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NORDESTE | PSB no nordeste e a frente ampla com PT na corrida eleitoral em 2022

Em todas as últimas pesquisas eleitorais Lula segue sendo apontado como o vencedor de um possível segundo turno contra Bolsonaro. Em sua campanha Lula se esforça para mostrar que está disposto a seguir a condução do regime do pós golpe institucional de 2016, não apenas distribuindo perdões públicos em seus discursos para todos os setores que articularam o golpe institucional, mas também diretamente buscando alianças com partidos golpistas, acenando até mesmo para os militares, se reunindo com FHC e Sarney, sob o cínico slogan de se construir uma frente ampla contra Bolsonaro. Mas entre tantos acenos, as negociações com o PSB podem ser uma peça chave para a disputa no tabuleiro político eleitoral de 2022, em particular na região nordeste.

domingo 20 de junho de 2021 | Edição do dia

Foto: Divulgação

Não esqueçamos que o PSB votou favorável ao golpe em 2016, antes declarou apoio ao Aécio Neves no segundo turno na disputa com Dilma, foi o partido que levantou a bandeira da “independência” do Banco Central quando tinha Marina Silva como candidata, e ainda assim não faltam demonstrações de aproximação sistemática por parte do PT, e particularmente de Lula, para uma aliança eleitoral em 2022. O PSB não perde a chance de ser ambíguo em suas declarações públicas, tentando sinalizar que estão dispostos a qualquer tipo de acordo, sem nenhuma preferência ideológica em especial, deixando claro assim, não apenas seu oportunismo golpista, mas que buscará cobrar o mais caro possível em seus acordos com o PT. O PSB faz isso sabendo que do peso regional de suas localizações na disputa eleitoral, em especial no nordeste, ao mesmo tempo que sabem que a campanha de Lula vem mantendo fechado o espaço para uma candidatura própria. Seguindo esta linha, após uma reunião com Lula, Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, declarou que: “É preciso saber quem terá as melhores condições de enfrentar Bolsonaro e isso só o tempo dirá. Nós não estamos olhando pelo retrovisor, mas devemos olhar em perspectiva”. A discussão dessa reunião em abril aconteceu no marco da proposta de superação da disputa entre as siglas nas eleições municipais de 2020 em Recife, entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), para uma possível aproximação nas eleições de 2022. Nessa reunião, também estava presente o próprio Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco, levantando uma possível conformação de chapa com Lula candidato à presidência, e Câmara como vice.

No início de junho, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), em entrevista para o Metrópoles, disse que não havia um candidato natural do partido para disputar a presidência e que até tinha sido cogitado por Carlos Siqueira para tal: “num cenário polarizado como esse, entre uma força do presidente Bolsonaro, uma força do presidente Lula, era preciso a gente tentar fazer uma união de forças de partido de centro esquerda, de centro, e até de centro direita, para tentarmos apresentar uma outra alternativa. Então, o PSB ainda não tem uma opinião com relação à candidatura à presidência da república. (...) a outra prioridade nossa é a eleição de deputado federal”. O governador disse também que “cabe na minha avaliação que se a gente conseguir juntar um grupo de partidos em torno de PSB, PDT, PV, conversando com PSDB, a gente pode construir um outro projeto a ser apresentado pra sociedade brasileira”, expondo o fisiologismo e a hipocrisia de “partido de centro esquerda”, disposto, como esteve desde sua existência, a coligar com históricos partidos da ordem, como o PSDB.

A aliança eleitoral com o PSB visa, na estratégia eleitoral da candidatura de Lula, consolidar uma fortaleza no Nordeste, atenuando as disputas nesta região, com o apoio da oligarquia política pernambucana dos Arraes. Desta forma, dos nove estados nordestinos, onde o PT atualmente já governa quatro (Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte), somaria-se prontamente a sua candidatura as forças do PSB que atualmente dirigem dois estados: Pernambuco e Sergipe. Nesta conta ainda entra Flávio Dino, governador do Maranhão, que se desfiliou do PCdoB e migrou para o PSB. E, por enquanto fora dela, está Renan Filho (MDB), governador do Alagoas, mas cujo pai sempre teve muito boa interlocução com Lula. Garantidas as alianças no nordeste, que representa o segundo maior colégio eleitoral do país por macro regiões, o PT estaria confortável para se concentrar no maior deles, o sudeste, onde a competição é mais acirrada.

