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Unicamp | Para qual Unicamp deveríamos retornar? Por permanência e contra a precarização do trabalho!

Após mais de dois anos de pandemia e uma escalada dos ataques à educação e ao conjunto da classe trabalhadora, com Bolsonaro e Mourão de um lado e Doria de outro, tentando se passar como alternativa racional ao bolsonarismo, a reitoria de Tom Zé, mais uma vez sem nenhuma discussão com a comunidade universitária, determina o retorno presencial das aulas neste dia 14. Junto a vários estudantes, queremos um retorno presencial, seguro, sem precarização do trabalho e com permanência para todos. Portanto, para qual universidade deveríamos retornar?

Juliana Begiatoestudante de Ciências Sociais da UNICAMP

sábado 12 de março de 2022 | Edição do dia

Após mais de dois anos de pandemia, com mais de 630 mil mortos pela Covid-19 e com a vacinação que veio tardiamente, por responsabilidade de Bolsonaro e todo esse regime político, fruto do golpe institucional, retornaremos à Unicamp na maioria dos cursos no próximo dia 14. Nesse cenário, a crise econômica que massacra sobretudo a vida da população mais pobre que vê os preços dos alimentos, energia e combustível subirem a cada dia, além do desemprego que amarga a vida da classe trabalhadora, em especial a juventude. Na Unicamp, desde o início da pandemia e com a imposição do EaD por parte da reitoria de Knobel, que em nada consultou a comunidade sobre suas demandas e o formado do ensino online emergencial, muitas foram as dificuldades que os estudantes enfrentaram para acompanhar as aulas. A precariedade do ensino se aprofundou, principalmente no caso de estudantes mais pobres ou indígenas, que pelas diversas realidades não tinham aparelhos adequados para acessar e acompanhar as aulas. Para além disso, com a crise, o desemprego tiveram de se dividir ou mesmo escolher entre o estudo e a busca pelo sustento de suas famílias. Moradia estudantil em condições precárias, tentativa de corte de bolsas e falta de assistência à saúde mental, levaram a um aumento da evasão que poderia ter sido evitada caso a comunidade universitária tivesse tido espaço de decidir sobre os moldes do ensino remoto emergencial.

PERMANÊNCIA E TRABALHO NA UNICAMP DURANTE A PANDEMIA

É nesse contexto que a Unicamp declara o retorno às aulas presenciais, tendo em vista que as atividades não essenciais dentro dos campi, como o trabalho dos funcionário técnico-administrativos, já retornaram sob decretos do Gabinete do Reitor (GR) sem nenhuma consulta a esses trabalhadores, sendo a forma autoritária com que a Reitoria veio gerindo a universidade, durante a pandemia. Fez o que chamou de "show de luzes" no fim do ano passado, dizendo defender a ciência enquanto obrigava mesmo os trabalhadores em grupo de risco a voltarem a trabalhar. Também no início da pandemia, em 2020, o CONSU, junto à reitoria, chegou ao ponto de querer atacar os critérios para bolsas na universidade, em um momento em que a permanência estudantil se tornou ainda mais necessária em meio à crise.

A Reitoria fechou os olhos aos trabalhadores terceirizados do bandejão, limpeza e vigilância que foram demitidos em meio à pandemia, muitos sem ter todos os seus direitos garantidos, e com condições de trabalho que não garantiram a segurança contra a Covid, levando-os à morte, como foi com Lourdes e Edvânia. Esse mesmo descaso aconteceu no Hospital das Clínicas da Unicamp, onde os trabalhadores da linha de frente não tinham sequer máscara suficiente para se proteger, e até hoje seguem na reivindicação de EPIs de qualidade, locais de descanso adequados tendo que enfrentar ao mesmo tempo o assédio moral da chefia e surtos de Covid que acontecem por toda a Unicamp nos locais de trabalho.

Os trabalhadores da Unicamp acumulavam anos sem reajuste, chegando a uma defasagem de quase 40%. Seguiram trabalhando durante toda a pandemia, muitos via home office e grande parte também presencial, em especial na saúde. Com anos de arrocho salarial e o autoritarismo da reitoria diante do retorno presencial, os trabalhadores agora se mobilizam fazendo paralisações, conseguindo reajuste salarial de 20,67%. Nós estudantes temos que atuar sempre em apoio dessa categoria.

O RETORNO PRESENCIAL DAS AULAS

A reitoria de Tom Zé, que se elegeu com um discurso em defesa da permanência estudantil, da progressão de carreira dos trabalhadores e mais contratações de professores, falando em “inclusão”, apresentou um plano de retorno das aulas, que contará com salas gêmeas, que nada mais é do que uma turma dividida em duas salas, uma que contará com a presença do professor e outra que assistirá a transmissão ao vivo da aula. Entretanto, essa medida escancara a precarização do ensino e do trabalho docente, com a falta de professores suficientes para ministrar aulas de forma adequada para um número alto de estudantes. Além disso, os estudantes terão que se deslocar até a Unicamp, pagando tarifa alta de ônibus, e aqueles que estão em outra cidade terão que se mudar para Campinas para assistir aula de forma remota.

