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Luta em Porto Alegre | E se a sua profissão fosse simplesmente extinta? É o que pode acontecer com os cobradores

Professor? Pintor? Gari? Metalúrgico? Motorista? Porteiro? Cabelereiro? Faxineiro? Imagine essas profissões sendo extintas na canetada de algum prefeito de um dia para o outro? Uma história de serviços prestados à cidade jogados no lixo da noite pro dia, por decisão de um prefeito e alguns vereadores. Isso é a democracia? Desenvolvimento econômico? Pois bem, é exatamente isso que está ocorrendo com os cobradores de Porto Alegre.

sexta-feira 3 de setembro de 2021 | Edição do dia
Nobres guerreiros e guerreiras da Carris, motoristas e cobradores, na manhã de sexta-feira, 3 de setembro, cruzando os braços contra a privatização da empresa e a extinção do cargo de cobrador - Foto: Iza / Esquerda Diário

Melo e alguns vereadores de Porto Alegre dizem que o cargo de cobrador precisa ser extinto para “modernizar a cidade”. Ouvi um argumento dizendo que certas funções se tornam anacrônicas com a robotização e a tecnologia. Chegam a fazer a esdrúxula comparação do cobrador com a ascensorista ou o datilógrafo. Mas a comparação é descabida, o cobrador não será substituído por uma máquina – o que vai acontecer é aumentar a já alta sobrecarga de trabalho do motorista, tornar o transporte ainda mais inseguro e demorado. Quem paga o preço são, em primeiro lugar, os mais de 3 mil cobradores da cidade de Porto Alegre e também os usuários, ampla maioria de trabalhadores.

Por trás da ladainha da “modernização” existem números frios que visam tão somente o lucro. Cobradores, pais e mães de família, irmãos, tios, filhos e avós, se tornam números. Eles movimentam a cidade, mas para Melo e os empresários são “gastos”. Eles se expuseram na pandemia como poucas profissões, muitos adoeceram, outros tantos morreram, mas para os empresários eles são números. Assim é o capitalismo selvagem.

Agora imagine se a sua profissão, leitor, desaparecesse de um dia para o outro. Se de um dia para o outro você ficasse sem emprego, sem qualificação para trabalhar em outro ofício… O que fazer com os cobradores que comandaram a roleta por 20, 30, 40 anos? Os jornalistas da RBS, profissionais em atacar o direito de greve, não se importam muito com isso, já que recebem um generoso ordenado para mentir sobre a situação da Carris. Mas quantas pessoas perderiam seus empregos de um dia para o outro? Dizem que a extinção do cobrador é inevitável para garantir a evolução e o desenvolvimento econômico. Mas que “desenvolvimento” é esse que exclui pessoas? Que economia é essa que coloca gente na rua em meio a recordes de desemprego no Brasil do Bolsonaro, dos militares e desse regime golpista?

Há algo de podre no reino do Piratini. Na verdade a extinção do cobrador não tem nada a ver com evolução, tecnologia, modernização ou qualquer termo que o valha. Tem a ver com uma crise econômica brutal onde os patrões e governos estão dizimando com os direitos trabalhistas para nos fazer trabalhar até morrer em empregos precários. Nos querem uberizados para não ter 13º, férias ou direito de greve. Nos querem pedalando em sistemas de entrega para não termos salários dignos. Nos querem sem direito algum para lucrar e lucrar.

Quem se solidariza com os cobradores, nobres guerreiros que transportam vidas e fazem a cidade se movimentar, deve apoiar a sua luta. Devemos tornar a greve da Carris em uma grande causa popular não só porque eles estão defendendo os seus empregos e o transporte público de qualidade, mas também porque essa é uma luta de toda a classe trabalhadora. Frear esse ataque é um ponto de apoio para barrarmos todas as reformas e arrochos salariais que estão impondo a nós em meio à crise.

  •  Para saber como apoiar a greve da Carris, leia aqui: A greve dos rodoviários precisa virar uma grande causa popular de toda Porto Alegre

    Para terminar, deixo aqui um célebre poema de Bertold Brecht, chamando à urgência de lutar.

    É PRECISO AGIR

    Primeiro levaram os negros
    Mas não me importei com isso
    Eu não era negro
    Em seguida levaram alguns operários
    Mas não me importei com isso
    Eu também não era operário
    Depois prenderam os miseráveis
    Mas não me importei com isso
    Porque eu não sou miserável
    Depois agarraram uns desempregados
    Mas como tenho meu emprego
    Também não me importei
    Agora estão me levando
    Mas já é tarde.
    Como eu não me importei com ninguém
    Ninguém se importa comigo

  •  Leia mais: O 7 de setembro em Porto Alegre precisa ser um grito em apoio à greve dos rodoviários e contra Bolsonaro


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