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Geração Union | Com ameaça de greve ferroviária depois de 30 anos, reivindicações trabalhistas nos EUA estão para além da pauta econômica

Os sindicatos apontam que não se trata de rejeição da oferta salarial, mas sim de colocarem sua oposição às regras de trabalho que exigem deles o plantão e a prontidão para se apresentarem ao trabalho, sete dias por semana em grande parte do ano. No coração do imperialismo, trabalhadores se dão conta do valor do seu trabalho e lutam por melhores condições de vida!

terça-feira 13 de setembro de 2022 | Edição do dia

Com o registro do aumento da atividade sindical nos Estados Unidos no último ano, através da presença de greves e espaços de auto-organização, trabalhadores do país imperialista levantam pautas para além do dinheiro, colocando no centro das reivindicações as suas condições de trabalho. A ameaça da primeira greve ferroviária em 30 anos pode atingir em cheio a cadeia de suprimentos do país, golpeando diretamente a economia estadunidense.

A disputa trabalhista tem sido analisada por um painel presidencial que fez recomendações no sentido de que patrões e empregados concordassem com um contrato que propõe o aumento de 14% imediatamente, o ressarcimento de pagamentos atrasados desde o ano de 2020, junto a um acréscimo salarial de 24% no decorrer do contrato de cinco anos. O aumento corresponde a menos de 31% do que o sindicato tem reivindicado, embora seja mais do que os 17% da proposta anterior colocada pela administração. Por mais que alguns sindicatos tenham concordado com os acordos, aqueles que representam mais de 90.000 se opuseram, inclusive aqueles que compõem tripulações de trens de carga com duas pessoas.

De acordo com os sindicatos, a saída de trabalhadores de cargos que, em outro cenário seriam mantidos enquanto carreira profissional, é motivada diretamente pelas condições precárias de trabalho, o que aprofunda ainda mais a precariedade do trabalho daqueles que continuam, convivendo com a obrigatoriedade dos plantões que é, atualmente, a principal demanda de mudança.

Algumas falas dos trabalhadores representam a insatisfação com as condições impostas e posicionam suas demandas para além dos salários, reconhecendo a dimensão da qualidade de vida necessária para o trabalho:

“Não vamos sentar aqui e discutir sobre [salários] ou assistência médica. Estamos além disso” - Jeremy Ferguson, presidente do sindicato que representa os condutores.

“Correu a notícia de que esses empregos não são atraentes da maneira como tratam os trabalhadores”; “Os funcionários disseram ‘já chega’” - Dennis Pierce, presidente do sindicato que representa os engenheiros.

Para além dos ferroviários, seguimentos de profissionais da saúde mental da Kaiser Permanente na Califórnia e no Havaí estão em greve contra uma “equipe inadequada” que tem privado os pacientes de um cuidado eficaz na medida em que impede os funcionários de realizarem seu trabalho. A preocupação das profissionais com os pacientes se expressa na fala de Alexa Petrakis: “Estar longe dos meus pacientes é de partir o coração. Mas eles estavam recebendo cuidados inadequados”, disse Petrakis. “A cortina está sendo levantada neste sistema quebrado. Ele precisa mudar agora. Estou fazendo tudo que posso para que os cuidados deles sejam melhores.”.

No setor da educação, professores da Columbus e de Ohio entraram em greve logo no início das aulas, diante das condições estruturais precárias das escolas em ruínas, junto com a presença de turmas grandes de alunos.

Os levantes de greves na Amazon e Starbucks também sinalizam uma nova cara dos sindicatos compostos por uma juventude, a geração Union, que se nega a aceitar o futuro que o capitalismo lhes reserva, com jornadas exaustivas de trabalho, ambientes sufocantes e sem condições adequadas de segurança, que se aprofundaram principalmente após o início da pandemia.

De acordo com a Universidade de Cornell, houve um aumento de 84% de greves (263 ao todo) em relação ao ano passado. Contando com 826 eleições sindicais só no primeiro semestre deste ano, um aumento de 45% em comparação com 2021, segundo o Nacional Labor Relations Board. Os próprios funcionários dos sindicatos apontam que o aumento da atividade sindical como fruto da mobilização das pautas não econômicas.

“Eles querem que suas vozes sejam ouvidas. Eles estão trabalhando em horários horríveis. Os trabalhadores estão descobrindo que seus chefes não respeitam sua voz, eles não os respeitam.” - Fred Redmond, secretário-tesoureiro da AFL-CIO.

Reivindicações que unam a pauta econômica com a política são urgentes em qualquer organização de trabalhadores, tendo em vista que o sistema capitalista atravessa diretamente e sem piedade qualquer direito trabalhista que esteja fazendo frente aos seus lucros, influenciando diretamente na saúde, educação, moradia, lazer, etc. Ir além da pauta econômica significa reconhecer os trabalhadores enquanto sujeitos de suas próprias vidas, capazes de dispor sobre seu próprio trabalho e suas necessidades. Não é normal que a vida de milhões de trabalhadores escorra entre os dedos da precarização do trabalho que quer espremer até o fim qualquer resquício da força de trabalho através da exploração.

Precisamos nos apoiar nesses exemplos da classe trabalhadora internacional para lutarmos contra a carestia de vida que o capitalismo nos impõe. A classe trabalhadora dos Estados Unidos que vem se sindicalizando mostra o caminho para que os trabalhadores de todo o mundo se levantem contra esse sistema de miséria e de sofrimento, que quer fazer com que trabalhemos até morrer e que vivemos para enriquecer os grandes empresários e burgueses. Só os trabalhadores, aliados à juventude, aos negros, mulheres, LGBTQIa+ podem lutar e impor uma vida plena de sentido.




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