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Debate sobre as novas tecnologias e o futuro do trabalho

O Circulo Vermelho

Debate sobre as novas tecnologias e o futuro do trabalho

O Circulo Vermelho

Em um mundo em crise foi reatualizado o debate sobre as novas tecnologias e seu impacto nas condições de trabalho. Diversos prognósticos falam de uma nova “Revolução Industrial” que ameaça provocar o “fim do trabalho” ou ao menos uma redução significativa e crescente do emprego. Qual será o impacto das novas tecnologias no “mundo do trabalho”? Que perspectivas se abrem? Tudo isso foi objeto de um interessante debate entre Eduardo Levy Yeyati e Paula Bach no programa de rádio argentino O Círculo Vermelho.

Eduardo Levy Yeyati é economista e investigador do CONICET (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas). Na atualidade é decano da Escola de Governo da Universidade Torcuato di Tella. Autor do livro Depois do trabalho, o emprego na quarta revolução industrial.

Paula Bach é economista e mestre em História Econômica e das Políticas Econômicas na Universidade de Buenos Aires. Escreve sobre economia internacional, geopolítica e tecnologia no La Izquierda Diario e no semanário Ideas de Izquierda.

Aqui reproduzimos alguns dos conceitos centrais utilizados no debate, que pode ser visto por inteiro no vídeo ou escutar no Audioboom ou no Spotfy.

Eduardo Levy Yeyati assinalou que “Os robôs existem faz muito tempo: As máquinas de controle numérico, a substituição do trabalho nas linhas de produção. É algo do passado. Quando alguém vê que decresce a participação da indústria no emprego, é por essas questões. Entretanto, de acordo com o investigador, a substituição do emprego que está se falando agora se deve a inteligencia artificial. “A substituição desse tipo de tarefas intelectuais, não em tarefas manuais que já vinham sendo substituídas a anos. Avança a fronteira da substituição e começam a substituir tarefas que nós humanos fazemos quando pensamos”. Ele adicionou uma incógnita: “Não se sabe se haverá mais ou menos trabalho ao final dessa revolução”, porém “o que vai acontecer é que haverá um deslocamento da demanda de trabalho. Algumas ocupações vão deixar de existir e outras vão transformar-se demandando novas habilidades. O resultado será que “haverá bolsões de desemprego, pobreza, conflito social, problemas de inserção […] Coisas que já estão acontecendo e que a tecnologia vai acelerar, explicou o economista.

Depois, questionou a ideia de estancamento secular enquanto uma teoria “que, basicamente, diz que os novos inventos não são tão produtivos como a eletricidade. Então não vai ter esse boom, esse novo empurrão de crescimento. Na opinião de Levy Yeyati as novas mudanças são “algo que ainda não medimos”; considerou que “a eletricidade se criou no início do século passado e demorou quize anos para entrar nas fábricas, Quinze anos onde se passou da linha de produção com único plugue para máquinas individuais com corrente alternada”. Adicionou que este processo que é conhecido como a Quarta Revolução Industrial “presume que trará um boom de produtividade que não se manifestou porque ainda não o vimos. De nenhuma forma sabemos quantas atividades serão substituídas porque não sabemos até onde chegará a nova tecnologia. O que estamos vendo é que os primeiros passos dessa possível revolução não trazem um aumento de produtividade”.

Avisou que “se não há aumento na produtividade, a mudança na demanda de trabalho será extremamente conflituosa”. Isso é assim, em sua opinião, porque “se não existe um aumento da produtividade, não haverá sobra para se dividir. Essa redistribuição sem aumento da produtividade será extremamente conflituosa não só no interior do país mas também entre países”.

A respeito dos impactos imediatos, para o economista duas questões principais a serem resolvidas devem ser consideradas: “Se a tecnologia é de substituição – em que o trabalhador compete com o robô diretamente – se exigirão menos horas de trabalho, se trabalharão menos ou pagarão menos nessa horas e isso, eventualmente, reduzirá a participação do trabalhador no produto. A pergunta é como o trabalhador segue sendo um ator ativo e um consumidor dos produtos que a inteligência artificial gera”.

Logo destacou uma questão cultural: “Estamos culturalmente formatados na ética protestante do trabalho. Se não trabalhamos, sentimos que perdemos”. Sobre o que fazer com a apropriação dos benefícios da aplicação tecnológica pelos empresários, o economista indicou que “não existem muitas propostas. Existem ideias antecipando a possibilidade de que caia o nível de emprego”. Não obstante, explicou que algumas ideias “pressupõe que teremos um bolo maior”, que é vinculada à renda universal: “Em base a ter algo realmente para repartir” Se essa previsão não se cumpre, “o que pode acontecer é que simplesmente taxando mais o investimento, o crescimento é menor” Porém essa redistribuição poderia ser feita “assumindo que há um aumento de produtividade e assumindo que grande parte dessa produtividade está nas mãos dos empresários”. A favor dessa hipótese, Levy Yeyati indicou que “há evidência hoje nos EUA que a queda da participação do trabalho no produto não é as custas de um aumento da participação do capital mas sim de um aumento dos lucros das empresas, porque houve uma concentração”. Grande parte da economia digital “tende ao oligopólio e por isso tem lucros maiores que os concorrentes” Então “há algo aí que está crescendo e que em um sistema tributário progressivo implicaria em mais dinheiro para o governo […] poderia-se recuperar parte dessa renda através do sistema tributário como está agora e reparti-lo”. Então, conclui o economista: “A renda universal é distribuir esses frutos da produtividade de modo a manter uma massa de trabalhadores que tenham uma renda, que seja um salário compensatório, e que possam consumir. Porém é a muito longo prazo”.

