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Lições da greve dos servidores de Jaguariúna

sexta-feira 21 de abril de 2023 | Edição do dia

Em meio à tensa situação de ameaças nas escolas, os trabalhadores da educação da rede municipal de Jaguariúna, interior de SP, junto a outros setores da categoria, entraram pela primeira vez em greve nesta última segunda-feira, dia 17 de abril, paralisando todas as escolas municipais. Os educadores pararam para reivindicar um reajuste salarial superior à vergonhosa proposta de 7,5% (muito inferior a todas as das cidades da região) feita pelo prefeito Gustavo Reis (MDB).

O movimento teve como antecedente a tosca afirmação do prefeito “sua opinião não importa” ao ser questionado em redes sociais por uma professora sobre a efetividade da política do município de ensino de autodefesa para os servidores. Esta vergonhosa ação da prefeitura é a resposta de Gustavo Reis para a atual crise escolar, responsabilizando os trabalhadores pelo enfrentamento da crise e por fora de se colocar contra a ideologia de extrema direita e a crise social que dá origem a essas ameaças, e por isso deve ser rechaçada.

A melhor resposta ao descaso do prefeito com os trabalhadores foi dada pelos grevistas, na sua maioria mulheres professoras, reunidas desde às 7 da manhã de segunda-feira em frente à prefeitura. Se aglutinaram para mostrar a força da greve que estavam realizando (primeira na história da categoria) e lutar contra a precarização da vida imposta pela crise capitalista e pelo bolsonarismo nos últimos anos. Com cartazes e camisetas escritos “nossa opinião importa sim” e uma enorme energia e disposição, enfrentaram a intransigente indisposição de Gustavo Reis de negociar o reajuste com os trabalhadores e forçaram uma negociação.

Inicialmente, o sindicato (que tem uma estranha composição de sua diretoria, com participação do PSTU e é filiado à central sindical dirigida pelo PDT, a CSB) se apresentou dividido no conflito. Por um lado, um setor contrário à greve discursou para desestimular a luta. Por outro, um segundo setor se colocou a favor da greve e enfrentou publicamente a ala direita da diretoria. A situação mudou completamente depois que saiu o resultado da negociação com o prefeito. A partir de então, com uma proposta que não alterava em nada os 7,5% de reajuste, os dois setores se unificaram para convencer os trabalhadores a aceitar o acordo e enterrar a greve. O microfone passou a ser dividido entre falas que tinham o objetivo de amedrontar e desmoralizar a categoria (momento que passou a contar com forte atividade do PSTU). A ameaça de que o judiciário supostamente iria “criminalizar” o conflito, muito antes da greve ser judicializada ou mesmo de qualquer audiência de conciliação, foi constante. Não faltaram discursos questionando a capacidade da greve se manter por mais tempo, mesmo diante da força dos trabalhadores paralisados.

Ora, se metade da energia utilizada pela diretoria do sindicato para enterrar a mobilização fosse gasta em construir e amplificar a greve (que já era bem forte para um primeiro dia), estimulando espaços de auto-organização da base, ampliando a mobilização para os outros setores de municipais como saúde e assistência e articulando a pauta da categoria com as demandas da população, sem dúvida o conflito poderia seguir e arrancar conquistas superiores. Mesmo depois de enrolar para fazer a votação, na tentativa de ganhar tempo para desestimular a categoria de seguir na greve, metade dos trabalhadores votaram por não aceitar o acordo, o que reforça a tese de que a greve tinha força para se manter por mais dias.

É necessário batalhar para construir na base uma força social que seja independente da prefeitura de Gustavo Reis, mas também do governo de frente ampla de Lula-Alckmin, pois só com independência de classe de todos os setores da burguesia e com organização em cada local de trabalho que poderemos lutar para arrancar não só as nossas demandas salariais e econômicas, como batalhar para construir as escolas que queremos, a saúde e a assistência social que estejam realmente a serviço da população.

Ao contrário da proposta do prefeito, frente aos atentados e ameaças, é fundamental que se promova a auto-organização dentro das próprias unidades, exigindo a implementação imediata de medidas urgentes, como a contratação de psicólogos, assistentes sociais, e agentes escolares ao quadro efetivo de servidores, em uma proporção que atenda realmente às necessidades da educação pública. Assim como é urgente a diminuição de alunos por sala de aula, diminuição da jornada de trabalho dos professores e educadores sem diminuição da remuneração, efetivação dos professores temporários e dos trabalhadores da portaria, da limpeza e da cozinha, sem necessidade de concurso. Nossa luta não pode se furtar de reivindicar medidas que apontem no sentido de uma mudança de qualidade da educação pública, promovendo debates, reuniões e atividades que sejam abertos e com a comunidade escolar.

Assine o manifesto contra a precarização e terceirização do trabalho

Ao mesmo tempo, precisamos nos conectar com diversos outros problemas sociais, porque a escola e todos os servidores públicos precisam conquistar o apoio de grandes setores populacionais para nossa luta. No caso da educação, a reforma trabalhista, e todas as reformas aprovadas, são promotoras da precarização das condições de vida que deixou a escola pública e os estudantes nessa situação. A luta por uma educação de qualidade é indissociável da luta por melhores condições de vida e trabalho , uma vez que a precarização da educação e do trabalho são partes de um mesmo projeto, e portanto, também devem ser combatidas conjuntamente.

Leia e assine aqui:Manifesto contra a terceirização e a precarização do trabalho: contra a terceirização, pela erradicação do trabalho escravo, a revogação integral da “reforma” trabalhista e o reconhecimento dos plenos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras em plataformas digitais”.

Nós do Esquerda Diário estivemos nesse dia de greve dos servidores de Jaguariúna e reivindicamos a força que mostrou a categoria, e é acreditando nessa força que podemos superar as burocracias que dirigem os sindicatos e lutar contra os governos e para que sejam os capitalistas que paguem pela crise!




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