Conheça o poema "O Amor" de Vladímir Vladímirovitch Maiakóvski (1893-1930) e feito canção por Caetano Veloso e Ney Costa Santos. Com certeza Maiakóvski, "poeta da revolução" que pensava seus poemas para serem declamados a milhões em praça pública, regozijaria por ver suas palavras serem cantadas a plenos pulmões para todo o Brasil na voz e interpretação de nossa enorme Gal Costa.
A letra é inspirada no epílogo do poema "Sobre isto":
O amor
Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.
– Vladimir Maiakóvski (1923)
Tradução de Haroldo de Campos do livro “Poemas de Maiakóvski”. São Paulo: Editora Perspectiva, 9ª ed., 2013.
Veja a interpretação de Gal Costa da composição de Caetano Veloso e Ney Costa Santos, inspirada no epílogo de Maiakóvski.
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