Para encerrar, Levy Yeyati agregou que “a renda universal é uma proposta para uma situação a qual ainda não chegamos todavia. Não temos forma de aplicá-la de uma maneira que seja sustentável”. Não obstante, diante da ideia de crise contrapôs sua opinião: “Não creio que tenhamos uma situação econômica tão negativa”, assinalou.

Paula Bach começou afirmando que não se pode falar ou segunda era das máquinas sem considerar as condições concretas da crise econômica mundial. “Existe um salto mortal entre, por um lado, o avanço da tecnologia e, por outro, a ideia de revolução industrial e fim do trabalho”, assinalou.

“Em que sentido? Uma coisa é o avanço tecnológico. Porém outra coisa é focar no problema explicito do que significa uma revolução industrial, que em geral e pelo que nos diz a história, são grandes mudanças, grandes convulsões, onde toda a economia se organiza de outra maneira”. Considerou que isso “está muito distante de acontecer. Tem que se colocar essa discussão na dimensão das condições da crise econômica internacional atual: estamos em condições do que Larry Summers chamou de estancamento secular”.

Bach assinalou que essas condições emergem da crise de 2008 e que a economia dos EUA exibe um crescimento muito baixo do investimento e da produtividade “que de alguma maneira é o termómetro da aplicação dessas novas tecnologias”. Adicionou “que a robótica existe faz tempo e que o novo na robótica, que são as imagens humanoides que aparecem em todos os jornais, é algo que está ficando para trás, que o mais avançado está na inteligência artificial”. Outras das travas a aplicação tecnológica está vinculada as tensões geopolíticas e, em particular, aos atritos crescentes entre EUA e China. Por tanto, “para o diagnóstico final de se vai haver realmente uma quarta revolução industrial e, sobretudo, se essa revolução vai acabar com o trabalho humano, o que é muito a dizer, temos que passar por todo esse filme que não tem final, tem um final aberto”.

Indicou que o desenvolvimento da tecnologia coloca a possibilidade “trabalhar menos horas, produzindo o mesmo e, entretanto, isso está impedido no sistema capitalista” que “necessita produzir em forma ilimitada e irracional e ao mesmo tempo subordinar – ainda que desde o ponto de vista tecnológico realizariam cada vez menos trabalho – uma quantidade de trabalhadores cada vez maior, em condições de exploração crescentes”. Na opinião de Bach, “as oito horas não vieram como correlato de uma nova técnica e da maior quantidade de produção mas sim de lutas gigantescas, como a dos Mártires de Chicago”, de modo tal que “na realidade o que termina reduzindo o tempo de trabalho é a relação de forças que se estabelece entre as classes sociais e não a vontade dos capitalistas nem tampouco a capacidade técnica das máquinas de reduzir o tempo de trabalho necessário”.

Em alusão ao livro de Levy Yeyati, Bach afirmou que “Existe uma parte que foi muita sugestiva para mim: Onde afirma que as condições de legitimidade da propriedade privada, de certo modo, são relativas nas guerras e nas revoluções” Na sua opinião “é uma boa definição porque permite pensar um pouco que no período que está aberto pode acontecer qualquer coisa […] pode acontecer uma guerra […] uma revolução”. Avisou que em caso “de um questionamento profundo da propriedade privada, teremos que ver como se desenvolve toda essa situação e como pode terminar. Porque também pode terminar melhor que em uma nova forma capitalista de incorporar tecnologia aumentando a exploração do trabalho”.

Bach enfatizou que “a ideia é fugir da necessidade e permitir o desenvolvimento da abundância”, e explicou que o que defende o marxismo é o “máximo desenvolvimento tecnológico porque justamente estamos a favor de que a necessidade vá progressivamente desaparecendo”, o mesmo com “o trabalho como obrigação, em seu aspecto de necessidade, não em seu aspecto criativo”. Não obstante, indicou que isso tem “uma contradição na realidade de que a tecnologia permite produzir maiores quantidades de produtos e por outro lado a necessidade do capitalismo de manter o crescimento constante dos lucros”. Existiu nas últimas décadas um processo combinado que eliminou trabalhos nas zonas industriais dos países mais desenvolvidos, como EUA ou Inglaterra, junto com a exportação de tarefas simples a países como a China, exemplificou Bach. Como resultado, agregou, a porcentagem de trabalho em termos globais, se manteve.

A respeito da desigualdade afirmou que a”desigualdade mundial não se reduziu”, pelo contrário, agudizou-se a concentração de renda nos setores mais altos: o 1%. Considerou que as políticas de renda universal “propõe-se retirar algo dos lucros tecnológicos” das empresas em uma situação mundial de estancamento secular e com políticas dos estados de redução do gasto público, como ocorre na atualidade na Argentina. Nessa situação, as políticas de renda universal “vão terminar sendo pequenas migalhas” para os trabalhadores excluídos enquanto se habilita a incorporação da tecnologia, aumentando os níveis de exploração dos trabalhadores com emprego. Bach indicou que é necessário unir o que o capital divide: “A solução passa precisamente por uma repartição das horas de trabalho mantendo o salário, conseguindo salários que estejam a altura das necessidades de uma família”, algo que desde já questiona os lucros capitalistas”, concluiu.

Tradução: Pedro Rebucci de Melo


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