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UNICAMP
Nosso conhecimento não pode servir a um estado assassino: Pela ruptura das relações da Unicamp com as universidades israelenses!
Ana Vitoria Cavalcante
Brenda Brossi

Como diversas outras universidades do país, a Universidade Estadual de Campinas mantém acordos de cooperação com centros de ciência israelense que estão intimamente conectados com o regime de apartheid que o Estado sionista de Israel estabelece contra a população palestina. Como parte des estudantes da Unicamp e militantes da Faísca Revolucionária, este texto é um chamado a todas as organizações de esquerda, movimentos sociais, ativistas, entidades estudantis e sindicatos da Unicamp a se somarem em uma campanha pela ruptura imediata de todas as relações de nossa universidade com Israel, sem nenhuma confiança no governo Lula-Alckmin que mantém todas as relações com este Estado colonial assassino.

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Estamos acompanhando nas últimas semanas uma escalada do conflito na Faixa de Gaza. Longe de ser uma guerra no geral, trata-se de um genocídio, e um processo imperialista de limpeza étnica do povo pelestino. A brutalidade dos acontecimentos têm chocado o globo, já passam de mais de 11 mil mortos, entre eles crianças e idosos, com bombardeios em campos de refugiados e hospitais. As manifestações contra esse genocídio e em solidariedade ao povo palestino cresce, com a juventude e os trabalhadores às ruas em diferentes países ao redor do mundo lutando pelo rompimento das ligações e exportações bélicas com Israel e pelo cessar fogo.

A ligação Brasil-Israel não é nova, se inicia nos primeiros governos do PT e se aprofunda com o governo de extrema direita de Bolsonaro, com o estreitamento das relações com o governo de Benjamin Netanyahu. A frente ampla de Lula-Alckmin, para manter relações e preservar interesses, se esquiva de declarar apoio ao povo palestino e romper as ligações com o Estado sionista. Lula, em suas declarações pacifistas praticamente iguala a ação do Hamas à limpeza étnica israelense na cadeira temporária no Conselho de Segurança da ONU, e somente após um mês do massacre em curso na Faixa de Gaza, Lula falou de Israel nominalmente, ainda se abstendo em nomear claramente o Estado sionista e Netanyahu como responsáveis pelo massacre criminoso contra os palestinos.

É neste cenário absurdo que a Unicamp mantém relações com instituições israelenses. Na gestão da reitoria anterior de Marcelo Knobel, já era clara a aproximação da Unicamp com esse setor sionita, promoveu a “Jornada de Inovação Brasil-Israel”, em fevereiro de 2019. É tão destacado o nível da aproximação, que a reunião contou até mesmo o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Dori Goren e Prof. Peretz Lavie, presidente do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) em Haifa. De acordo com o site oficial, a “pergunta que permeou este evento” foi: “Como uma nação [Israel], cuja história é repleta de adversidades e desafios, se torna a nação mais conhecida globalmente por seu modelo de criação de startups?”. O presidente do Technion, no evento, afirmou que “o patamar israelense de desenvolvimento econômico e tecnológico” tem cinco fatores, dentre eles está o DNA israelense, com seu perfil questionador e de pessoas que acreditam em tomar riscos em prol da busca pelo sucesso; o segundo fator é a “necessidade”, afirmou, descrevendo o país como uma região de extrema adversidade ambiental, permeada por grandes desertos e por conflitos armados. A qualidade dos recursos humanos foi o terceiro fator destacado. Lavie contou sobre o treinamento militar obrigatório a todos os israelenses e de como este período auxilia na maturidade dos jovens, sem tirar seu perfil questionador. O docente também falou sobre os fluxos imigratórios em Israel, marcados por ondas de imigração de pessoas “altamente qualificadas, que auxiliam a promover um perfil diverso de recursos humanos, importante para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia", mascarado o caráter assassino desse Estado assassino.

Vale destacar que o alto desenvolvimento tecnológico israelense se deu em cima de fortes investimentos imperialistas, o que também permitiu que essas tecnologias fossem testadas nos corpos de palestinos durante todos esses anos. Além disso, em sua palestra, o cônsul-geral de Israel continuou a afirmar que “Brasil e Israel não são países que competem, mas sim países que se complementam. Já existem projetos de cooperação entre os dois países, mas é possível ampliar esse cenário”.

