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Estados Unidos | Cúpula entre Xi e Biden reduz a tensão entre os dois países

Os dois presidentes chegaram a acordos para restabelecer as comunicações militares e para a luta contra o tráfico de fentanil. Também para retomar as vias de contato para evitar que a rivalidade das potências mundiais “derive em conflitos”. Mas também deixaram claras suas diferenças em temas quentes como Taiwan.

sábado 18 de novembro de 2023 | Edição do dia

Depois de quatro horas de reuniões em uma mansão nos arredores de São Francisco, Xi Jinping e Joe Biden chegaram a acordos para restabelecer as comunicações militares e para a luta contra o tráfico de fentanil. Também para manter abertas as vias de contato para evitar que a rivalidade das potências mundiais “se perca em conflitos”. Mas também deixaram suas diferenças claras em temas quentes como Taiwan.

As diferenças entre as duas potências mundiais são muito grandes e a desconfiança mútua é bastante aguda para esperar progressos em uma só leva de reuniões. Como adiantaram altos cargos da Casa Branca, se tratou de estabelecer algum tipo de sintonia entre os líderes que se conhecem desde quando ambos eram vice-presidentes, há mais de uma década, e também se buscou reforçar a confiança mútua.
Apesar de ter sido uma reunião cheia de gestos amigáveis, ao término da comitiva de imprensa, Biden respondeu à pergunta quanto a se seguia considerando Xi um “ditador” com “Sim, ele é”.

Dois principais acordos: Taiwan e o fentanil

O presidente estadunidense anunciou dois principais acordos. Primeiro que se retomem os diálogos militares depois de terem sido suspendidos durante a viagem da ex-presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan. Os dois líderes concordaram que quando um precisasse, poderia contar com o outro para enfrentar possíveis crises de conjuntura e evitar o risco de uma escalada que nenhum deseja. Washington tem grande interesse em restabelecer esses acordos para evitar que algum dos atritos entre suas respectivas patrulhas ao redor de Taiwan ou do mar do Sul da China possa gerar uma crise grave.

Xi Jinping ressaltou ao estadunidense a importância que confere a Taiwan, a ilha de regime democrático que a China considera parte de seu território. Segundo relatou o alto cargo estadunidense, o presidente chinês assegurou que” o assunto é potencialmente o mais perigoso dentre as relações bilaterais”. O líder também insistiu em que prefere a unificação pacífica e seu país não tem intenções, hoje por hoje, de tomar a ilha à força. Mas “passou imediatamente para as condições nas quais se poderia utilizar a força”.

O estado de Taiwan, sob o qual Pequim reivindica sua soberania e a quem Washington proporciona uma importante ajuda militar, segue sendo um dos principais pontos do problema. Joe Biden pediu a Xi que “respeite o processo eleitoral” e Xi Jinping, por sua vez, incitou Biden a “deixar de armar Taiwan” e falou de uma reunificação “inevitável”, segundo uma fonte diplomática chinesa.

Perguntando a respeito na comitiva de imprensa, Biden se limitou a responder que havia exposto a Xi que os Estados Unidos mantém sua política de Uma Só China, que para Washington significa que reconhece Pekin como o governo legítimo da China e considera a situação de Taiwan como algo não decidido. Também, segundo o presidente, ele havia pedido a Xi que respeitasse o resultado das eleições taiwanesas em janeiro. O governo de Xi prefere o triunfo do conservador Kuomintang, que vê com bons olhos as relações com o outro lado do estreito, e teme um triunfo, pela terceira vez consecutiva, do Partido Democrático Progressista (PDP), partidário da distância de Pequim.

Também chegaram a um acordo anti narcótico para tratar de frear a exportação de produtos químicos chineses que estão sendo usados no México por cartéis para fabricar o fentanil, uma droga sintética do tipo opióide que está matando cerca de 200 pessoas por dia nos EUA. A droga entra lá majoritariamente por sua fronteira sul, mas vem do gigante asiático boa parte dos componentes que os cartéis utilizam para sua fabricação. “Trabalhamos intensamente com cada elemento do sistema chinês em um plano em que a China utilizará uma série de procedimentos para ir contra empresas específicas que produzem precursores”, declarou Biden.

A diplomacia estadunidense

Os líderes compartilharam suas visões sobre o conflito na Palestina, na Ucrânia e em outras partes do mundo. No entanto, não se chegou a um acordo concreto quanto à crise climática, um dos temas sobre os quais mais se tinha expectativa, tendo em vista que China e Estados Unidos são os países que mais contaminam o mundo.

“Estou encantando com os passos positivos que demos hoje. E é importante que o mundo veja que estamos colocando em prática um enfoque na maior tradição da diplomacia estadunidense. Falamos com nossos competidores e essas discussões diretas ajudam a eliminar mal entendidos. Isso é chave para manter a estabilidade mundial e servir ao povo estadunidense. Nos próximos meses, manteremos e prosseguiremos a diplomacia de alto nível com a China em ambas as direções para manter abertas as linhas de comunicação. Inclusive entre o presidente Xi e eu. Concordamos que, se um de nós quiser falar com o outro, pegaríamos o telefone e ligaríamos imediatamente”, disse Biden.

O encontro era chave: China chega com uma economia debilitada, Estados Unidos com a pressão dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Próximo. A reunião teve como objetivo evitar que a rivalidade entre Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas mundiais, “se converta em um enfrentamento”, insistiu um alto funcionário que falou de forma anônima com os jornalistas que acompanharam o presidente estadunidense em sua visita a São Francisco para a cúpula com Xi e para o encontro anual do Fórum de Cooperação Econômica Ásia Pacífico (APEC).

É a primeira ocasião em que os dois líderes mantém contato direto desde que se viram cara a cara em novembro de 2022 em Bali (Indonésia) durante a reunião do G-20. Então concordaram em dar passos para reforças a debilitada confiança entre os dois países e relançar a relação bilateral mais importante do mundo, à deriva desde que a Administração do então presidente Donald Trump e Pequim impuseram tarifas de dezenas de milhares de dólares em produtos de seus respectivos países em 2018.

Com informações do RFI e do El Pais




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