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Eleições 2022 | Mais da mesma cara de direita no segundo debate ao governo de SP

quinta-feira 15 de setembro de 2022 | Edição do dia

Com pouco mais de duas semanas até o primeiro turno das eleições de 2022, assistimos ao segundo debate para governo de São Paulo, que, como no primeiro, teve a cara da direita paulista tucana e a continuidade da exclusão e censura à esquerda pela grande mídia. E apesar do tom morno entre os candidatos, está inserido no contexto da polarização da disputa nacional.

O debate foi marcado pela parceria velada entre os dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), para atacar o candidato do PSDB e vice de Doria, Rodrigo Garcia, e tentar selar a conformação de um segundo turno que reproduza no estado a polarização nacional. O tom amistoso entre o candidato do PT e o candidato de Bolsonaro nos bastidores do debate é o sintoma dessa dobradinha tácita, que Haddad tentou sem sucesso estabelecer já no primeiro debate, ainda que em determinados momentos protagonizaram alguns embates cuidadosos.

Tarcísio de Freitas não negou o alinhamento político a Bolsonaro, mas abusou do cinismo, como se o governo do qual ele faz parte tivesse sido defensor da vacinação. E fez demagogia com a Lei Rouanet, tentou camuflar o alinhamento ideológico com o reacionarismo bolsonarista, pois sabe da considerável rejeição que Bolsonaro tem no eleitorado da direita paulista.

Assim como no primeiro debate, este seguiu mostrando o deslocamento à direita da política em São Paulo. Tanto é assim que o já conservador Vinicius Poit (Novo) não se sentiu constrangido em escancarar todo o seu reacionarismo alinhado à ideologia bolsonarista, da qual tenta se diferenciar. Na divisão de tarefas com Tarcísio de Freitas, ficou com o trabalho de negar o racismo no Brasil, atacar as cotas e atacar de forma mais contundente Fernando Haddad e o PT, do jeito da extrema direita, cumprindo bastante bem seu papel de linha auxiliar do bolsonarismo.
Digna de nota é a defesa da segregação social por Elvis Cezar do PDT, candidato de Ciro Gomes, que seguiu seu mantra sobre Santana do Parnaíba, um exemplo do seu modelo de boa gestão do Estado capitalista pela existência de uma cidade profundamente desigual em que convivem condomínios luxuosíssimos com a mais precária periferia.

Sem qualquer alternativa à esquerda no debate, Fernando Haddad estava bastante confortável em se apresentar como o candidato da constituição de 1988, mas na verdade defendendo o pior dela. Esteve bastante confortável no seu papel moderado de defensor e propositor da aliança amplíssima com as forças de direita. Haddad se colocar como o defensor da Constituição de 1988 não é algo que possa passar despercebido, já que esconde que hoje o que sobrou do Regime de 1988 são as alianças, a moderação e aceitação passiva dos ataques e a pactuação com a direita, já sob uma base muito mais degradada do ponto de vista dos direitos da população e dos trabalhadores. Aspectos de conquista impostos pelo ascenso dos anos 1980.

Esse foi o conteúdo principal das suas considerações finais, mas que apareceu também as declarações de amizade e parceria política de anos com Geraldo Alckmin, uma das figuras tucanas históricas de São Paulo. Haddad se orgulhou de sua amizade de quase 10 anos com o ex-governador, de ter sido um dos propositores da chapa Lula Alckmin e de terem juntos atuado em 2013, quando reprimiram brutalmente a juventude e a esquerda nas manifestações de Junho.

Para enfrentar a extrema-direita bolsonarista em São Paulo, Haddad se porta como o defensor inclusive do legado tucano em São Paulo, jogando Garcia para o lado de Doria, se apoiando na aliança com Alckmin e França. A aposta é ganhar parte do eleitorado tucano para si, abrindo caminho para uma vitória sobre o candidato bolsonarista no segundo turno. Arriscada, do ponto de vista eleitoral, porque Haddad não consegue entusiasmar sua própria base - que odeia o PSDB - com uma campanha assim, enquanto a base social histórica do PSDB pode terminar preferindo fingir que acredita no jogo cínico de Tarcísio a apoiar o candidato do PT, mesmo que esse venha embrulhado pra presente numa aliança com Alckmin. Considerando apenas o puro cálculo eleitoral, esse jogo é incerto; se levarmos em conta os interesses mais amplos envolvidos, ele é trágico. Desarma a classe trabalhadora para os embates que virão contra a direita tradicional e contra o bolsonarismo, que pode ser derrotado eleitoralmente, mas vai seguir existindo e atuando como força política e talvez até mais agressivo nas ruas.

Essa exaltação de Geraldo Alckmin certamente causou inveja no “novo” governador e novo tucano, Rodrigo Garcia, que afirmou seguir a tradição de Covas, Serra e Alckmin e deletar seu padrinho de boas-vindas ao PSDB, João Doria. Atacado por todos os lados, restou a Garcia sambar entre dizer que reivindica o legado psdebista em São Paulo e se separar de Doria, na tarefa de, ao menos, levar ao segundo turno da eleição o partido que governou o estado nas últimas três décadas. Não está reeditado o BolsoDoria este ano, mas tampouco Garcia pode deixar de tentar dialogar com a base bolsonarista de São Paulo, de onde pode tirar os votos que faltam para ultrapassar Tarcísio de Freitas, e é exatamente por isso que entre uma frase de defesa de seu governo e outra falou de Deus e da família de forma bem clara e articulada.

Um debate com 50 tons de direita, que não é digno de todo o rechaço e toda vontade de combater e derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo da classe trabalhadora, da juventude, das mulheres, negras e negros, indígenas e LGBTs. Candidaturas que disputam quem será mais funcional ao capital do estado que eles chamam de locomotiva do Brasil, num chauvinismo paulista conservador e reacionário, mas que não têm nada a oferecer aos trabalhadores e à necessária união para fortalecer nossa luta contra as reformas, a direita patronal e a extrema direita bolsonarista.




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