Em nota divulgada pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior), ela afirma que o programa será retomado com o foco para o ensino de línguas para jovens do Ensino Médio e pesquisa no âmbito da pós-graduação, e que as bolsas em curso serão cumpridas.
A Capes, uma das fontes de financiamento do Ciência Sem Fronteiras, declara também que os cortes estão sendo feitos porque o governo interino considera alto o custo das bolsas. “Um aluno no programa custa na média R$105 mil por ano. O governo gastou no ano passado com 35 mil bolsistas [R$3,7 bilhões], o equivalente a todo o investimento em merenda escolar, para cerca de 40 milhões de estudantes”, diz o Ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM) - o mesmo que é contra as cotas e que recebeu Alexandre Frota para opinar sobre a educação. Essa afirmação é um eco de outras posições do governo golpista de Temer e seus ministérios, como a proposta de emenda constitucional que bota em discussão o pagamento de mensalidades nos programas de pós-graduação de todas as universidades públicas brasileiras.
Além do corte de gastos, a interrupção da abertura de vagas para bolsas no Ciência Sem Fronteiras significa que o progresso científico que sacie as demandas da indústria não é alcançado com as bolsas para a graduação, por isso o enfoque nas bolsas para a pós-graduação. As investidas do governo Temer significam uma continuidade e aprofundamento de projetos diretamente neoliberais, diante das implementações privatistas que tiveram início no governo Dilma, como o corte de R$10 bilhões da educação só em 2015.
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, diz que “é triste que isso aconteça, mas é necessário. Estamos no meio de uma crise financeira, temos que manter o programa de iniciação científica que já existe no país. Prefiro manter essas bolsas com mais recursos e esperar a saída da crise para poder voltar com a internacionalização.Temos que saber o resultado dessas 80 mil bolsas antes de colocar mais 80 mil. Principalmente em uma época em que estamos cortando bolsas no país”.
Por outro lado, o corte das bolsas da graduação só revela a lógica produtivista da própria origem do Ciência Sem Fronteiras. Se o objetivo inicial de produzir e trazer novas tecnologias para a indústria não é cumprido, as bolsas que dão "prejuízo" nessas normas são cortadas. Assim como não há o incentivo para os cursos de ciências humanas, linguagem e artes, porque são produções científicas e artísticas que não geram lucro.
Ou seja, apesar das contradições que o programa traz desde a sua fundação, ainda sim é um ataque à educação pública e aos direitos dos estudantes de conhecer outras pesquisas, outros lugares de estudo, a chance para que os estudantes complementem sua formação profissional no exterior, da expansão do conhecimento, do idioma e da cultura além da muralha que a indústria constrói em torno da tecnologia.
Guilherme Zanni, estudante de Matemática da Unicamp, opina que "o corte no ciências sem fronteiras é mais um ataque à educação, apesar dos problemas do programa (com critérios puramente meritocráticos). O discurso de que é necessário cortar de um lugar para botar em outro, além de não ser levado a sério pois sabemos que o dinheiro cortado não vai ser integralmente investido em algo do interesse da população, não é a solução para os problemas da educação nem de qualquer outra área. É necessário que se pare de gastar quase metade do PIB com o pagamento da dívida pública e invista de fato em educação e saúde".
Assim, enquanto há cortes profundos aplicados pelo governo golpista à educação, corte de bolsas generalizado como orientação para todo governador, reitor e dirigente de ensino, estímulo à privatização do ensino público e ao senso produtivista, Temer preza pelo pagamento da dívida que tem com os banqueiros e empresários brasileiros e internacionais, a chamada dívida pública, a partir dos impostos cobrados da população. Além disso, segue dando voz a reacionários como Alexandre Frota, fortalecendo projetos como o Escola Sem Partido que só servem para cada vez mais retirar do jovem a capacidade e poder de questionamento.
A luta pela educação é a luta pelo não pagamento da dívida pública e para que 10% do dinheiro público seja revertido para a educação já. Devemos tirar o dinheiro das mãos do governo golpista de Temer e seus empresários para barrar os ataques de corte de bolsas e colocar nas mãos de jovens e trabalhadores que sabem, de fato, construir educação pública de qualidade.
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