No nordeste, as alianças estaduais entre PT e PSB, são mais delineadas e concretas, já que tocam governos coligados na região. Para citar alguns exemplos, na Bahia, Rui Costa (PT) concorreu às eleições de 2018 com a coligação “Mais Trabalho Por Toda a Bahia”, e conta com os deputados Marcelinho Veiga, Marquinho Viana e Fabiola Mansur, do PSB, como base aliada do governo na Assembleia Legislativa; na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, os deputados Hermano Morais e Souza Neto, do PSB, conformam base do governo estadual de Fátima Bezerra (PT).

No Ceará, em especial, Camilo Santana (PT) já vinha antecipando a articulação para reeleição no estado junto aos deputados Audic Mota e Nizo Costa, do PSB em uma reunião em que o governador bradava sobre o aumento de salário do alto escalão do estado e de sua polícia. E no Piauí, estado governado por Wellington Dias (PT), já existe uma articulação do PSB para ocupar cargos e ter apoio do PT para conformar chapas para o legislativo em 2022, inclusive com a possibilidade de saída de membros do Progressistas para migrar para o PSB. Já a Paraíba é um ponto fora da curva para o PSB, visto que seu governador, João Azevêdo, deixou a sigla com rusgas, migrando para o Cidadania em 2020 De qualquer forma, o estado já vinha sendo governado, antes de Azevêdo, pelo PSB, com Ricardo Coutinho.

No centro da disputa pelo Sudeste, um dos estados mais incertos é São Paulo. Em maio, Fernando Haddad, segunda principal figura nacional do PT depois de Lula, já colocava em exposição a corrida para engrenar as coligações e conformação de chapa, acenando a possibilidade da aliançaentre PT, PSOL, PSB e PCdoB para o governo do estado. Em São Paulo as marcas de disputa são colocadas inclusive pelo caráter mais à direita do PSB sudestino, que carrega consigo Márcio França, defensor de primeira linha do golpe institucional de 2016, além de ter sido vice-governador ao lado de Alckmin. Ainda que não esteja descartado um possível acordo com Márcio França, no marco da já declarada centralidade da candidatura presidencial para o PT, o acordo com o PSB pode circunscrever diferenças regionais. Por outro lado, ainda no centro da disputa dos estados do sudeste, a aliança com o PSB acaba de ganhar uma nova posição no Rio de Janeiro com a entrada de Marcelo Freixo (ex-PSOL) no PSB, com Lula posando para fotos ao lado do mesmo no mesmo dia de sua migração.

Para além dos acordos táticos eleitorais, apesar do PSB ter feito coro com o golpe institucional, existe a confluência estratégica desses partidos em disputar a gerência do regime pós golpe, especialmente no marco do plano econômico que ataca, retira direitos e lança a fome contra a classe trabalhadora. No campo dos ataques à classe trabalhadora e à juventude, a comprovação se dá, por exemplo, pela aprovação das reformas da previdência nos estados em que o PT, PCdoB e PSB governam, no nordeste em relação ao PSB, não se pode deixar de mencionar a aprovação da reforma da previdência municipal por João Campos no Recife. Mas também o papel de contenção é verificada na atuação do petismo e seus aliados nas burocracias sindical e estudantil, assim como dos movimentos sociais, em que, desde 2017, com a aprovação da Reforma da Previdência acordada entre Bolsonaro, Câmara, Senado e STF golpistas, mas também com o Teto de Gastos e os cortes nas federais, cumprem ainda mais um papel de freio da luta de classes, se negando, com a CUT, CTB e UNE (União Nacional dos estudantes) a organizar a luta em cada local de trabalho e estudo.

