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PELO ACESSO ÀS VACINAS, CONTRA OS LUCROS E ACORDOS SECRETOS | Big Pharma e lucros bilionários da vacina: por trás de acordos e estudos clínicos secretos

Nas mãos da indústria farmacêutica, as vacinas estão longe de representar uma preocupação quanto à saída para a pandemia. São negócios bilionários numa corrida desenfreada. Por trás disso estão acordos comerciais secretos entre governos e indústria, e estudos clínicos cujos resultados são inacessíveis. É fundamental exigir a transparência de todos os dados em relação às vacinas, para que sejam acessíveis a todos.

sábado 6 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Imagem: Artem Egorov/iStock, via Getty Images Plus

A indústria farmacêutica dos grandes laboratórios mundiais – também conhecida pelo termo “big pharma” – representa um dos mais lucrativos negócios do mundo. Em 2019, o mercado mundial da fármacos atingiu um valor estimado em US$ 1,3 trilhão, e a receita somada das dez maiores empresas do ramo atingiu US$ 392,5 bilhões.

A maior delas, a estadunidense Pfizer, faturou sozinha naquele ano US$ 51,75 bilhões. A assustadora magnitude dessa cifra fica ainda maior quando se soma a ela a previsão de que apenas em 2021 a Pfizer lucre US$ 19 bilhões com a vacina para Covid-19. Já a AstraZeneca, que desenvolveu seu imunizante em parceria com a Oxford, que aparece em décimo no ranking de faturamento de 2019, com a receita de US$ 23,57 bilhões na época, dobrou seu lucro líquido no ano passado, passando dos US$ 299 milhões apenas no terceiro trimestre de 2019 para US$ 648 milhões no terceiro trimestre de 2020.

Leia também: "Guerra pelas vacinas": frente à irracionalidade capitalista, anulação das patentes e vacinas para todo mundo

Essas poucas cifras são suficientes para ressaltarmos duas questões fundamentais: a big pharma é um negócio trilionário, e as vacinas para Covid-19 são o que há de mais “quente” nele para multiplicar os lucros e os valores das ações das empresas. Assim, se para os bilhões de seres humanos que estão vivendo em um mundo pandêmico a perspectiva de uma vacina é vista como uma esperança de cessar mortes, sofrimento e da retomada gradual de todos os aspectos das nossas vidas que se viram radicalmente modificados, para esse punhado de indústrias as vacinas representam uma oportunidade única de valorização do seu capital. E por isso cada uma delas faria qualquer coisa para ser a primeira companhia a fechar negócio com os governos dos países de todo o mundo, clientes que comprarão doses de milhões de imunizantes.

A Big Pharma e um histórico de fraudes em nome dos lucros e contra a saúde das pessoas

Para pensarmos o nível de confiança que devemos ter em relação a essas companhias, vale resgatar brevemente um pouco do histórico de suas ações, e da forma como os governos lidam com elas. Hoje em dia já se conta com centenas de estudos e casos documentados que mostram as inúmeras fraudes cometidas por essas empresas em sua busca por lucro. Entre os nomes dos que investigam suas fraudes está o de Peter Gøtzche, pesquisador e médico dinamarquês com um vasto currículo de denúncias dos crimes da Big Pharma. Em um de seus livros sobre o tema, “Medicamentos mortais e crime organizado”, o cientista apresenta uma extensa lista de falsificações sobre informações de medicamentos que, com frequência, levaram a consequências gravíssimas para os pacientes submetidos a eles, incluindo a morte. Citemos apenas dois casos entre inumeráveis, e pegando duas das responsáveis por imunizantes contra a Covid-19, a Pfizer fez um acordo de US$ 2,4 bilhões nos EUA como resultado de um processo por promoção ilegal de 13 medicamentos, e a AstraZeneca efetivou um acordo de US$ 520 milhões de dólares que a AstraZeneca firmou no processo por comercializar ilegalmente um antipsicótico (Seroquel) para usos não aprovados pela FDA (Food and Drug Administration).

As investigações de Gøtzche e outros nomes como o jornalista Robert Whitaker, fundador do site Mad in America que traz informações sobre iatrogenia (doença induzida por práticas médicas e medicamentos) no campo da saúde mental, apontam que as agências reguladoras, os periódicos científicos e mesmo as universidades com imensa frequência atuam como cúmplices dos crimes da Big Pharma, na medida em que docentes, editores e diretores das agências possuem financiamento robusto dessas empresas, e muitas vezes revezam seus cargos na indústria com essas instituições. Uma prática análoga àquela que Lênin já em 1915 indicava que ocorria entre instituições financeiras e os grandes bancos – e que só se agravou imensamente no último século. Apenas como exemplo da total cumplicidade de pesquisadores com as manipulações da indústria, é extremamente comum a prática de ghost writing – em que a indústria produz um artigo científico e um pesquisador de renome apenas recebe para que assine a produção, sem ter feito parte dela e sem ter sequer acesso a todos os dados. Marcia Angell. ex-diretora do New England Journal of Medicine, um dos mais prestigiados periódicos científicos da área médica, afirmou em 2010: “simplesmente não é mais possível acreditar em muito do que é publicado em pesquisas clínicas nem confiar no julgamento de confiáveis médicos ou diretrizes médicas fidedignas. Não fico contente com essa conclusão, à qual cheguei de forma lenta e relutante ao longo de minhas duas décadas como editora”.

Se as vacinas são seguras e eficazes, por que os estudos são secretos?

Se ao longo das últimas décadas ficaram comprovadas inúmeras distorções e manipulações de estudos sobre medicamentos, agora, com os imunizantes contra a Covid-19, os dados são escondidos do público e mesmo do meio médico e científico.

Como afirmam pesquisadores espanhóis que organizaram um manifesto pela transparência das vacinas, “Sem transparência a confiança pública é impossível. Para esclarecer muitas perguntas em aberto e dúvidas sobre as vacinas, é necessário acesso a dados clínicos absolutos [sem processamento estatístico] por parte de investigadores independentes. Mas nenhuma das empresas envolvidas na estratégia de vacinas da UE compartilhou seus dados com terceiros até o momento. A Pfizer só começará a tornar os dados disponíveis 24 meses após a finalização do estudo. A declaração de intercâmbio de dados da Moderna estabelece que os dados clínicos ‘podem estar disponíveis sob requisição uma vez que seja completado o estudo’. Isso significa que não serão publicados até algum momento entre a metade e o fim de 2022.”

Casos de mortes possivelmente atreladas a efeitos adversos da vacina da Pfizer com investigações pouco esclarecedoras, somados à inexplicável anuência de governos a que os dados dos estudos sobre as vacinas permaneçam sigilosos e sob segredo das empresas que têm interesses bilionários nas vendas das vacinas, são absolutamente inaceitáveis e mostram que os Estados capitalistas estão ao lado das empresas.

Tão escandaloso quanto o sigilo dos estudos são os acordos secretos firmados entre as empresas e os governos, cujos termos são absolutamente desconhecidos para os principais interessados: o povo, que irá receber e que financia a compra das vacinas pelos Estados por meio de seus impostos.

Em meio a disputas imperialistas pelo compra das doses disponíveis, A União Europeia e os estados nacionais firmam acordos multibilionários para a compra dos imunizantes. Informações indisponíveis ao público incluem os preços por doses, locais de fabricação, a proporção de investimentos na fabricação entre dinheiro público e as empresas privadas. Mas, o mais escandaloso de todos os termos, são as exigências feitas por diversas empresas, e que a Pfizer vem tentando garantir a todo custo no Brasil, de que as empresas sejam desresponsabilizadas legalmente por qualquer efeito adverso decorrente da aplicação de suas vacinas.

Abaixo todos os acordos e estudos secretos: que o povo saiba tudo sobre as vacinas

Ou seja, não temos direito a saber nada, nem que cientistas independentes averiguem de forma isenta as condições de eficácia e segurança das vacinas, nem quanto estão lucrando por casa dose – com patentes bilionárias que não são tocadas pelos governos – e as empresas querem ainda se isentar de qualquer possível consequência pelos seus negócios que lucram bilhões em cima da pandemia, e impedem que bilhões de pessoas tenham acesso aos imunizantes.

Exigimos a divulgação de todos os contratos e acordos firmados por todos os governos estaduais e federal com as indústrias farmacêuticas em relação a todos os aspectos do desenvolvimento, fabricação, compra e distribuição das vacinas, bem como a publicação de todos os preços e quantidades de doses de vacinas.

Pela total divulgação e transparência de todos os resultados dos ensaios clínicos e dos protocolos dos estudos sobre as vacinas para Covid-19 para que sejam avaliados em tempo real por comissões de cientistas e pesquisadores independentes, incluídos os protocolos de análises estatísticas, os informes de estudos clínicos, dados de cada paciente e cópias da correspondência com a Anvisa e todas as partes chaves envolvidas no processo.

Pela responsabilização de todas as indústrias por todos os possíveis efeitos adversos decorrentes da aplicação dos imunizantes, que todos os casos suspeitos sejam investigados com o acompanhamento de comissões de investigadores e cientistas independentes.

Pela quebra das patentes das vacinas e de toda a propriedade intelectual envolvendo os imunizantes.




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