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Destruição ambiental | Ouro ilegal de terras indígenas brasileiras é usado por Apple, Google, Microsoft e Amazon

Filamentos de ouro utilizados na produção de celulares, computadores e superservidores das 4 marcas bilionárias mais valiosas do mundo vieram do garimpo ilegal da Amazônia

segunda-feira 25 de julho de 2022 | Edição do dia

Uma investigação realizada pela Repórter Brasil, revelou que, em 2020 e 2021, Apple, Google, Amazon e Microsoft compraram ouro de diversas refinadoras, como a italiana Chimet, investigada por ser destino do minério extraído de garimpos clandestinos da Terra Indígena Kayapó, e a brasileira Marsam, cuja fornecedora é acusada pelo Ministério Público Federal de provocar danos ambientais devido aquisição de ouro ilegal.

A Repórter Brasil acessou os documentos que Apple, Google, Microsoft e Amazon são legalmente obrigadas a enviar à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Securities and Exchange Commission, ou SEC, na sigla em inglês) com a lista de seus fornecedores de ouro, estanho, tungstênio e tântalo. Entre centenas de refinadoras, constam nas relações a brasileira e a italiana. Os documentos referem-se às aquisições feitas em 2020 e 2021, mas relatórios anteriores a estes também apresentavam as duas refinadoras como fornecedoras.

O ouro extraído de garimpos clandestinos ou de áreas protegidas, é “legalizado” quando as DTVMs compram o produto e o garimpeiro ou cooperativa de garimpeiros preenche uma nota fiscal em papel autodeclarando de onde veio aquele minério. Ou seja, os fraudadores podem dizer que a origem é um garimpo legalizado, quando não é. Já "legalizado", o metal é vendido a grandes refinadoras, joalherias, bancos, governos e a várias das marcas mais famosas do mundo.

Apesar de os órgãos investigadores brasileiros terem provas de que Chimet e Marsam compraram, de maneira indireta, ouro extraído ilegalmente de alguns desses territórios demarcados, as duas refinadoras são certificadas e consideradas “aptas” a vender nos Estados Unidos e na Europa, regiões que exigem maior transparência dos fornecedores de minérios, além de critérios mais rígidos no combate à lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo e ao abuso dos direitos humanos.

O garimpo ilegal nas terras indígenas vem trazendo à tona escândalos absurdos que são cometidos com os povos originários. Nos últimos meses tivemos notícias de vários estupros, sequestros e assassinatos cometidos pelos os garimpeiros. Por trás desses crimes cometidos pelo o garimpo, estão essas empresas que financiam e lucram em cima dessa atividade devastadora, com o sangue dos povos originários e ainda afirmam não considerar o Brasil uma "área de risco”.

As certificadoras da Chimet e da Marsam são, respectivamente, a LBMA (The London Bullion Market Association) e a RMI (Responsible Minerals Initiative), organizações que dizem ter como objetivo garantir maior transparência para o setor minerário, “buscar engajamento corporativo sustentável” e realizar auditorias para combater violações de direitos humanos, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, segundo o site das próprias organizações.

Essas empresas ilustram a farsa que representa a ideia do "ecocapitalismo" defendida no Brasil por setores como o REDE, de Marina Silva, com quem agora o PSOL está em uma federação. Não há a possibilidade da existência de um capitalismo verde, enquanto o que reger o mundo for a lógica do lucro e da exploração desenfreada de recursos ambientais.

Procurado pela Repórter Brasil, o governo dos EUA, por meio da SEC, disse que não vai se pronunciar.

Das quatro empresas bilionárias, apenas a Apple respondeu ao ser questionada pela Repórter Brasil. No primeiro contato, a empresa enviou uma nota dizendo que os seus “padrões de fornecimento responsável são os melhores do setor e proíbem estritamente o uso de minerais extraídos ilegalmente” e que “se uma fundição ou refinadora não conseguir ou não quiser atender aos nossos padrões rígidos, nós o removeremos de nossa cadeia de fornecimento”. Dois meses depois desse primeiro contato, voltando a ser procurada, a Apple afirmou em nota ter removido a Marsam da lista de fornecedores. A Chimet, no entanto, permanece apta.

Google, Microsoft e Amazon disseram que não comentariam, mas não negaram terem comprado da Chimet e da Marsam.

Isso tudo ocorre facilitado pelo governo Bolsonaro, que desde seu início demonstrou que pretendia, não apenas continuar, mas aprofundar e avançar sobre a devastação ambiental e o desmatamento, em especial na região amazônica, um patrimônio ambiental inestimável da humanidade.

A serviço dos grandes latifundiários e da bancada ruralista, Bolsonaro sempre agiu para evitar a punição de irregularidades e legalizar a destruição ambiental. É preciso que os trabalhadores, com os pequenos agricultores, o povo quilombola e os indígenas se organizem para derrotar Bolsonaro e, mais ainda, fazer a verdadeira reforma agrária que nenhuma instituição burguesa ou estratégia reformista, como a do PT, será capaz de levar até o final. Nenhuma aliança com a direita jamais fortaleceu a luta dos povos indígenas, da classe trabalhadora, das massas negras ou do movimento de mulheres. O que ocorreu foi o exato oposto.

A demagogia política burguesa e sua relação com o meio ambiente se expressou fortemente, por exemplo, com Ricardo Salles, que teve uma atuação favorecendo garimpeiros e madeireiros durante sua estadia como Ministro do Meio Ambiente. Salles surgiu na vida política através de Alckmin, como seu secretário do meio ambiente em São Paulo, quando ainda era governador. Salles não é o único membro da extrema direita, muito menos único defensor dos ruralistas e dos garimpeiros, que surgiu da assim chamada “centro direita”, a tradicional direita liberal brasileira. Agora, esse mesmo Alckmin, com todos os seus aliados compõem com Lula uma chapa presidencial no PT. A justificativa petista é de que isso seria o necessário para combater a extrema direita, mas como mostramos aqui, é desse lugar, das alianças com a direita “moderada” (um termo que quando descreve Alckmin é um disparate total, em se tratando do governador da desocupação do Pinheirinho, da chacina da baixada santista, ladrão de merenda, etc…) que se fortalece e nasce a extrema direita.

Somente com a força da mobilização da classe trabalhadora, aliada aos indígenas e todos os setores explorados e oprimidos é que conseguiremos impor justiça, enfrentar a destruição da Amazônia e abrir um caminho para o desenvolvimento sustentável de conjunto com desenvolvimento científico que se coloque a favor das necessidades do conjunto da população e não da ganância dos capitalistas.




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