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Repressão na Rússia | Putin ordenou a "mobilização parcial" dos reservistas

O presidente russo disse que a medida visa proteger a soberania e a integridade territorial. Cerca de 300 mil reservistas seriam afetados, o dobro do número mobilizado no início da invasão.

quarta-feira 21 de setembro de 2022 | Edição do dia

Em um discurso nesta quinta-feira, 21, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou seu apoio à proposta do Ministério da Defesa e do Estado Maior de realizar "mobilizações parciais" na Federação Russa.

As atividades de mobilização terão início hoje, 21 de setembro. Conforme apontado pelo The Washington Post, esta seria a primeira mobilização parcial na Rússia desde a Segunda Guerra Mundial.

O presidente considerou a medida necessária porque as tropas russas "não estão apenas enfrentando as formações neonazistas na Ucrânia, mas toda a máquina militar do Ocidente".

Leia mais: Escalada na guerra da Ucrânia, mobilização de novas tropas e ameaças nucleares por Putin

A medida gerou enorme expectativa na população russa. Alguns protestos são vistos em Petersburgo, Moscou e em algumas províncias. As companhias aéreas informaram que as passagens para destinos que não necessitam de visto para cidadãos russos esgotaram rapidamente.

Putin especificou que apenas "os cidadãos que estão na reserva, e especialmente aqueles que serviram nas Forças Armadas, têm certas especialidades militares e experiência relevante" estarão sujeitos ao serviço militar, estimado em cerca de 1% da capacidade total de mobilização da Rússia.

O decreto também prevê medidas adicionais para o cumprimento da ordem de defesa estatal. Os chefes das empresas da indústria de defesa são diretamente responsáveis ​​por resolver as tarefas de aumentar a produção de armas e equipamentos militares e implantar capacidades de produção adicionais.

Esta medida de "mobilização parcial" foi anunciada no quadro de outras medidas que apontam para uma escalada do conflito. Entre eles, o apoio aos referendos anunciados pelos líderes pró-russos da região de Donbass que colocarão na mesa a integração desta região com a Rússia, cuja defesa é o objetivo original declarado da invasão russa.

A estratégia de integração de territórios anexados eleva a aposta da resposta russa à localização ofensiva implementada por Kiev nas últimas semanas. Muitos analistas indicaram que abre as portas para a mobilização dos reservistas, que foi parcialmente decretada hoje, mas pode ser ampliada.

Nesse sentido, foram as palavras de Putin que acusaram Washington, Londres e Bruxelas de pressionar Kiev “a transferir ações militares para nosso território. Eles agora falam abertamente que a Rússia deve ser esmagada com todos os meios no campo de batalha, com a consequente perda de toda a soberania, política, econômica e cultural, com o saque completo de nosso país".

Outra consequência destacada por vários analistas é que abre a possibilidade do uso de armas nucleares pela Rússia, ainda que tática, naqueles territórios que hoje estão no centro da ofensiva ucraniana. Essa possibilidade se baseia na doutrina russa de reservar o direito de usar seu arsenal nuclear "em caso de agressão contra a Federação Russa com armas convencionais, ou em caso de ameaça à própria existência do Estado", possibilidade levantada pelo ex-presidente Dmitri Medvedev no Telegram.

Putin também respondeu à agitação da "ameaça nuclear" do Ocidente, e denunciou o uso de "chantagem nuclear", "Estamos falando não apenas do bombardeio da usina nuclear de Zaporizhia, incentivado pelo Ocidente, que ameaça uma catástrofe nuclear, mas também das declarações de alguns representantes de alto escalão dos principais estados da OTAN sobre a possibilidade e admissibilidade de usar armas de destruição em massa contra a Rússia: armas nucleares". E lembrou "aqueles que se permitem fazer tais declarações sobre a Rússia" que "nosso país também tem vários meios de destruição, e para alguns componentes mais modernos que os dos países da OTAN. E se a integridade territorial do nosso país estiver ameaçada, certamente usaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e nosso povo. Não é um blefe."

repercussões

A repercussão nos líderes ocidentais foi bastante homogênea ao interpretar as ações de Moscou como sinais de fraqueza.

A embaixadora dos EUA em Kiev, Bridget Brink, disse no Twitter que "a farsa dos referendos e da mobilização são sinais de fraqueza e fracasso russo" e acrescentou que seu país continuará "apoiando a Ucrânia pelo tempo que for necessário".

Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, descreveu a medida como "desesperada" e considerou "mais uma prova de que Putin não está interessado na paz, que está interessado em escalar sua guerra de agressão".

O ministro alemão da Economia, Robert Habeck, garantiu à Ucrânia "todo o nosso apoio nestes tempos difíceis", após este "novo passo sério e errôneo" da Rússia.

Entretanto, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros britânico, Gillian Keegan, reagiu pedindo calma, em declarações à rede Sky News, mas salientando que o discurso de Putin deve ser levado "muito a sério". Esta é "obviamente uma escalada e, claro, agora o povo russo será recrutado para esta guerra" na Ucrânia, enfatizou. Keegan também insistiu que o Reino Unido ajudará o povo ucraniano "tanto quanto pudermos".

O rumo que a guerra na Ucrânia está tomando torna cada vez mais evidente seu caráter completamente reacionário. Mais do que nunca, o movimento operário na Europa deve adotar uma posição de classe, independente da Rússia e da política reacionária de Zelensky/OTAN e rejeitar esta guerra.




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