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[Entrevista] "É fundamental a mobilização e ação dos sindicatos para enfrentar Bolsonaro no Brasil", diz Maíra Machado

La Izquierda Diario - Argentina

[Entrevista] "É fundamental a mobilização e ação dos sindicatos para enfrentar Bolsonaro no Brasil", diz Maíra Machado

La Izquierda Diario - Argentina

Apresentamos a entrevista que o programa Basta de Verso do portal La Izquierda Diario da Argentina, - integrante da Rede Internacional de Diários -, realizou com Maíra Machado, professora, dirigente do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, que foi candidata a deputada estadual (como parte de um polo classista e socialista) por São Paulo no primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil.

Publicamos aqui a transcrição de parte da entrevista realizada pelo portal La Izquierda Diario, que pode ser encontrado na íntegra aqui.

1) Como vocês no Brasil analisam os resultados do primeiro turno das eleições?

Maíra Machado: Bom, foram resultados gerais que não estavam previstos nas pesquisas, que previram corretamente os votos de Lula, mas que se equivocaram em relação aos votos no Bolsonaro. Lula ganhou o 1° turno com uma vantagem de 6,1 milhões, entretanto, Bolsonaro obteve mais de 51 milhões de votos e entra na disputa das eleições com novas forças morais, já que o PT havia agitado bastante a possibilidade de vitória já no 1° turno. Candidatos bolsonaristas para o governo dos estados mais importantes saíram eleitos ou em boas condições para a disputa de votos (Claudio Castro se elegeu para o governo do RJ, e o bolsonarista Tarcísio de Freitas, contra o que apontavam as pesquisas, terminou em 1° e tem condições concretas de ganhar o governo de SP). No Congresso foram muitos os bolsonaristas que entraram no Senado e na Câmara dos Deputados. Portanto, uma primeira conclusão é que o país está mais à direita do que se esperava. Mesmo em um eventual governo Lula-Alckmin isto significaria muito conflito e potenciais crises. Comparado a 2018, Bolsonaro obteve resultados proporcionalmente menores em estados economicamente importantes do país, especialmente nas capitais, onde a classe trabalhadora e a juventude são mais fortes (os bons resultados de Bolsonaro vieram dos interiores, com muita influência do agronegócio, e de algumas grandes cidades das regiões Sul e Centro-Oeste). Todavia, Lula segue sendo favorito para a disputa, tem o apoio de Simone Tebet e Ciro Gomes (terceira e quarto colocados), ainda que por hora as coisas seguem indefinidas. Por outro lado, outra conclusão muito importante foi que a tese da “Frente Ampla com a direita” para derrotar Bolsonaro se mostrou um fracasso total, como dizíamos aqui. Lula e o PT tem utilizado esta tese para justificar sua política de conciliação com a direita do PSDB (neoliberais clássicos do Brasil, que rivalizaram com o PT nas eleições durante a última década) e de unidade com grandes setores do capital industrial e financeiro urbano, incluindo setores de peso do autoritarismo judiciário e da ala Democrata do imperialismo ianque (Biden), e que, com esta política, acabaram somente por fortalecer a extrema direita. Por exemplo, Alckmin, o vice de Lula, teve muito peso enquanto era governador de SP pelo PSDB, tinha inclusive votações imensas nos interiores. Mas o interior de SP agora votou massivamente pela extrema direita, que absorveu a base social da direita tradicional. Este é um debate que atravessa setores da vanguarda que fazem uma experiência com esta política de Lula, de que a aliança com a direita não serve nem mesmo no terreno em que o PT diz funcionar, o eleitoral.

2) O que significa esta extrema direita na mão de Bolsonaro? E por outro lado te pergunto, o que é a frente de Lula? É comunista, progressista?

M.M. Bom, são distintos em seus projetos. Bolsonaro é a cara mais reacionária do apodrecido regime herdeiro do golpe institucional de 2016, defende um programa ultraliberal, de ataques permanentes, tem ódio as organizações operárias, as mulheres, os negros e a diversidade sexual, defende abertamente a ditadura patronal nas fábricas e o entreguismo nacional ao imperialismo. É o mais rançoso da extrema direita ligada a Trump e aos Republicanos, tendo apoio especialmente nas frações agrárias do capital, e alguns setores empresariais com interesse no campo. Já Lula tem um projeto de conciliação entre capital-trabalho, o que se mostra com a fórmula presidencial com Alckmin e setores de peso do capital urbano, um projeto de administração do capitalismo com certa participação estatal, uma relação negociada com os sindicatos com um discurso de “direitos sociais” aos mais pobres e uma agenda progressista nos costumes e na cultura, uma localização mais próxima da fração Democrata do imperialismo norte-americano. Ou seja, não são o mesmo, são expressões de distintas frações da classe dominante. Bolsonaro é um selvagem de extrema direita. Lula trata de normalizar o novo regime tentando acomodar as contradições enormes e a polarização que há, algo que não será possível mesmo caso vença a eleição, porque a direita estará mais forte no congresso, e o bolsonarismo nas ruas. Há que ver as mudanças dos últimos anos também. Em 2018, Lula foi proscrito arbitrariamente pelo autoritarismo judiciário, foi encarcerado escandalosamente, o grande capital e as frações dominantes do imperialismo estiveram com Bolsonaro. Agora, Lula foi resgatado pelo próprio regime bonapartista para relegitimar a ordem institucional contra as instabilidades de Bolsonaro. Está com as figuras oligárquicas da direita no Brasil, tem apoio dos grandes empresários da indústria e das finanças, o poder judiciário e a fração Democrata do imperialismo. Como disse, esta política somente fortalece a direita, por isso é preciso a Bolsonaro decididamente com a luta e organização nas ruas, e com independência de todos os capitalistas, porque não há outra maneira para combater esta extrema direita nefasta (isto é justamente o que as burocracias sindicais ligadas ao petismo tem impedido até agora).

3) Que política vocês levantaram enquanto MRT?

M.M. A questão central é organizar uma forte e decidida luta contra Bolsonaro e a extrema direita, organizando a mobilização desde as bases. Nós do MRT estivemos sempre na linha de frente no enfrentamento ao bolsonarismo, e agora é mais importante ainda a autoorganização dos locais de trabalho e estudo para derrotar os ataques, como por exemplo agora o ataque contra as universidades federais e a educação pública, e revogar integralmente todas as reformas que a extrema direita aprovou, em primeiro lugar a reforma trabalhista. A política de conciliação de Lula e do PT fortalece esta direita nefasta e leva à desmobilização. É fundamental exigir as direções dos sindicatos e movimentos sociais que rompam com sua passividade e convoquem greves e manifestações massivas que assumam o rechaço ao bolsonarismo ligado às reivindicações econômicas e democráticas, com um plano de lutas. A chave é colocar à frente nossas forças na luta de classes para combater seriamente a extrema direita.

Veja a seguir a entrevista completa:


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