Na atual gestão de Tom Zé, vê-se que existe essa busca de aprofundar as relações, desde o início deste ano, a Unicamp tem buscado se aproximar de instituições de ensino superior de Israel. Em abril, teria sido realizada a IV Feira das Universidades Israelenses que visava criar uma plataforma de conexão com estudantes interessados em estudar/estagiar em Israel. A feira nunca se concretizou pela força des estudantes, que realizaram um ato em defesa do povo palestino. Deixando claro que não se trata de ir contra o intercâmbio científico, como quis fazer parecer a reitoria, mas sim de demonstrar que, por trás desses eventos, empreendia-se uma propaganda do Estado de Israel.

Todavia, mesmo com uma expressão de rechaço por parte des estudantes, no mês seguinte ocorreu uma reunião visando essa aproximação entre a Unicamp e estas instituições. Em maio, novamente o cônsul-geral de Israel em São Paulo foi recebido pelo reitor e pela coordenadora-geral da universidade. De acordo com a matéria oficial, se iniciou com um pedido de desculpas por parte de Tom Zé e da coordenadora-geral. “O reitor, Prof. Dr. Antonio Meirelles pediu desculpas ao cônsul pelos incidentes registrados no dia 3 de abril, no campus de Barão Geraldo, quando uma feira, que pretendia apresentar universidades israelenses a estudantes brasileiros, foi impedida de ser realizada por conta de protestos”.

O discurso que fundamenta a presença do sionismo em nossa universidade conta com elementos de argumentação semelhantes aos da direita, que em prol de uma “democracia desregulada”, busca equiparar a mobilização da frente palestina e des estudantes com uma ameaça à liberdade de expressão e do intercâmbio de conhecimento. Um grande malabarismo para defender a abertura de inquéritos policiais e perseguição contras es estudantes que lutaram. De acordo com a matéria, “Antes de qualquer manifestação, queremos pedir desculpas pelo ocorrido”, disse o reitor ao cônsul. “Podemos ter pessoas na comunidade com alguma dificuldade para conviver com a liberdade de expressão, mas a Unicamp, como instituição, preza pela democracia e vai trabalhar para garantir a livre circulação de informação e de conhecimento”, afirmou. A coordenadora-geral da Unicamp também condenou os atos de violência que impediram a realização da feira. “A democracia, a liberdade de expressão e a liberdade de ensino são os pilares da nossa Universidade”, disse ela. “Não podemos aceitar esse tipo de atitude em relação a uma atividade acadêmica”, acrescentou.

Se escancara o nível de relações que a Unicamp mantém e deseja seguir com as instituições israelenses, quando mesmo ao soltar uma nota pelo fim do cessar fogo em Gaza segue com com as perseguições aos estudantes que se colocaram contra a feira israelense, mostrando a demagogia que a reitoria leva esse tema. O próprio reitor lembrou, ainda, que um boletim de ocorrência foi registrado na polícia civil para a abertura de um inquérito policial. Além disso, afirmou, "uma investigação interna foi instaurada na Unicamp para apurar se houve a participação de membros da comunidade acadêmica no episódio.”

Todo o malabarismo para se desculpar do “mal comportamento” de alguns setores da universidade, esconde uma legitimidade do Estado sionista, que parte inclusive de mostrar com bons olhos a abertura de inquéritos policiais contra es estudantes. Mas, se a reitoria insiste em omitir quais são as intenções, e para onde ela busca rifar o conhecimento produzido, vale retomar alguns pontos do texto publicado no período, que ajuda a mensurar o nível de aproximação dessas universidade com o horror genocida que está avançando, retomo o nome das Universidades já citadas no texto e outras que seriam divulgadas na feira que buscava o intercâmbio de alunos, professores e pesquisadores da Unicamp, como a Universidade Bar Ilan, Universidade de Haifa, Universidade Hebraica de Jerusalém, Universidade de Tel Aviv e Technion – Israel Institute of Technology.

