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Fraude nos óbitos | Prevent Senior ocultou mortes em estudo apoiado por Bolsonaro sobre hidroxicloroquina

Nove pacientes ’cobaias’ morreram durante a pesquisa, mas os autores de estudo da empresa só mencionaram duas mortes, segundo um dossiê que o canal GloboNews teve acesso.

sexta-feira 17 de setembro de 2021 | Edição do dia

Foto: Divulgação/Prevent; Alan Santos/PR

A Prevent Senior, operadora de plano de saúde, ocultou mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19, aponta um dossiê ao qual o canal GloboNews teve acesso. A pesquisa foi apoiada pelo presidente Jair Bolsonaro e é usada pelos defensores da cloroquina para justificar a prescrição do medicamento.

A CPI da Covid recebeu um dossiê com uma série de denúncias de irregularidades, elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent, entre elas a de que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. A Globonews teve acesso à planilha com os nomes e as informações de saúde de todos os participantes do estudo. Nove deles morreram durante a pesquisa, mas os autores só mencionaram duas mortes. Um médico que trabalhava na Prevent e mantinha contato próximo e frequente com os diretores da operadora na época afirmou à GloboNews que o estudo foi manipulado para demonstrar a eficácia da cloroquina. Segundo ele, o resultado já estava pronto bem antes da conclusão do estudo.

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Em uma mensagem publicada em grupos de redes socias, o diretor da Prevent Fernando Oikawa fala pela primeira vez do estudo e orienta os subordinados a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação. “Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa.” Dos nove pacientes que morreram, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina. Dois estavam no grupo que não ingeriu as medicações e há um paciente sem informação se tomou ou não a medicação. Houve, portanto, pelo menos o dobro de mortes entre os participantes que tomaram cloroquina.

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O coordenador do estudo, o cardiologista Rodrigo Esper, diretor da Prevent Senior, menciona a ocorrência de apenas duas mortes no grupo que usou as medicações. Os óbitos, segundo o artigo, foram provocados por outras doenças, sem relação com o coronavírus ou com as medicações.

“Não houve efeitos colaterais graves em pacientes tratados com hidroxicloroquina mais azitromicina. Dois pacientes do grupo de tratamento morreram durante o acompanhamento; a primeira morte foi devido à síndrome coronariana aguda e a segunda morte devido a câncer metastático.”

Três dias depois, em 18 de abril, Jair Bolsonaro fez uma postagem no Twitter sobre o estudo. Citando a Prevent Senior, menciona a ocorrência de cinco mortes entre os pacientes do estudo que não tomaram cloroquina e nenhum óbito entre os que ingeriram as medicações.

"Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1h40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico feito: de um grupo de 636 pacientes acompanhados pelos médicos, 224 NÃO fizeram uso da HIDROXICLOROQUINA. Destes, 12 foram hospitalizados e 5 faleceram. Já dos 412 que optaram pelo medicamento, somente 8 foram internados e, além de não serem entubados, o número de óbitos foi ZERO. O estudo completo será publicado em breve!”, escreveu Bolsonaro.

Além das suspeitas que recaem sobre o estudo da eficácia ou não da cloroquina no tratamento da Covid, há indícios de que a Prevent Senior subnotificou mortes por Covid ocorridas em suas unidades, como mostramos nessa matéria aqui.

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Fica claro quando o interesse do lucro está acima do interesse da manutenção da vida em casos como esse, por exemplo. A junção de um governo negacionista da gravidade da doença mancomunado com uma empresa milionária do ramo dos planos de saúde privados não pode atender aos interesses da grande maioria da população que sofreu e sofre as piores consequências da pandemia. Por isso é necessário estatizar e colocar sobre controle dos trabalhadores da saúde toda a rede privada da saúde, seus hospitais, laboratórios estejam à serviço da população e não à serviço do lucro.




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