Em assembleia estudantil, realizada no último dia 05, estudantes de diversos cursos se manifestaram contrário a este formato, que segue precarizando a formação, coloca vidas em risco e aprofunda a precariedade do trabalho docente e terceirizado. Isso fortifica nossa posição de que deveria ser a comunidade universitária, que tem real apropriação da realidade que vivemos, quem deveria decidir a melhor forma para retornar presencialmente. Por isso defendemos a necessidade de organização, por parte da reitoria e do DCE, de uma assembleia dos 3 setores, incluindo terceirizados, para que pudéssemos debater amplamente essa questão.

PARA QUAL UNICAMP DEVERíAMOS RETORNAR?

Precisamos da contratação de professores, para não sobrecarregar os docentes com turmas superlotadas presenciais e online e também para garantir um ensino de qualidade, um retorno seguro e não a precarização que propõe a reitoria com a proposta de salas gêmeas. Os estudantes estão desgastados com o EAD e anseiam pela universidade, por isso precisamos lutar pela melhor e mais segura forma de retorno, na graduação e na pós, sem abrir espaço ao ensino híbrido.

Além disso, a permanência estudantil deve ser um tema central nas discussões e ações para o retorno seguro. Em meio a maior crise que nossa geração já viveu, com os impactos dela na juventude, o desemprego, a fome, as filas do osso, toda a barbárie do sistema capitalista que a pandemia escancarou, é essencial que a universidade tenha um programa de qualidade de permanência estudantil, para que a juventude pobre que entra na universidade após romper com o filtro social que é o vestibular tenha condições de estudar.

É necessária a reforma e manutenção da moradia estudantil, que está com problemas graves como água contaminada, infiltração e infestação de escorpiões, por descaso da reitoria, além da sua ampliação, pois não suporta o retorno dos estudantes de forma responsável na pandemia, sem superlotação das casas. Também é necessário o ajuste das bolsas de acordo com a inflação, além de garantia das bolsas-auxílio para todos que precisam, e não como é feito hoje, em que uma parcela dos estudantes pobres recebem as bolsas e outra parcela precisa trabalhar para se manter, em um contexto de diversos cursos que sequer oferecem o período noturno. Além disso, lutamos também pelas bolsas sem a contrapartida do trabalho, que faz com que estudantes não possam se dedicar plenamente aos estudos, realizando o trabalho de forma mais precária, sem que a universidade precise contratar mais funcionários. Também é muito importante atender às estudantes mães, com vagas na creche e espaço noturno.

Precisamos retornar à universidade e recuperar a força do movimento estudantil, que organiza a luta dos estudantes por suas demandas e indo além delas. Um movimento estudantil que se posicione e seja parte de lutar contra Bolsonaro, Mourão e a extrema direita, por uma saída dos trabalhadores e da juventude para a crise, de forma independente do PT, que escancara com a chapa Lula Alckmin que seu projeto de governo vai na contramão de arrancar nossos direitos. Que se posicione contra as guerras imperialistas, como a que estamos vendo agora na Ucrânia, gritando em alto e bom tom: NÃO À GUERRA! FORA AS TROPAS RUSSAS DA UCR NIA! FORA OTAN DA EUROPA ORIENTAL! NÃO AO REARMAMENTO IMPERIALISTA!

Nós, da Faísca Revolucionária, defendemos um projeto de universidade que seja totalmente público, sem alianças público-privadas, sem terceirização e que toda a produção de conhecimento da Unicamp e toda a estrutura da universidade esteja a serviço dos interesses da classe trabalhadora e da população. As trabalhadoras terceirizadas se mostraram essenciais na pandemia. Seus direitos também deveriam ser essenciais, lutamos por sua efetivação imediata sem necessidade de concurso público.

Defendemos que as lutas imediatas por permanência, contratação, melhoria da estrutura e das condições de trabalho estejam ligadas à luta pelo fim do vestibular, no ano com o mais baixo número de inscritos, que é um filtro social que decide quem está apto a receber o ensino que deveria ser público e universal e quem não está, deixando de fora da universidade milhares de jovens todos os anos, em sua maioria negros e pobres.

Por isso, fazemos um chamado ao DCE e aos Centros Acadêmicos que convoquem amplamente os estudantes, abrindo inclusive esse dialogo com es caloures, para o ato que acontecerá na próxima sexta-feira (18) em frente a reitoria em defesa de um retorno presencial seguro, sem precarização do ensino e do trabalho e para combater a hibridização do ensino, que coloca nossa formação cada vez mais a serviço dos grandes capitalistas. O ato encaminhado da ultima assembleia estudantil acontecerá às 10h, em frente a reitoria com o mote Nenhum estudante, trabalhador e professor fica pra trás: por um retorno seguro e contra o ensino híbrido! Por mais democracia, mais contratações e permanência estudantil já! É necessário que impulsionemos essa luta junto às entidades dos docentes e trabalhadores da Unicamp, lutando ombro a ombro contra todos os ataques e para que sigamos a luta por uma Unicamp segura, com permanência estudantil e sem trabalho precário, sem nenhuma confiança na reitoria.




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