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Caso Mari Ferrer | Judiciário prova novamente que é machista ao condenar jornalista do Caso Mari Ferrer à prisão

Frente ao 25N, dia internacional de combate à violência contra à mulher, um novo capítulo asqueroso do Caso Mari Ferrer vem à tona. Agora, é a jornalista Schirlei, responsável por expor o horror ao qual Mari foi submetida em seu julgamento, que foi condenada à prisão e pagamento de multa.

Tassia ArcenioProfessora e assistente social

quinta-feira 16 de novembro de 2023 | Edição do dia

A juíza Andrea Cristina Rodrigues Studer, da 5ª Vara Criminal de Florianópolis (SC), condenou a jornalista Schirlei Alves, autora da reportagem que publicou o vídeo que revela que Mari Ferrer foi agredida psicologicamente e verbalmente, pelos presentesna audiência em que ela era a vitima e acusava o então absolvido, o empresário André de Camargo Aranha de estupro. Aranha é filho de Luiz Camargo Aranha Neto, advogado de nada menos que a Rede Globo.

A pena para Schirlei é de um ano de detenção em regime aberto e multa. Ela foi condenada a pagar 200 mil reais ao promotor Thiago Carriço e a mesma quantia ao juiz Rudson Marcos, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, a título de reparação individual.

Durante o julgamento, o advogado de André de Camargo, Cláudio Gastão da Rosa Filho,que não por acaso, também é defensor da reacionária Sara Winter e era admirador declarado do finado bolsonarista Olavo de Carvalho, para defender o acusado recorreu a informações da vida pessoal de Mari Ferrer, buscando assim, humilhar e agredir a jovem, a fim de “justificar” a ação odiosa e detestável do empresário André de Camargo.

Também na audiência, o promotor Thiago Carriço alegou que não teria como o empresário saber que a influenciadora estava em condições de consentir ou não a relação sexual. Foi diante destes argumentos, que Schirlei nomeou a tese do advogado e do promotor de “estupro culposo”, escancarando o absurdo machista do que estavam defendendo, e é por usar esse termo, que a juíza a condenou.

Já o juiz Rudson Marcos, que teria sido difamado segundo a juíza, durante o julgamento de Mari e após ela dizer: “Excelentíssimo, eu estou implorando por respeito, nem os acusados, nem os assassinos são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, se limitou a pedir apenas para que os presentes mantivessem o “bom nível”, sendo conivente com a violência ali praticada.

Ao contrário da descabida condenação da jornalista, o juiz Rudson recebeu apenas uma advertência e os outros envolvidos seguem impunes.

Esse novo capítulo asqueroso do Caso Mari Ferrer escancara mais uma vez, o privilégio do judiciário e sua cara machista, que sabemos, é também racista, lgbtfóbica e profundamente anti-operária. A condenação, feita por uma juíza, revela inclusive, que não basta ser mulher para ser parte da batalha contra a opressão de gênero: a classe social ou a quem serve seu trabalho e conhecimento é fundamental para saber quem são os aliados das lutas das mulheres.

Enquanto vivermos no capitalismo não será o último caso em que a justiça demonstra seu caráter machista, defende agressores e estupradores, ataca mulheres, negros, LGBTQIA+ e demais setores oprimidos e explorados.

A justiça brasileira, nesse país em que uma mulher é estuprada a cada 8 minutos, é inimiga histórica das mulheres, dos negros e trabalhadores. É a mesma justiça que mantém quase um milhão de presos em condições miseráveis e desumanas de superlotação, em que quase 50% segue sem julgamento e 65% são negros. É a mesma justiça que fecha os olhos pros milhares de negros, muitos jovens e crianças, mortos pela polícia nas favelas.

É o judiciário que a cada mobilização operária, ataca o direito de greve como fez com os metroviários de São Paulo e de Recife ou com as trabalhadoras da saúde do Rio Grande do Norte e da educação de Pernambuco. É a justiça que ataca o direito ao aborto, que mantém trabalhadoras em condições análogas à escravidão e condena menos de 5% dos empresários acusados de trabalho escravo.

Para arrancar justiça a cada mulher violentada, a cada um de nossos mortos pela violência policial e vítimas do racismo estrutural, a cada trabalhador que tem seus direitos cotidianamente arrancados pelos patrões e governos, não podemos confiar no judiciário. Nossa luta não pode ter confiança nenhuma nessa instituição do Estado, precisa ser contra ela! O capitalismo e o patriarcado conformam uma histórica aliança para garantir a máxima extração de lucro, fazendo com que mulheres negras recebam salários 60% menores que homens brancos na mesma função, tomando medidas que inocentam empresários e burgueses, como é o caso de André de Camargo.

Seguiremos lutando por justiça para Mari Ferrer, por Schirlei e por todas as vítimas da violência machista, e também contra o autoritarismo do judiciário que cada dia avança mais contra nossos direitos democráticos, trabalhistas e de vida, que legitimou e apoiou os ataques de Bolsonaro e agora, com o apoio da frente ampla do governo Lula-Alckmin, mantém todas as reformas e prepara mais ataques, como no caso das privatizações.

Isso precisa ser parte de lutar contra o patriarcado e contra todo o sistema capitalista, batalhando por uma saída da classe trabalhadora, das mulheres, negros, indígenas, LGBTQIA+. É nesta perspectiva que devemos nos organizar pela base, em cada local de estudo e trabalho, para tomar às ruas com nossas bandeiras no próximo 25N.




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