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Prioridades | Atacadas por todos os governos, educação e ciência deixaram de receber 117 bilhões em 10 anos

Escancarando as prioridades dos governos da última década, dados do Observatório do Conhecimento, baseados em informações do próprio Ministério do Planejamento, demonstram que o orçamento federal para o ensino superior e ciência no país diminuiu R$ 117 bilhões desde 2014.

Tassia ArcenioProfessora e assistente social

quinta-feira 14 de dezembro de 2023 | Edição do dia

Destinos de constantes ataques, as áreas da educação e da ciência, têm ano após ano visto seus investimentos serem sucateados pelos governos federais. A previsão para 2024 é de 19,07 bilhões de reais em investimento, segundo a rede que reúne associações de docentes de universidades de todo o país.

Em 2014, esse valor era de 38 bilhões de reais, e longe de ser o ideal e de ser investido para garantir universidade pública gratuita, diversa e laica para todos - assim como uma ciência que produza seu conhecimento para libertação das amarras da classe trabalhadora -, a diferença de valores expõe o abismo no qual foram jogadas a educação e a ciência no Brasil do golpe.

O pior valor registrado foi em 2021, no governo de Bolsonaro, que declarou a educação como sua inimiga principal. Naquele ano, foram investidos 15,8 bilhões. Foi também durante o governo golpista da extrema-direita, que projetos privatistas como o Future-se foram colocados em pauta.

Durante o governo golpista de Temer e depois de Bolsonaro, uma série de ataques à educação e à ciência foi realizada em todos os níveis. Tentativas de confisco das verbas da educação, de cortes de bolsas, de impor a reforma do ensino médio, escolas militares, e de acabar com a pesquisa, com o conhecimento científico e com as universidades federais de forma sistemática, afetando estudantes pobres e trabalhadores terceirizados em primeiro lugar.

Além disso, foram anos de ofensiva ideológica contra a educação e a ciência, propagando todo tipo de absurdo contra trabalhadores das áreas que produzem conhecimento. A exemplo disso, segue Tarcísio, governador de São Paulo, cortando mais de nove bilhões da educação no estado.

Apesar do cenário catastrófico que a extrema-direita deixou, a educação e a ciência não parece ser uma prioridade do governo da frente ampla de Lula-Alckmin, uma vez que, para ao menos repetir o orçamento de 2014 em 2024, seriam necessários mais R$ 86 bilhões para compensar as perdas que ocorreram entre 2015 e 2023 —que somam R$ 117 bilhões, pelos valores corrigidos.

Segundo o estudo do Observatório, são as universidades federais e a CAPES que levam a queda orçamentária. São destinados às 69 universidades federais do país em 2024, R$ 6,85 bilhões —R$ 900 milhões a menos do que em 2023. Isso significa menos da metade (44%) do que a rede federal tinha disponível em 2014, quando havia 10 instituições de ensino a menos para dividir o recurso e já não era suficiente.

Já o Pnaes (Programa Nacional de Assistência Estudantil) terá 190 milhões a mais do que o previsto para este ano. Ainda assim, continua insuficiente para o atendimento da demanda. Em 2015, ano com o pico de recursos para a área, chegou a 1,48 bilhões reais e em 2024, o valor previsto é de 1,27 bilhões.

Em outras palavras, isso significa que os 70% dos estudantes das universidades federais que precisam de políticas de permanência para seguir estudando não serão plenamente atendidos.

Já a Capes, que foi alvo de grande demagogia do novo governo, quando aumentou as bolsas de mestrado e doutorado, terá verba de 120 milhões de reais a menos que em 2023.

Não só não há a recomposição de verbas necessárias para que a educação e a ciência consigam garantir seu funcionamento pleno, como ainda existem ataques em cursos, como o arcabouço fiscal, cortes na Capes e “reforma da reforma” do NEM.

Enquanto isso, o governo Lula-Alckmin financia políticas privatistas em diversos estados do país, banca o maior plano Safra da história para o agronegócio e segue o pagamento da fraudulenta dívida pública.

Para defender a educação e a ciência, a juventude e os trabalhadores precisam entrar em cena. É preciso lutar pela revogação do arcabouço fiscal, que é um verdadeiro novo teto de gastos, e pelo não pagamento da dívida pública, impondo nas ruas que o orçamento possa ser direcionado para a educação, saúde, moradia e para as necessidades dos trabalhadores e da população.

Segue urgente a construção de um plano de lutas capaz de derrotar o arcabouço, mas também revogar completamente o novo ensino médio e reverter todo esse acúmulo de cortes bilionários na educação pública e na ciência dos últimos nove anos.

É necessário articular desde as bases em cada universidade do país, uma exigência a UNE e em cada local de trabalho, exigência às direções sindicais pela construção desse plano de lutas, construído através de assembleias com voz e voto para todes, onde se possa discutir democraticamente qual melhor caminho seguir para reverter todos os ataques.

Para batalhar pelo direito de estudar, de pesquisar e produzir conhecimento, é essencial se organizar com total independência política em relação ao governo, ao regime político, e também às reitorias, articulando uma forte aliança entre estudantes e trabalhadores da educação e da ciência, efetivos e terceirizados, que possam batalhar também pelo fim do filtro social e racista do vestibular e por uma ciência e universidades que produzam conhecimento para fortalecer a luta da classe trabalhadora.




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