×

SECS 2022 | Semana de Ciências Sociais da USP irá debater os 10 anos das cotas raciais

A SECS, semana de Ciências Sociais da USP, a qual tem como tema este ano: “10 anos de cotas: raça e desigualdade, estrutura e política’’, acontecerá dos dias 21 ao 25 de novembro na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFLCH).

Julia CardosoEstudante de Ciências Sociais da USP

quarta-feira 9 de novembro de 2022 | Edição do dia

"A história revolucionária dos negros é rica, inspiradora e desconhecida. Negros se rebelaram contra os caçadores de escravos na África, se rebelaram contra os comerciantes de escravos no Atlântico. Rebelaram-se nas plantations. (...) O único lugar onde os negros não se rebelaram é nos livros de historiadores capitalistas"

A SECS é organizada por estudantes de Ciências Sociais da FFLCH-USP e visa promover uma série de mesas, debates e rodas de conversa para discutir os mais variados temas que circundam o papel dos cientistas sociais e da intelectualidade frente ao cenário de conjuntura nacional.

No presente momento, estamos frente ao resultado das eleições presidenciais que significou a derrota eleitoral para o poder executivo de Bolsonaro, mas que de longe não significou a derrota do bolsonarismo, que segue vivo e atuante, conforme pudemos ver nas últimas ações de bloqueios e nas manifestações com um conteúdo diretamente pedindo intervenção militar. Sendo este cenário colocado, a semana da Ciências Sociais expressa uma importância ainda maior, pois, é uma oportunidade para debatermos o tema das cotas raciais, tão atacadas pela direita, a estrutura racial brasileira, e ligado a isso, discutirmos o caminho para enfrentar a extrema-direita.

Somado a isso, o ano de 2022 também é o ano de prazo da lei de cotas raciais que foi sancionada em 2012, porém, aplicada à Universidade de São Paulo (USP) apenas em 2018. Além disso, é importante dizer que as cotas raciais na USP não foram concedidas passivamente pelo sistema parlamentar, mas sim, foram alcançadas graças à forte mobilização dos estudantes, trabalhadores e professores desta universidade.

A discussão das cotas raciais está ligada a uma variedade de assuntos, os quais precisam ser debatidos nesta semana, tal como o trabalho precarizado e a estrutura racial e de gênero.

Sobre a precarização do trabalho: as cotas raciais em si mesmo versam sobre o acesso dos jovens negros à educação gratuita, mas sobre isso é importante lebrarmos que os negros, especialmente as mulheres negras, já estavam na universidade antes das cotas, porém, ocupando os postos de trabalho mais precários. E hoje, são esses mesmos trabalhos precarizados que estão reservados à juventude negra que está dentro e fora da universidade, inclusive, tal precarização foi potencializada pela uberização do trabalho, principalmente, a partir dos apps - tal qual o ifood e seus derivados - sendo que estes aplicativos são criação da própria universidade. Ou seja, o papel que a universidade muitas vezes cumpre, é de precarizar a vida da juventude ao invés de estar a serviço de atender suas demandas.

Frente a isso é importante vermos que a defesa intransigente das cotas raciais, deve estar ligada a uma batalha para que o acesso a universidade possa ser universal, ou seja, uma batalha pelo fim do filtro social e racial do vestibular, que segue excluindo amplíssimos setores da juventude negra todos os anos.

Dentro do papel dos cientistas sociais está a tarefa de analisar as questões da sociedade a partir de uma perspectiva ampla, se debruçando sobre as dimensões estruturais dos fenômenos sociológicos, antropológicos e políticos. É nesse sentido que se coloca a estrutura racial e de gênero sobre a política de cotas. Isso porque, entendemos, a partir de uma visão marxista, que há uma diferenciação entre opressão e exploração, sendo que no campo das opressões entram as dimensões raciais e de gênero, as quais são utilizadas pelo sistema capitalista para estabelecer relações sociais que dividem a nossa classe. Enquanto que a exploração, estabelece uma relação econômica entre as classes burguesia e proletariado, sendo a partir desta última relação que o sistema busca extrair cada vez mais capital. Em vista disso, que o sistema capitalista combina a opressão e exploração, para extrair ainda mais capital trabalho a partir da precarização dos mesmos e também extrair capital com a dupla tripla jornada reservada às mulheres negras, graças à estrutura racial-patriarcal em que o capitalismo se apoia.

Abordar as cotas a partir desta visão ideológica é importante, pois, também se trata de debatermos nos termos da Sociologia do Trabalho como que a classe trabalhadora brasileira se construiu para que cheguemos ao ponto de a universidade pública estar fora do horizonte de grande parte da juventude negra.

É neste sentido que entra a importância fundamental de debater os 10 anos de cotas neste momento. A Semana contará com uma série de mesas que irão buscar debater os mecanismos estruturais que garantem a opressão racial na sociedade brasileira, aspecto fundamental de debate entre cientistas sociais neste momento.

A política de cotas raciais deve ser expandida na medida em que a grande parte dos filhos da classe trabalhadora continuam de fora da universidade pública, e mesmo aqueles que conseguiram entrar nela estão ocupando trabalhos precários para concluir a graduação, e que para além de promover um direito básico - direito de estudar sem pagar - que deve ser de todos, a entrada de toda juventude nas grandes faculdades é fundamental no que diz respeito ao papel que intelectualidade deveria estar cumprindo que é o de produzir ciência para a classe trabalhadora e seus problemas, e não para enriquecer a burguesia. E mais, com a classe trabalhadora e os povos oprimidos estando na universidade, é possível utilizar da intelectualidade como um mecanismo de compreender e atuar na realidade, visando transformá-la, tal qual é o próprio papel dos cientistas sociais.

Com esse sentido que defendemos para além das cotas raciais, o fim do vestibular, pois, apenas com o fim desse filtro social e racial que toda a juventude terá acesso pleno à educação de qualidade.

Porém, sobre isso é fundamental salientar que para que o fim do vestibular seja concedido será necessário uma forte mobilização dos estudantes unidos aos trabalhadores e professores. Então, é nesse sentido que convocamos e reforçamos a importância dos todos os estudantes se colocarem como parte de construírem a Semana de Ciências Sociais para debatermos sobre todas questões levantadas acima e também para construírem o Movimento Estudantil, pois, vemos que é apenas com a força da nossa mobilização que é possível combater os ataques à educação e derrotar o crescimento da extrema-direita.

Confira o evento:




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias