferas como não se via desde a época de Gómez entre 1910 e 1930.

Uma questão é clara: a presença política e militar constante de potências imperialistas, como dos Estados Unidos e agora da Grã-Bretanha, faz nada mais do que instigar o conflito, alimentando tensões políticas e bélicas, longe das hipócritas declarações de buscas por uma “solução pacífica”. A exemplo, no dia 8 de Dezembro, o Comando Sul dos Estados Unidos e a Força de Defesa da Guiana realizaram “exercícios aéreos” em território guianense como parte do que chamam de “operações de rotina”, justamente em momento de elevada tensão política com a Venezuela. A presença de potências imperialistas na região deve ser fortemente rejeitada, assim como o projeto estadunidense de instalar uma base militar na área do conflito ou em qualquer outra parte da Guiana.

O aumento da tensão, poderá levar ao confronto entre países irmãos com níveis profundos ​​de semicolonialidade, para além das diferenças existentes. As classes dominantes de ambos os países tentam sufocar a classe trabalhadora de cada país em lutas que podem levar a guerras fratricidas, enquanto, ao mesmo tempo, esses mesmos governos submetem as economias nacionais ao capital estrangeiro e imperialista.

Como escrevemos em nossa declaração como Liga dos Trabalhadores pelo Socialismo (LTS), promovida pelo portal La Izquierda Diario: “Não haverá solução progressiva de bem-estar para o povo venezuelano e Guianense de mãos dadas com as classes dominantes de ambos os países e seus governos. A única saída possível, como seria a gestão comum dos recursos em benefício de ambos os povos e não das burguesias locais parasitárias que juntamente com os seus parceiros governistas mantêm o atraso e profundos problemas estruturais, só pode vir dos trabalhadores e maiorias populares e exploradas, juntamente com os povos nativos de ambos os países, conquistando os seus próprios governos. Só assim será possível dar uma solução abrangente e definitiva a estas disputas territoriais herdadas do passado.”




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