O PSB, que vinha buscando criar algum distanciamento do PT, se aproveitando do golpe institucional para capitalizar os espaços abertos pelo anti petismo, agora se vê obrigado a corrigir a trajetória frente a um provável cenário eleitoral dominado pela disputa de Lula contra Bolsonaro. Ainda assim, segue tentando ter algum protagonismo para ganhar holofotes próprios e se apresentar como um possível gestor viável da crise social e econômica brasileira. Este objetivo estratégico do PSB se evidencia na brutal repressão que ocorreu na manifestação contra o governo de Bolsonaro no 29 de Maio na capital pernambucana, onde a Polícia Militar cegou permanentemente dois trabalhadores com tiros de borracha. O governo de Paulo Câmara (PSB) foi um dos únicos a reprimir as manifestações que ocorreram nacionalmente nesse dia, visando ganhar o coração da burguesia e se apresentar como um partido disposto a lançar mão da repressão quando for necessário conter as possíveis rebeliões que podem vir, na região brasileira com os maiores índices de miséria, fome, desemprego e desigualdade sócio-econômica. A demonstração de submissão a burguesia acabou saindo mais caro do que previa devido ao spray de pimenta no rosto de uma vereadora do PT e as brutais cenas de violência que chocaram a opinião pública, levando Paulo Câmara a adotar uma postura defensiva e jogar a conta na instituição policial, supostamente controlada pelo bolsonarismo, como se ele mesmo não tivesse acompanhado segundo a segundo da repressão como já é sabido.

Na realidade, essas aproximações e disputas eleitorais, que se apresentam como frente ampla contra Bolsonaro, sejam elas em terreno nordestino, ou em qualquer outro lugar do país, não passam de uma armadilha e não podem realmente apontar uma saída para o conjunto dos trabalhadores e da população. Nos marcos em que a região tem que enfrentar as mazelas estruturais impostas pelo capitalismo, encarnadas nos ataques de Bolsonaro, Mourão, como 73,1% da população em situação de insegurança alimentar, desemprego de 18,6% (acima da taxa nacional de 14,7%), a real saída da crise econômica e sanitária só pode ser pela auto-organização em cada local de estudo, de trabalho, com o grito de Fora Bolsonaro, Mourão e militares, sem confiar em “alternativas” que se propõem como mediações de vale-tudo eleitoral, do PT e PSB, canalizando o descontentamento com o governo para as eleições de 2022.

Já são quase meio milhão de mortes por covid, fome, desemprego, reformas, privatizações e cortes nas universidades. Esse descontentamento social vinha sendo “comprimido” pela política do PT, através da direção da CUT, e do PCdoB, na direção da UNE, que serviram como correia de transmissão da política dos governadores, STF e Congresso Nacional que diziam #FicaEmCasa enquanto uma enorme massa de trabalhadores seguia trabalhando durante toda a pandemia sem segurança sanitária. Os atos do dia 29 de Maio mostraram como setores sociais, em especial da juventude, perceberam que essa política não impediu que centenas de milhares morressem pelo covid, e que é preciso no Brasil seguir o exemplo da Colômbia porque o governo brasileiro também é mais perigoso do que o vírus.

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Nesse sentido, nós do Esquerda Diário e do MRT, consideramos fundamental dar uma batalha na luta de classes para enfrentar todos os ataques do governo Bolsonaro e do regime do golpe exigindo que as burocracias sindicais e estudantis construam o dia 19 a partir da base e coloquem de pé uma paralisação nacional, coordenando também as lutas em curso.

É preciso questionar o conjunto das instituições deste regime do golpe exigindo uma nova Constituinte Livre e Soberana, imposta pela mobilização, que possa revogar todos os ataques em curso e a obra econômica do golpe, para sairmos do terreno de mudar os jogadores, que o fazem para se integrar e assentar profundamente o regime, mas modificar na íntegra as regras do jogo. E que inclusive, os trabalhadores, tendo consigo mulheres, negros, LGBTs, o povo pobre, lutem por um governo de ruptura com o capitalismo.

Veja também: A esquerda institucional e a busca de um caminho de subordinação ao PT




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