“O Instituto de Estudos de Segurança Nacional que é responsável pelas questões “militares e estratégicas, terrorismo e conflito de baixa intensidade, equilíbrio militar no Oriente Médio e guerra cibernética”, é filiado à Universidade de Tel Aviv e se desenvolve a partir desses estudos. Já o importante Instituto de Tecnologia de Israel, o Technion, que está na Palestina desde 1912, tem parceria com a Elbit Systems Ltd., uma das maiores empresas de armamento israelita, e desenvolve tecnologias e engenharia de atordoamento em massa, como por exemplo “o ’Scream’ é um sistema acústico ’não letal’ que ’cria níveis sonoros insuportáveis para os humanos a distâncias até 100 metros”, usado na repressão de manifestações nos territórios palestinos. A Universidade Bar-Ilan, fundou um campus em Ariel, um assentamento israelense ilegal no centro da Cisjordânia, além de desenvolver em conjunto com o exército uma inteligência artificial voltada à veículos de combate não tripulados. O processo de limpeza étnica palestina é relacionado à Universidade Hebraica de Jerusalém, que “levou à despossessão e desterro de centenas de famílias palestinas para expandir-se para a parte oriental desta cidade palestina [desde] 1968”. Por fim, a Universidade de Haifa colaborou no desenvolvimento do Bulldozer D9 Telecomandado, utilizado na destruição de construções palestinas, principalmente casas de civis. Entre 2008 e 2013, Haifa teve parceria com a Elbit System Ltd., fornecendo dispositivos de detecção para serem implantados no muro da Cisjordânia e drones ao exército israelita, usados em combates na Cisjordânia e em Gaza.”

Neste contexto, o desenvolvimento bélico israelense tem se vinculado cada vez mais com as universidades. Essa alta tecnologia bélica que é testada em corpos palestinos, ao mesmo tempo que fornecem novos produtos de exportação, inclusive no nosso país. O Brasil se configura entre um dos maiores compradores desses produtos táticos e militares. A principal empresa de armamentos israelenses é a Elbit Systems Ltd. já mencionada anteriormente. A Elbit é dona de três empresas de armas brasileiras (AEL, Ares Aeroespacial e a Defesa SA). As relações entre Brasil-Israel têm como pilar a exportação de armas e o treinamento do BOPE.

Na universidade produzimos ciência, pesquisa e tecnologia que deve estar a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre, não do capital privado, sionismo e genocídio da população negra periférica e do povo palestino, como quer a reitoria que se sustenta por uma estrutura de poder antidemocrática, que tem como órgão deliberativo o Conselho Universitário (CONSU), em que nós estudantes, que somos maioria na universidade, temos apenas 15% de cadeiras, seguidos de 15% de trabalhadores efetivos, e 70% para professores, onde es terceirizades sequer tem voz, enquanto até a FIESP sionista tem cadeira. Por isso, nós da Faísca Revolucionária lutamos por uma universidade gerida por um governo tripartite, com estudantes; trabalhadores - terceirizades e efetivos; e professores, de acordo com seu peso na realidade.

A Unicamp é uma universidade de excelência e de referência social, uma das mais importantes da América-Latina. Para além de um curto post nas redes sociais, devemos exigir que a reitoria rompa qualquer relação, acordo ou intenção com Israel, se colocando ao lado da defesa do povo palestino e de uma campanha de solidariedade, defendendo o cessar-fogo imediato contra o genocídio, a desocupação imediata de Israel do território palestino, a libertação dos prisioneiros palestininos e a quebra de todos os acordos militares e institucionais com Israel. Não somente na Unicamp, mas também do governo Lula. A ligação Brasil-Israel não é nova, foi fortalecida pelo bolsonarismo e mantida pela frente ampla de Lula-Alckimin. O sionismo paulista de Tarcísio, que implementa a política do Republicanos, representante do setor financeiro e empresariado de São Paulo.

É urgente que a comunidade universitária se unifique em uma forte campanha de exigência à Unicamp para romper relações com o Estado de Israel. Apenas a aliança entre es estudantes, es trabalhadores, movimentos sociais e comunidades de imigrantes e refugiados, é capaz de superar o pacifismo frenteamplista que está sendo conivente com Israel e varrer o sionismo das universidades e do país. Nós da Faísca Revolucionária, chamamos todas as organizações de esquerda, movimentos sociais, ativistas, entidades estudantis, STU e Adunicamp a se somarem em uma campanha pela ruptura imediata de todas as relações de nossa universidade com Israel! Sem nenhuma confiança no governo Lula-Alckmin que mantém todas as relações com este Estado colonial assassino.

 
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