×

A Troika pressiona por mais corte e encurrala o governo de Tsipras. Continua a fuga de capitais e se aproxima a data limite para um acordo. Quais são os cenários mais prováveis para a Grécia?

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

quarta-feira 17 de junho de 2015 | 00:00

“A Europa deve salvar a Grécia para salvar a si mesma”, afirmou nesta segunda Timothy Garton Ash no The Guardian. Em seu artigo, levanta que há atualmente duas visões perigosas sobre a Grécia nos países do norte da Europa.

A primeira, que este jogo de “gato e rato” entre Grécia e Alemanha terminará, em última instância, em um compromisso. A segunda, que ainda que se dê a saída da Grécia da zona do euro, não seria tão grave para o resto da Europa.

Frente a estas ilusões perigosas, o periodista britânico levanta que o risco de um "Grexit" (a saída da Grécia da zona do euro) segue presente, e até pode estar na próxima esquina. Concretamente, se refere à contínua fuga de capitais dos bancos gregos, que poderia levar a um estado de pânico, a que o governo tenha que implementar um controle de capitais para evitar uma quebra completa.

Enquanto o resto da economia europeia pode suportar o impacto, as consequências se mediriam a longo prazo, assinala. Em primeiro lugar, se produziria na Grécia uma “dramática queda no nível de vida” da maioria da população, tendo em conta que nestes 7 anos de crise já caiu pelo menos 30%.

“Salvo que ocorra um milagre, isto seguramente resultará em um novo governo mais radical, populista e nacionalista, seja de esquerda ou de direita”, adverte.

As consequências geopolíticas, assinala, podem levar a Grécia a alinhar-se mais em “novos sócios”, como a Rússia ou a China, que já tem os olhos (e alguns negócios importantes) apontados para o país.

O correspondente econômico do Financial Times na Grécia, Ferdinando Giugliano, também dedica este domingo um artigo a analisar o perigo de um cenário de controle de capitais, assinalando que a situação da Grécia poderia comparar-se mais com a caótica saída da convertibilidade argentina do que com o controle de capitais “ordenado” no Chipre.

Revê a situação da Argentina em 2001, quando se implementou o “corralito” [impedimento da retirada de dinheiro das contas bancárias] aos depósitos bancários e se produziu uma brutal desvalorização da moeda. Diz que pode levar anos a “recuperar a confiança” dos investidores depois disto, condenando a economia a uma paralisia de longo alcance.

Ambrose Evans-Pritchard, desde o The Telegraph, disse que a ala esquerda do Syriza exige um default “à islandesa”, enquanto o desafio grego endurece. Frente a visão “tranquilizadora” de que o Syriza terminará sim ou sim adotando todas as exigências da Troika, cita declarações de vários ministros gregos durante o fim de semana, assegurando que não haverá novas reduções de aposentadoria e salários, ou aumentos de impostos na eletricidade. Levanta que o governo tem que chegar a um compromisso que seja aceitável pelo parlamento para que possa ter alguma estabilidade.

Todos estes analistas coincidem em que, chegados a este ponto nas negociações, não seria conveniente para a UE forçar uma saída da Grécia da zona do euro com exigências que sejam completamente pouco apresentáveis, como a questão das pensões e dos salários, buscando uma mudança em outras vias para cumprir com os cortes.

Por que a Troika insiste em cortar as pensões gregas?

A porta-voz de política econômica da Comissão Europeia, Annika Breidthardt, defendeu nesta segunda as propostas feitas pela Troika.

“Para prevenir qualquer mal entendido tem que se dizer que é uma importante tergiversação dos fatos afirmar que as instituições têm exigido cortes nas pensões individuais”, afirmou. A reforma, disse, seria para a “eliminação progressiva da aposentadoria antecipada, prolongar a idade de aposentadoria e quitar incentivos incorretos para a aposentadoria antecipada”.

E quanto aos salários, recorreu ao eufemismo da “modernização” para referir-se aos cortes, dizendo que as “instituições não estão pedindo novos cortes em salários”, mas uma “modernização das categorias salariais do setor público fiscalmente neutras e uma preservação das práticas salariais no setor privado em linha com as melhores práticas internacionais, e tendo em conta o elevado desemprego”.

"Isto não implica necessariamente em cortes salariais, mas em alinhá-los à produtividade e às necessidades de competitividade da economia grega”, afirmou.

Quer dizer, as propostas da Troika – além da forma de apresentá-las -, implicam um corte no sistema de pensões, bloqueiam qualquer recuperação do salário (quem vem sofrendo fortes quedas) e atá-lo à produtividade, avança contra os direitos da negociação coletiva e aumenta o IVA.

Se o governo grego aceitar todas estas exigências, significará uma capitulação completa e se colocaria à beira do abismo, com o risco de perder o apoio de grande parte de seus votantes, a somente cinco meses de governo. Mas se não cede nada mais, poderia jogar pelos ares o acordo e ver-se frente um cenário de calote e uma fuga massiva de capitais. Esta é a encruzilhada atual.

Mas tem sido sua estratégia de “pressão amigável” com a Troika, a linha de ir acumulando concessões com o objetivo de alcançar um “acordo satisfatório”, a que tem colocado o governo neste dilema crucial.

A Troika segue forçando até o limite as exigências para obrigar o governo de Tsipras a uma maior capitulação política (um caminho que se iniciou com o acordo de 20 de fevereiro).

Também interferem fatores políticos mais gerais. O triunfo de candidaturas à esquerda do PSOE nas principais cidades espanholas em 24 de março, e uma possível derrota do PP nas eleições espanholas no fim do ano, “os tempos se aceleram” para as instituições. Frente a isso a possibilidade de “deixar cair” a Grécia como forma de “exemplificar” tão pouco de descarta, ainda que seja o menos provável.

Provavelmente nos próximos dias ou semanas, Tsipras aceite novas concessões, que sem chegar ao programa máximo da Troika, possam facilitar um novo acordo sobre a base de manter a sujeição econômica e política da Grécia a essas instituições, ainda que a saída mais catastrófica segue presente como ameaça.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias