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Os socialistas diante do envio de armas da OTAN para a Ucrânia

Nathaniel Flakin

James Dennis Hoff

Os socialistas diante do envio de armas da OTAN para a Ucrânia

Nathaniel Flakin

James Dennis Hoff

Enquanto a guerra continua na Ucrânia, os países da OTAN estão enviando bilhões de dólares em armas para o governo Zelensky. Esses carregamentos de armas tem gerado simpatia nos países ocidentais, mesmo entre setores da esquerda.

A invasão russa da Ucrânia obrigou milhões de pessoas a fugir de suas casas e matou milhares de ucranianos e russos. O exército ucraniano conseguiu impedir uma rápida vitória russa, mas à medida que a guerra se arrasta, a Rússia recorre a táticas mais brutais, incluindo bombardear áreas civis e fazer reféns.

As potências imperialistas ocidentais se opuseram à invasão, mas até agora evitaram um confronto militar direto com a Rússia. Em vez disso, os governos dos países da OTAN, e dos Estados Unidos em particular, têm enviado bilhões de dólares em armas ao governo ucraniano. Isso faz parte de um esforço para fortalecer sua aliança política e estratégica com o governo de Volodymyr Zelensky.

Muitos setores da classe trabalhadora dos Estados Unidos e da Europa, incluindo muitos de esquerda, apoiam essa ajuda militar: segundo pesquisas, entre 60% e 70% dos habitantes dos principais países da OTAN são a favor dessas políticas. Mas isso não é algo que os socialistas deveriam apoiar. Como socialistas, nos opomos à invasão reacionária de Putin, mas isso não significa que apoiamos o governo pró-imperialista de Zelensky. Temos que propor uma orientação operária independente.

Trabalhadores de todo o mundo, incluindo a classe operária russa, devem se organizar para acabar com a guerra imediatamente, contra os interesses de nossos próprios governos. Mas nas famosas palavras do teórico militar prussiano Carl von Clausewitz, a guerra é apenas a continuação da política por outros meios. Se quisermos parar o derramamento de sangue na Ucrânia, devemos nos opor a todas as políticas imperialistas que levaram a isso, incluindo a maior expansão da OTAN e a semicolonização da Ucrânia por meio de instituições imperialistas como o FMI.

Isso também significa se opor a mais remessas de armas para a região, incluindo ações diretas para interromper o transporte, sejam suprimentos russos que chegam de trem pela Bielorrússia ou foguetes Javelin dos EUA que chegam pela Polônia e Romênia.

Posições confusas na esquerda

Entre as massas, o apoio ao envio de armas é compreensível. Vemos imagens horríveis de tropas russas bombardeando prédios de apartamentos e famílias amontoadas em estações de metrô. As pessoas querem fazer alguma coisa, qualquer coisa, para acabar com essa destruição sem sentido. Os governos e os meios de comunicação da burguesia apresentam apenas uma opção: enviar armas.

Mas a esquerda deveria ser capaz de ver através de tais alegações: os envios de armas são, acima de tudo, um subsídio maciço aos fabricantes de armas ocidentais. A OTAN nunca esteve interessada em garantir a democracia ou a autodeterminação para o povo da Ucrânia. Muito pelo contrário: eles lideraram uma campanha durante décadas para colocar a Ucrânia sob seu controle.

Mesmo assim, um intelectual socialista como Gilbert Achcar, embora acredite que se oponha à intervenção militar direta e seja neutro na questão das sanções, disse: “Somos, sem dúvida, a favor de entregar armas defensivas à resistência ucraniana”. Esta posição é compartilhada por diferentes tendências socialistas, incluindo a revista Tempest dos Estados Unidos [1], o Secretariado Unificado da Quarta Internacional, bem como a UIT-QI, a LIT-QI e o MST-LIS da América Latina [2].

Os defensores do envio de armas ao exército ucraniano gostam de citar uma passagem específica do ensaio de Leon Trótsko “Aprendam a pensar”, escrito em 1938, no qual ele descreve um caso hipotético:

Suponhamos que amanhã irrompe uma rebelião na colônia francesa da Argélia sob a bandeira da independência nacional e que o governo italiano, motivado por seus próprios interesses imperialistas, se prepara para enviar armas aos rebeldes. Qual deve ser a atitude dos trabalhadores italianos neste caso? Tomei intencionalmente um exemplo de rebelião contra um imperialismo democrático com a intervenção em favor dos rebeldes de um imperialismo fascista. Os trabalhadores italianos devem evitar enviar armas aos argelinos? Que os ultra-esquerdistas se atrevam a responder afirmativamente a esta pergunta. Qualquer revolucionário, junto com os operários italianos e os rebeldes argelinos, repudiaria tal resposta com indignação. Mesmo que, ao mesmo tempo, uma greve geral marítima explodisse na Itália fascista, os grevistas teriam que abrir uma exceção para os navios que transportavam ajuda aos escravos coloniais rebeldes; caso contrário, não passariam de sindicalistas vis, não revolucionários proletários.

Foi expresso da mesma maneira com um caso hipotético diferente em outro ensaio de 1939:

Se amanhã Hitler fosse obrigado a enviar armas aos indianos insurgentes, os trabalhadores deveriam se opor a essa ação específica por meio de greves ou sabotagem? Pelo contrário, eles devem garantir que os revolucionários recebam suas armas o mais rápido possível.

Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Trótski destacou a centralidade das lutas anti-imperialistas e anticoloniais pela revolução mundial. A guerra que estava por vir não era um confronto entre a democracia e o fascismo, mas uma guerra entre diferentes potências imperialistas para dividir o mundo. Trótski exigiu que a classe trabalhadora nos países imperialistas apoiasse incondicionalmente os movimentos de libertação nacional, mesmo que esses movimentos fossem forçados a aceitar algum apoio limitado dos governos reacionários.

Trótski entendeu que qualquer vitória contra uma potência colonial enfraqueceria o domínio do imperialismo sobre o mundo inteiro. Se uma colônia conseguisse se libertar do imperialismo francês ou britânico, isso acabaria enfraquecendo também o imperialismo italiano e alemão. Assim, uma hipotética ajuda de Hitler ao movimento de independência da Índia acabaria enfraquecendo a Alemanha nazista, o que, aliás, é a razão pela qual os casos descritos por Trótski permaneceram completamente hipotéticos: os governos alemão e italiano praticamente não deram apoio aos movimentos contra o colonialismo britânico ou francês. Os fascistas entenderam que qualquer vitória anti-imperialista acabaria prejudicando seus próprios interesses.

Agora podemos perguntar: essa analogia se aplica à atual guerra na Ucrânia? Zelensky está sendo comparado a Che Guevara (e em uma capa de revista que parece algo saído de Star Wars), além de alguns esquerdistas terem dito que suas exigências para armar o governo ucraniano são as mesmas feitas há 50 anos, quando os movimentos de anti-guerra exigiam armas para os vietcongues.

Mas há uma pessoa que certamente se oporia a tais comparações: o próprio Volodymyr Zelensky. No final do mês passado, ele anunciou a proibição de todos os partidos, mesmo os remotamente esquerdistas ou socialistas. Enquanto isso, grupos abertamente fascistas e nazistas continuam fazendo parte da Guarda Nacional Ucraniana. O programa de Zelensky tem sido, há muito tempo, integrar a Ucrânia em estruturas imperialistas como a OTAN, a União Europeia e o FMI. As riquezas do país já estão sendo exploradas impiedosamente pelo capital imperialista. Zelensky, representante de um punhado de oligarcas, quer intensificar essa submissão. É ridículo descrever a política de Zelensky como “anti-imperialista”. É explicitamente pró-imperialista. Se alguma analogia pode ser feita com o Vietnã, então o governo ucraniano é como o do Vietnã do Sul, que também recebeu inúmeras armas dos Estados Unidos.

Como discutimos em um debate com Stathis Kouvélakis e Gilbert Achcar, uma vitória ucraniana enfraqueceria a Rússia, mas também fortaleceria a OTAN e, portanto, o imperialismo. O próprio Achcar admitiu que os Estados Unidos estão tentando transformar a Ucrânia em um “estado vassalo”, ou regime fantoche do imperialismo norte-americano, e uma vitória ucraniana levaria a essa “vassalagem”. Em um caso clássico de patriotismo social, Achcar argumenta que a dominação ocidental é preferível à “escravização” pela Rússia.

Nos dois casos hipotéticos que Trótski mencionou, ele estava se referindo a movimentos genuinamente anticoloniais. Imaginemos outro caso hipotético em que os “indianos insurgentes” fossem nacional-socialistas lutando para transformar o país em colônia alemã. Alguém acredita que Trótski os teria apoiado? A principal consigna de Trótski para garantir a liberdade da Ucrânia foi:

A completa independência do partido operário como vanguarda dos trabalhadores.

Isto segue sendo fundamental hoje em dia. No entanto, os socialistas que estão a favor do envio de armas expressam seu total apoio à política central dos seus governos.

O caráter da guerra

Não é um simples conflito interimperialista, e não apenas porque as tropas da OTAN até agora se abstiveram de qualquer confronto direto com a Rússia. Além disso, é enganoso incluir a Rússia e as potências da OTAN na mesma categoria de “imperialismo”. O orçamento militar dos EUA é 10 vezes maior do que o da Rússia, e os gastos militares totais de toda a OTAN são cerca de 15 a 20 vezes maiores que os da Rússia.

As forças da OTAN têm sido responsáveis ​​por guerras reacionárias em todo o mundo, incluindo ataques à ex-Iugoslávia, Afeganistão e Iraque, enquanto apoiam o atual massacre da Arábia Saudita no Iêmen. As intervenções reacionárias da Rússia, por outro lado, estão limitadas à sua periferia, principalmente na antiga União Soviética. As forças de Putin têm sustentado ditaduras reacionárias no Cazaquistão, Bielorrússia e Síria. Mas sua destreza militar muito mais fraca se mostra em sua incapacidade de derrotar as forças ucranianas inferiores após um mês de combates.

Ver também: Uma vez mais sobre os debates ao redor da guerra na Ucrânia

A fraqueza econômica da Rússia é muito mais dramática, como demonstrou sua vulnerabilidade às sanções ocidentais. A economia russa depende de tecnologia e financiamento do Ocidente, e as principais exportações do país consistem principalmente em matérias-primas. Assim, na luta para controlar a Ucrânia com investimentos, a Rússia não pode competir com o capital dos Estados Unidos e da União Europeia, e foi isso que fez Putin acreditar que uma invasão militar era do interesse estratégico do país.

A agressão da OTAN expandiu o perímetro da aliança até a fronteira russa. No entanto, os políticos imperialistas tentaram se apresentar como se todos estivéssemos sob ameaça iminente da Rússia. Um foco de hipocrisia vem da ex-secretária de Estado Condoleezza Rice, que espalhou mentiras sobre “armas de destruição em massa” para justificar a invasão assassina do Iraque. Ela condenou a invasão da Ucrânia como um “crime de guerra”, como se ela não fosse pessoalmente responsável por crimes muito maiores.

Agora os países imperialistas estão usando a guerra reacionária de Putin como uma desculpa para fazer aumentos históricos nos gastos militares (mesmo que estes tenham sido planejados antes da invasão de Putin). O governo alemão quer gastar mais 100 bilhões de euros na Bundeswehr, enquanto o novo orçamento de Biden prevê mais 31 bilhões de dólares em gastos militares. Os socialistas devem se opor a todas as formas de militarismo: “nem um homem nem um centavo”, como disse Wilhelm Liebknecht. As armas para o governo ucraniano estão servindo como uma porta de entrada para vender o militarismo a uma população que, na verdade, está cética.

Um argumento da esquerda contra a ajuda militar à Ucrânia

A invasão russa da Ucrânia é injustificável e deve ser resistida e condenada pelos socialistas de todo o mundo. Independentemente das ações da OTAN, não há desculpa para a invasão russa da Ucrânia. Aqueles que defendem a invasão, aqueles que culpam exclusivamente a OTAN ou afirmam que a Rússia não teve escolha, aqueles que afirmam que os socialistas devem apoiar a Rússia contra a OTAN ou contra a Ucrânia, essas pessoas apenas confundem os interesses dos trabalhadores com os de seus governos e são cegos ao fato de que a luta contra o imperialismo é fundamentalmente uma luta das classes trabalhadoras por uma solução socialista para os horrores perpetrados por seus governos.

