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EDUCAÇÃO | Contra Bolsonaro, Leite e as reformas: qual CPERS precisamos? Uma proposta para o 39° Núcleo

Precisamos retomar o nosso sindicato para as mãos da base, apostando na luta de classes e superando a luta puramente jurídica e de pressão parlamentar levada à frente pela direção central do CPERS, que só tem acumulado derrotas. Ainda mais quando nossas vidas e de toda a comunidade escolar estão em jogo em meio aos recordes de mortes diários da pandemia.

quarta-feira 24 de março de 2021 | Edição do dia

Nossos direitos têm sido retalhados junto com nossas vidas, são quase 300 mil mortes em nome de uma crise que não criamos, uma crise criada pelos capitalistas e descarregada nas nossas costas com Bolsonaro, Leite e os governadores, os militares, o judiciário e os golpistas à frente. Crise cada vez mais escancarada com o colapso sanitário nesse momento. 

Muitos colegas do magistério se desfiliaram do sindicato e desacreditaram da luta por causa das traições da direção central (PT/PCdoB/PDT) nas greves que acumularam muita força e energia das professoras(es) e funcionárias de escola desde 2015. É preciso repensar totalmente o sindicato, que precisa ser uma ferramenta de luta e organização para as trabalhadoras e trabalhadores da educação, mas não para ser como era antes, quando foi dirigido pela oposição. É preciso superar essa experiência, aprofundando a democracia de nosso sindicato, com representantes eleitos em cada escola, núcleos vivos e assembleias amplas e bem construídas, onde a base possa ser escutada e não apenas as organizações políticas.

É inegável que é preciso uma unidade de toda a oposição para que a mesma burocracia petista de sempre não se mantenha na direção do sindicato e não venha a assumir os núcleos da capital e região metropolitana dirigidos pela oposição. Essa unidade precisa se dar em torno de um programa e de uma prática que apontem saídas concretas para nossa classe e construam espaços para dar voz à base da categoria, em especial as trabalhadoras mais precarizadas, as contratadas e terceirizadas.

É preciso um programa que aponte para a unidade com outros setores da classe trabalhadora, unidade com os Conselhos Escolares das comunidades (que precisam ser reativados), para que sejam os capitalistas que paguem pela crise que criaram, pois a burguesia atua, nesse momento de caos sanitário, para que nós paguemos com as nossas vidas para salvar a economia, como sugeriu Sebastião Melo (MDB) em live. Nesse sentido é de primeira ordem de importância a ativação dos Conselhos Escolares para efetivar a gestão democrática junto das comunidades, para que, nesse momento de colapso do sistema de saúde, sejamos nós, professoras e professores, funcionárias e funcionários, a comunidade e as trabalhadoras da saúde a decidir democraticamente em que condições as escolas devem funcionar e como e quando devem retornar ao ensino presencial. Uma democracia de base poderia pautar inclusive as mudanças do Novo Ensino Médio e o futuro do mundo do trabalho uberizado.

Essas profundas mudanças no CPERS têm que ser fruto de uma construção coletiva, com cada professora e funcionária de escola que viu seus direitos e salário descerem pelo ralo nos últimos anos. Tem que envolver um debate com amplos setores desde já em torno de um programa que apresente uma saída concreta para nossa classe. Nos núcleos da capital, 38 e 39, a oposição que dirige, PSTU e CEDES, precisam repensar suas práticas. 

Um programa que paute a quebra do sigilo fiscal de grandes sonegadores e o confisco de seus bens, uma taxação sobre as grandes fortunas gaúchas, o não pagamento da dívida fraudulenta com a União, um plano de obras públicas para ampliar os espaços escolares gerando emprego nas comunidades, a efetivação de todos os trabalhadores contratados e terceirizados bem como a ampliação do quadro de profissionais da educação. É preciso exigir a vacinação massiva da população com a quebra das patentes, bem como amplas testagens para um combate efetivo da pandemia. 

Como núcleos de oposição à direção petista do sindicato, o 38 e 39 poderiam e podem apresentar uma alternativa concreta de luta ao magistério. O que se viu nas últimas greves no entanto não foi isso. Nas maiores greves da categoria, desde 2017, não construíram e não tem construído espaços de discussão e deliberação nas escolas que representam, não organizam reuniões representativas nas regiões da cidade, seguiram a linha da direção central em comandos de greve para organizações políticas, sem representatividade por escola, sem representantes eleitos, e não tomaram medidas para unificar a greve do magistério com os municipários da capital.

Um programa para o sindicato não pode ignorar toda a precarização das e dos trabalhadores contratados e terceirizados tampouco permitir a divisão da categoria que só é vantajosa para o governo. É preciso lutar pela efetivação imediata de todas e todos os trabalhadores com contratos precários, que exercem o mesmo trabalho, mas não têm os mesmos direitos. Um programa de unidade de toda a oposição contra a burocracia petista deve pautar em amplos debates com a base a organização democrática de cada local de trabalho com representantes eleitos em cada escola que levem para as assembleias regionais suas demandas e encaminhamentos que sejam pautadas nos conselhos gerais e assembleias gerais.

Em breve se abrirá o processo de eleições sindicais, e alguns grupos já vem construindo chapas e divulgando posições nas redes sociais. Alas do PT como a Articulação de Esquerda (AE) tentam se descolar da atual direção central do CPERS. Até ontem, estavam juntos e votavam juntos as negociações com o governo que nos trouxeram até aqui. Ignoraram junto com a direção central as trabalhadoras contratadas e terceirizadas da nossa categoria. Nesse momento contam com setores adaptados do PSOL como CS, MES, Intersindical e Resistência para uma repaginação dos rostos na direção. Não queremos só rostos novos, já bem conhecidos aliás, queremos uma nova prática sindical, que vá além de luta jurídica e parlamentar. 

O CPERS é um dos maiores sindicatos da América Latina e pode cumprir um importante papel na luta contra Bolsonaro, Mourão e todo o regime do golpe que veio para aprofundar os ataques que o PT já vinha fazendo. A direção burocrática do PT e PCdoB, que inclusive usam o dinheiro da categoria sem consultar a mesma, realizando congresso em hotel de luxo em Bento Gonçalves como foi o último, querendo construir sede na praia e com uma porção de caminhonetes caríssimas, buscam manter seus privilégios como membros destacados de toda a categoria que sofre com os salários que teve o poder de compra reduzido pela metade e perda do plano de carreira.
 
Essa direção é totalmente inofensiva para Eduardo Leite pois funciona como contenção da luta dos trabalhadores. Reduziu a luta do magistério a mera luta jurídica e de pressão parlamentar, que embora importantes não podem ser os únicos meios de buscar nossos direitos. O principal meio deve ser a luta de classes ao lado das nossas comunidades escolares compostas de trabalhadoras e trabalhadores também cada vez mais precarizados, que são quem nesse momento devem decidir junto com as professoras, na gestão democrática das escolas, e junto das trabalhadoras da saúde quando e como é possível retornar às aulas presenciais.

Nós do Movimento Nossa Classe Educação fazemos um chamado a todos os setores organizados de oposição e todas as e os colegas que se posicionam de forma independente, contra a direção central burocrática do CPERS, para debater conosco essas ideias, pelo sindicato que queremos e precisamos, e para que o núcleo 39 possa ser um exemplo a toda a nossa categoria, apontando um caminho alternativo ao que vem fazendo a direção central.




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