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Violência Policial | Basta de violência policial contra a população trans negra

Nessa semana, comemoramos o dia internacional da mulher negra, latino americana e caribenha, um dia em que retomamos as lutas das mulheres negras contra o patriarcado e o capitalismo. Nesse sentido, é de extrema importância retomarmos a luta das mulheres trans negras contra a violência cotidiana que sofrem de diversos agentes do Estado que querem reprimir a sua existência.

sábado 24 de julho de 2021 | Edição do dia

A polícia, como braço armado do Estado, demonstra sua verdadeira função no cotidiano, a repressão da classe trabalhadora, principalmente negra. Testemunhamos nos últimos meses diversos casos de violência policial, como a chacina de Jacarezinho, que foi a maior chacina da história do Rio de Janeiro. Também denunciamos o assassinato de Kethlyn Romeu, uma mulher negra, jovem, grávida, vítima dos tiros da polícia. Contudo, nos casos de violência com a população trans, esses casos são invisibilidades pela grande mídia que expressam a transfobia inerente ao sistema capitalista, que unido com o racismo estrutural cria um círculo de violência vinda do Estado representada pela ação da polícia.

A violência contra a população trans e travesti é diária. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans, contabilizando no ano de 2020 175 assassinatos, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra). Ainda, existe um enorme número de subnotificações de casos que podem aumentar em muito este número apresentado. Essas subnotificações são consequências de uma transfobia estrutural, onde muitas vezes essas pessoas não tem seu nome divulgado, ou é utilizado seu nome de registro na divulgação dos casos, e desta forma, um processo de apagamento dessas, acontece pela mãos dos grandes veículos de mídia, demonstrando o espírito reacionário e transfóbico da classe dominante brasileira que é expressa através de suas instituições.

Além de exercer força repressiva nas favelas, nas greves de trabalhadores, nas manifestações de rua, a polícia sistematicamente abusa da população trans e travesti. Nesse sentido, em parceria com a Antra, a Global Equality Founding lançou o dossiê, “Qual é a cor do invisível?" no qual expressa dados de violência com a população negra LGBTQIA+, e sua não notificação. Segundo relatos presentes no Dossiê, a violência policial com a população trans, são corriqueiras e normalizadas nas estruturas. Relatos de abusos sexuais, ameaças, extorsões e agressões são apresentados. Como Lohany Vargas, da rede Afro LGBT relata para o Global Rights Partners for Justice:

Acesse aqui o Dossiê "Qual é a cor do invisível?" na íntegra

“Então, essa violência com travestis de que falo e que posso atestar … há quantos anos trabalho nas ruas com essas garotas? cinco anos. É a polícia que as mata. É a polícia que as bane [das ruas]. Eles chegaram a cavalo uma vez expulsando as meninas do Rio Duto. Eles invadem boates apenas para expulsar as travestis. E quando eles pegaram uma garota negra, bem, então eles estavam prestes a matá-la. Às vezes eles as matam”

A repressão de minorias sociais por parte da polícia remonta o passado escravocrata do Brasil, onde qualquer um que subvertesse as regras da sociedade conservadora e reacionária militar deveria ser retirado de circulação. Assim, a negação das identidades negras e LGBTS, é uma prática para conter não só as possibilidades de subversão da norma e da moral, mas também deste sistema que não deixa nada para nós. Na ditadura militar, essa marca se tornou clara, quando, na procura dos inimigos internos do país, se passou a repressão também daqueles que subvertiam a visão conservadora da família burguesa, aos bons costumes e à moral burguesa. Desta forma se justificava a violência contra com a população trans e travesti, que passaram a ser criminalizadas e alvo de abusos constantes pela polícia.

A desumanização da população travesti e trans é parte do projeto de governo de Bolsonaro e Mourão, que reivindicam a ditadura militar como modelo de suas bravatas, no qual, com a esdrúxula ministra Damares Alves, queria impor o fim da “identidade de Gênero” falando absurdos como “menino veste azul e menina veste rosa” e atacando diretamente diretos da população LGBTQIA+, negando as suas identidades.

Nos últimos meses testemunhas o assassinato de quatro mulheres trans em um curto período em Pernambuco. No dia 19 de junho Kalyndra da Hora foi assassinada por asfixia pelo companheiro dentro de sua casa. No dia 24 de junho Roberta foi queimada viva no Cais de Santa Rita e após 15 dias lutando por sua vida, veio à óbito no dia 09 de julho; Crismilly Pérola, a Piupiu, foi assassinada na Várzea no dia 05 de julho. No dia 7 de julho, em Santa Cruz do Capibaribe, Fabiana foi morta a facadas. Esses casos chocantes caminham de mãos dadas com o descaso que estes casos são tratados pela polícia e pela grande mídia, onde estas mulheres muitas vezes não têm nomes revelados. Isto se agrava durante o governo Bolsonaro e Mourão, onde esbanjam transfobia, misoginia e racismo.

Assim, as mulheres trans que sofrem com o transfemicídio, LGBTfobia e misoginia, também sofrem com o racismo, e portanto, estão nos piores locais de trabalho, sofrem com a terceirização, com os baixos salários e com o apagamento constante de suas identidades. Portanto, essa luta tem que ser também levantada pelo movimento negro e pelos movimentos LGBT , como parte de sua luta por uma vida plena e que possa ser vivida. Contra a violência policial e a desigualdade, contra a desumanização das população trans e travesti, devemos lutar até o fim contra o capitalismo

Por isso, neste dia 25, devemos gritar não ao trans feminicídio e a violência policial, devemos demarcar a luta diária da população contra a violência e pelo direito de expressar a sua identidade. Essa bandeira deve ser levantada em todos os momentos de luta contra este governo misógino e lgbtqia+fóbico, e contra esta burguesia que impõem sua hipócrita moralidade para dominar os corpos das mulheres e da população negra. Nesse sentido, entendemos que essas reivindicações devem estar juntas na luta contra o governo Bolsonaro e Mourão, como no realizado no Estado Espanhol, onde milhares vão às ruas pedindo justiça por Samuel, jovem gay brasileiro, assassinado, onde o Estado foi responsabilizado, levando a uma luta que questione este sistema que levanta o ódio a população LGBTQIA+.

Veja também: É preciso mobilização contra a violência às mulheres trans e pessoas LGBT

Devemos levar a frente uma luta que questione o papel da polícia, devemos exigir investigações independentes nos casos de abuso, agressão a assassinato da população trans onde tenha envolvimento da policia, que não passe por tribunais militares que não passam de um teatro para livrar a cara dos assassinos, para que seus crimes fiquem impune. A luta da população LGBTQIA+ também deve ser uma luta contra o conjunto deste sistema, junto com os demais setores para que todos tenham direito a sua vida e a sua identidade.




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