Da mesma forma, os socialistas devem condenar as provocações da expansão da OTAN e as tentativas, por parte dos Estados Unidos em particular, de usar os conflitos em países como a Ucrânia para enfraquecer a Rússia e transformar a Ucrânia em um apêndice do imperialismo norte-americano. E isso inclui rejeitar a falsa ideia de que os trabalhadores devem apoiar qualquer um dos atores deste conflito, política ou militarmente. Apoiar o envio de armas para a Ucrânia pode parecer a melhor maneira de ajudar o povo ucraniano a resistir à invasão da Rússia, mas tais argumentos obscurecem a verdadeira origem do conflito e as verdadeiras soluções que estão realmente disponíveis para os trabalhadores da Rússia e Ucrânia.

Para os Estados Unidos e a OTAN, a ajuda militar ao governo Zelensky não tem nada a ver com a autodeterminação ucraniana ou a proteção de vidas civis, e tudo a ver com o avanço dos interesses estadunidenses na região. Os Estados Unidos vêm tentando transformar a Ucrânia em um regime fantoche desde pelo menos 2014, e os mais de 13 bilhões de dólares em ajuda recentemente aprovados pelo Congresso – cerca de metade dos quais na forma de remessas diretas de armas – são efetivamente um adiantamento dessa compra.

Como uma forma de guerra por outros meios, essa ajuda militar não ajudará os ucranianos, mas, ao contrário, apenas fortalecerá os interesses do imperialismo norte-americano, ao mesmo tempo tornando a Ucrânia mais dependente do apoio dos EUA e enfraquecendo a Rússia como potência regional. Como o último discurso de Biden em Varsóvia deixou claro, esta é a guerra de Washington tanto quanto da Ucrânia.

Embora a eclosão da guerra tenha sido terrível para os ucranianos (e também não muito boa para a classe trabalhadora russa), foi ótima para a OTAN. A guerra não apenas reforçou os laços desgastados entre os países da OTAN como a Alemanha e os Estados Unidos, como também deu à organização uma legitimidade renovada aos olhos de muitos europeus. De fato, vários países que anteriormente rejeitavam a adesão à OTAN, como Suécia e Finlândia, agora estão considerando a ideia de se juntar a ela.

Além disso, ao contrário das esperanças pragmáticas de uma parte da esquerda, essa ajuda provavelmente fará pouco para acabar com a guerra pela Ucrânia. Inundar o país com armas avançadas dos EUA, como mísseis antitanque Javelin, pode causar mais baixas russas, mas não tornará a Rússia mais inclinada a negociar um cessar-fogo. Pelo contrário, um suprimento infinito de armas só levará a um impasse sangrento. Isso não beneficia os ucranianos nem a classe trabalhadora russa, mas as potências ocidentais terão maior influência geopolítica, enquanto os fabricantes de armas verão suas ações dispararem.

Aqueles que apoiam o fornecimento de armas para a Ucrânia responderiam que, sem o apoio ocidental, os ucranianos seriam impotentes. Esses argumentos, embora bem intencionados, sugerem que a classe trabalhadora tem apenas duas opções neste caso: ficar do lado da Rússia ou do lado da Ucrânia. Mas não é assim. Podemos ficar do lado dos trabalhadores da Ucrânia e da Rússia e, ao mesmo tempo, rejeitar os interesses dos Estados Unidos, da Ucrânia e da Rússia. Dos muitos resultados possíveis, simplesmente não há resultado “menos ruim” que possa ser alcançado por meio do apoio à ajuda militar, sanções ou outras formas de intervenção ocidental.

Consideremos, por exemplo, o que os defensores de uma vitória ucraniana chamariam de melhor cenário: isto é, uma derrota e retirada russas rápidas que levam a guerra rapidamente a um fim. Primeiro, esse resultado é altamente improvável, e ainda mais improvável de ser determinado apenas por remessas de armas. Mesmo que esse cenário decididamente improvável ocorresse, apenas encorajaria os Estados Unidos a militarizar ainda mais a Ucrânia como uma posição ofensiva para os interesses norte-americanos na Europa Oriental, levando a uma maior expansão da OTAN e mais conflitos com a Rússia e os estados vizinhos.

