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Crise capitalista | Mães são forçadas a deixarem seus filhos com menos de dois meses em creches de SP

Como produto da crise capitalista que gera desemprego, precarização do trabalho e salários que mal dão pra sobreviver, muitas mães estão sendo forçadas a deixarem seus filhos em creches no período descrito como "gestação externa" para poderem trabalhar e sustentar suas famílias.

segunda-feira 9 de maio de 2022 | Edição do dia

Milhares de mãe de São Paulo não estão tendo outra opção que não seja deixarem seus filhos pequenos em creches públicas para poderem trabalhar e sustentar suas famílias. O direito a licença-maternidade, de 120 dias, já não é realidade para milhares de mães trabalhadoras que são forçadas pela crise capitalista a realizarem trabalhos precários, com baixa remuneração e se separarem cada vez mais prematuramente de seus bebês.

Segundo levantamento realizado pela Folha, na última semana do mês de abril, havia 3741 bebês com menos de quatro meses matriculados nas creches da rede municipal da cidade. Entre eles, 63 têm menos de 30 dias de vida e 539 menos de 60 dias. Essa etapa é descrita pelos especialistas como "gestação externa", se configurando como uma transição para o mundo fora do corpo da mãe.

O levantamento também aponta que o número de bebês de até dois meses nas creches em 2022 é quase duas vezes maior ao que era registrado em 2021, quando haviam 325 bebês dessa idade e 23 vezes maior que o registrado em 2019, quando haviam 26 bebês.

O aumento do número de bebês em creches em etapas prematuras, que já vinha de antes da pandemia, se intensificou nos últimos anos. Esse fato tem relação direta com a intensificação da crise capitalista que faz com que o índice global de preço de alimentos fosse o maior em cem anos, com que as mulheres sejam jogadas nos piores e mais precários postos de trabalho e que para não serem demitidas aceitem salários que, muitas vezes, não garantem o pagamento das contas do mês e as forçam a reduzir cursos básicos.

Essa situação é um exemplo emblemático do casamento bem sucedido entre exploração capitalista e opressão de gênero. É nessa relação que se “potencializam e renovam as formas de exploração e de dominação capitalista”, já que a subordinação das mulheres e dos negros enquanto grupo aprofunda a exploração do trabalho, ao mesmo tempo em que rebaixa as condições de trabalho e salário de toda a classe trabalhadora em O Capital, Marx utiliza a definição de “cheap labour”, o trabalho barato.

Para além da superexploração da mão-de-obra, se configuram também as duplas e triplas jornadas de trabalho, componente fundamental de geração de valor apropriado pela burguesia, garantindo que as tarefas de reprodução da vida, como o cuidado com os filhos, a limpeza da casa, a alimentação, o cuidado com os doentes e a lavagem das roupas sejam ainda realizados pelas mulheres depois de suas jornadas exaustivas de trabalho de forma gratuita e invisível.

Essa situação pode prejudicar também no que diz respeito a saúde do bebê, que terá, por exemplo, sua amamentação interrompida e vínculos importantes para o desenvolvimento saudável rompidos muito cedo.

O direito a maternidade e a infância plena é incompatível com o capitalismo e a luta contra toda opressão e a exploração capitalista levada até o fim passa inevitavelmente pela luta por uma outra sociedade.




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