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[Podcast Feminismo e Marxismo] Feminismo para os 99%

[Podcast Feminismo e Marxismo] Feminismo para os 99%

O podcast Feminismo e Marxismo, uma iniciativa do grupo de mulheres Pão e Rosas e do Esquerda Diário, apresentou na última semana um importante debate sobre o Feminismo para os 99%. A conversa aconteceu entre Diana Assunção, fundadora do Pão e Rosas no Brasil e apresentadora do podcast, com a estudante de Ciências Sociais da Unicamp Vitória Camargo e com a trabalhadora aeroviária Fernanda Inês.

Confira abaixo um trecho do diálogo e acesse o link para escutar o programa na íntegra.

Diana - Feminismo para os 99% é marxismo? Essa pergunta que não quer calar o seu Podcast preferido vai tentar responder.

Diana - Para esta empreitada de hoje estamos com a estudante de Ciências Sociais da Unicamp Vitória Camargo dá um oi pra gente Vit

Vit - Oi, gente, muito bom estar aqui.

Diana - E com a trabalhadora aeroviária Fernanda Inês dá um oi pra gente Fer.

Fer - Oi, gente, obrigada pelo convite.

Diana - Bom gente bora lá para mais um episódio importante do nosso catálogo de discussões do Podcast Feminismo e Marxismo. Antes de começar não poderia deixar de citar aqui nosso enorme repúdio ao caso de agressão do DJ Ivis à sua esposa Pamela, um caso escandaloso e inaceitável que deve nos fazer seguir na luta incessante contra toda violência às mulheres, basta! Bom, colocado isso, o tema de hoje então é o Feminismo para os 99% e já indicamos para todos o texto Feminismo para os 99% estratégias em debate das nossas companheiras Andrea D’Atri e Celeste Murillo, está no Esquerda Diário. Bom, essa nova vertente surge em 2017 a partir de intelectuais de Nova Iorque que fizeram um chamado a construir este novo tipo de feminismo para os 99% da população através de um manifesto assinado por Nancy Fraser, Cinzia Arruzza e Tithi Bhattacharya. A gente vai tratar desta vertente hoje e assim como no episódio sobre a Teoria da Reprodução Social a gente vai buscar analisar desde uma perspectiva marxista o que se propõe essa vertente, seus pontos de contato com o marxismo e suas divergências com o feminismo diretamente marxista e socialista. Bom, pra você que chegou agora no nosso podcast não se desespere! Hoje a gente vai ter um episódio cheio de conceitos mas a gente tem também um catálogo com episódios que te ajudam a conhecer cada um desses conceitos, então vão te ajudar a entender o episódio de hoje, assim esperamos! Comecemos então pelo contexto político do surgimento do feminismo para os 99%, é com você Fer.

Fer - Sim [risos] gente muito bom estar aqui de novo, vamo lá... Bom, como a Di colocou o Manifesto do Feminismo para os 99% surgiu nos Estados Unidos, em 2017, o que não é um acaso. Esse nome foi inspirado justamente no movimento Occupy Wall Street, que ocorreu também nos Estados Unidos em 2011 parte da primeira onda da luta de classes no pós crise econômica de 2008, onde a juventude dizia: “somos os 99% contra o 1%”, dos mais ricos simbolizado no capital financeiro, na Bolsa de Valores em Wall Street.

O feminismo para os 99% especificamente, surgiu após a vitória do Donald Trump nas eleições americanas em 2016 quando houveram marchas massivas de mulheres repudiando esse governo abertamente machista e reacionário. Assim os EUA foi um dos epicentros do ressurgimento do feminismo, junto a países como Argentina, Espanha e vários outros.

Também foram as mulheres as primeiras a se colocarem na linha de frente contra os governos de ultra direita que surgiram como um fenômeno em vários países no mesmo período. Trump foi sem dúvida a principal figura. Mas Bolsonaro no Brasil, Macri na Argentina, Boris Johnson na Inglaterra, Marine Le Pen na França, Viktor Orbán na Hungria e outros foram todos parte dessa espécie de “internacional reacionária”, um fenômeno que hoje conseguimos ver como foi débil e instável para responder a crise capitalista desde o ponto de vista da burguesia.

Uma definição importante para pensarmos estratégia do movimento de mulheres, agora que ressurgem esperanças reformistas com Joe Biden, o novo presidente dos Estados Unidos. Mas vamos aprofundar essa idéia mais adiante.

Uma coisa importante é que a aparição do feminismo dos 99% se enquadra no incipiente questionamento ao feminismo liberal que, durante décadas, monopolizou o discurso da igualdade de gênero, sem questionar a exploração do trabalho assalariado ou as múltiplas opressões que vivem a maioria das mulheres. Um feminismo que é expressão atrasada de uma época de ofensiva do capitalismo, no pós queda do muro de Berlin em 89, onde inclusive se elaborou muito nos meios intelectuais sobre o fim da história e das classes sociais. Essas teorias que rapidamente caíram por terra.

Diana - Inclusive uma expressão concreta disso é que esse novo tipo de feminismo tem como interlocutor o marxismo..

Fernanda - Exatamente, no Manifesto dos 99, vemos as marcas de um novo momento onde se revitaliza um feminismo que tem o marxismo como interlocutor como você falou, que volta a falar em greve – e tem todo um debate sobre a greve internacional de mulheres um debate que vamos fazer aqui – é um feminismo que volta a falar em classes.

Um feminismo que é uma expressão do mal-estar social que se intensifica no pós crise de 2008 – e particularmente entre as mulheres – onde a gente vê mais acentuado o choque entre as aspirações sociais com as condições concretas de vida. Já que o capitalismo prometia que a emancipação feminina era o consumo, o poder, e a realidade que ele – entre aspas – “dá” as mulheres é o feminicidio, a opressão, a dupla jornada, a morte por aborto, a exploração e humilhação no trabalho, e mais humilhação se for negra. E com a pandemia todas essas contradições se aprofundaram terrivelmente.

Aqui vale retomar Lenin numa citação muito forte “A democracia burguesa promete de palavra a liberdade e a igualdade. Mas na prática nenhuma república burguesa, nem a mais avançada, concedeu à mulher (metade do gênero humano) plena igualdade de direitos com os homens, nem diante da lei, nem libertou a mulher da dependência e opressão dos homens (...). A democracia burguesa é a democracia das frases pomposas, das palavras solenes, das promessas liberais, das consignas grandiloquentes sobre a liberdade e a igualdade, mas que na prática, tudo isto oculta a falta de liberdade e a desigualdade da mulher, a falta da liberdade e a desigualdade dos trabalhadores e explorados”

Que que o Lenin tá dizendo aqui? Que mesmo com todos avanços que a luta das mulheres conquistaram, o capitalismo mostra como é incapaz de garantir a emancipação feminina. E a crise do neoliberalismo revelou isso da maneira mais crua.

Diana - Sim Fer, e importante remarcar que o feminismo para os 99% surge num contexto do que podemos chamar de crise orgânica, ou seja, uma crise de representatividade em relação aos partidos oficiais o que também se expressa pelo fato de ser um feminismo que surge motivado pela contestação à entrada de Donald Trump no poder, ou seja, diante de uma figura tão misógina era necessária uma resposta que ultrapassasse um pouco a ideia neoliberal de cooptação dos movimentos sociais, creio que esse feminismo vem como uma resposta a isso também, como você vê isso Vit?

Caso tenha se interessado no debate, escute o programa na íntegra abaixo:


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