Em tal cenário, os trabalhadores ucranianos estariam cada vez mais sujeitos ao controle ocidental na forma de mais dívidas do FMI e do Banco Mundial e de reestruturação da dívida, levando a uma maior exploração da classe trabalhadora ucraniana. Em outras palavras, não há bons resultados que possam ser criados armando o governo ucraniano. A única solução real para o conflito que é do interesse dos trabalhadores é aquela que envolve a ação revolucionária dos trabalhadores de todo o mundo, uma solução que rejeita a interferência russa e americana na Ucrânia.

Por uma ação independente da classe operária

É claro que os ucranianos têm o direito de resistir à invasão russa e proteger suas famílias. Os ucranianos, é claro, têm direito à sua própria soberania, livre da violência e da interferência política russa (e esses direitos à autodeterminação democrática devem, naturalmente, também se aplicar aos habitantes de Donbas e da Crimeia). Mas, por mais horrível que seja a guerra, atualmente não há solução militar que atenda aos interesses reais do povo ucraniano ou da classe trabalhadora ucraniana.

A verdadeira autodeterminação só é possível expulsando a Rússia, a OTAN e todos os imperialistas. Isso só pode ser alcançado pela classe trabalhadora, superando as fronteiras nacionais. Os trabalhadores da Ucrânia, da Rússia e dos países imperialistas precisam se constituir como uma força política independente, lutando por uma perspectiva socialista. Como Trótski já disse às vésperas da Segunda Guerra Mundial,

O programa de independência da Ucrânia na época do imperialismo está direta e indissoluvelmente ligado ao programa da revolução proletária.

Os socialistas que apoiam os envios de armas dizem que apoiam a “autodeterminação” da Ucrânia. Mas como pode haver autodeterminação em um país governado por oligarcas, explorado pelo capital imperialista e controlado por uma aliança militar reacionária? A verdadeira autodeterminação só será alcançada em uma Ucrânia socialista independente que exproprie os capitalistas.

A classe trabalhadora, embora atualmente desorganizada, pode desempenhar um papel nessa guerra. Recentemente, foi relatado que trabalhadores ferroviários na Bielorrússia entraram em greve para sabotar a logística russa e trabalhadores de aeroportos na Itália recentemente se recusaram a transportar armas disfarçadas de ajuda humanitária para a Ucrânia.

Nas redes sociais, muitos esquerdistas criticaram essa ação dos trabalhadores: “esses trabalhadores não estão sabotando a defesa da Ucrânia?”, disseram. Mas o fato é que a classe trabalhadora tem outros meios mais eficazes para se opor à guerra do que apoiar as intervenções de seus “próprios” governos. Armar o governo de direita Zelensky (incluindo as unidades abertamente fascistas do estado ucraniano) não fará nada para trazer a paz. Em vez disso, a classe trabalhadora precisa organizar a solidariedade internacional, fomentar a confraternização com soldados russos desmoralizados e organizar greves para desmantelar a máquina de guerra.

Como socialistas, exigimos a retirada imediata de todas as tropas russas da Ucrânia, bem como a retirada imediata das forças estadunidenses da Europa e o fim do expansionismo da OTAN. Essa perspectiva inclui a organização dos trabalhadores e suas organizações na Rússia para se mobilizar com greves e manifestações massivas contra a guerra e o regime bonapartista de Vladimir Putin. E isso significa construir uma alternativa política revolucionária na Ucrânia que denuncie o nacionalismo, lute contra a direita reacionária ucraniana e rejeite a interferência da Rússia e da OTAN. Todas as ilusões pacifistas que agora vemos acabam suscetíveis de serem manipuladas a serviço do próprio militarismo imperialista, produtor de guerras e barbáries contra os povos do mundo e a classe trabalhadora internacional. Apenas uma esquerda anti-imperialista e internacionalista, portanto revolucionária, pode dar fim a todas as tendências bélicas do imperialismo.

Este artigo foi publicado originalmente no site Left Voice, parte da Rede Internacional La Izquierda Diario, traduzido ao espanhol por Óscar Fernández e ao português por Iaci Maria.


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FOOTNOTES

[1A formulação da revista Tempest é bastante oblíqua: “Devemos defender o direito dos ucranianos de obter armas onde puderem para se defender”.

[2A LIT-QI, por exemplo, explicou em detalhes porque acredita que os socialistas deveriam apoiar o envio de armas e até mesmo algumas sanções.
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