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Crise institucional | A volta de Temer: por que o vampiro saiu da tumba?

Ao passo que toda repercussão em torno de Temer mostra a humilhação a qual Bolsonaro teve que se submeter após uma forte ofensiva que foi insuficiente para se sobrepor às demais instituições, ela também mostra as movimentações para sustentar as conquistas do golpe institucional.

Clara GomezEstudante | Faculdade de Educação da USP

quinta-feira 16 de setembro de 2021 | Edição do dia

Michel Temer é uma das figuras mais tradicionais da política nacional. Além de ter sido protagonista da aprovação de reformas contra os trabalhadores durante seu governo golpista ilegítimo, o ex-presidente possui uma longa trajetória política que passou por diferentes cargos nos governos estadual e federal, chegando até a ser deputado constituinte durante o processo de redemocratização do país e presidente da Câmara por duas ocasiões. Toda essa trajetória conferiu a Temer uma série de contatos com setores do mercado financeiro, com as forças armadas e diferentes alas que compõem as instituições do regime, sendo essa capacidade de trânsito um elemento fundamental para que ele conseguisse impor a Bolsonaro um recuo após os atos do último dia 07.

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De maneira súbita, sua figura ganhou novamente grande destaque, sobretudo, entre setores da grande mídia e da direita, como MBL que nos atos do dia 12 levaram faixas com dizeres “Volta, Temer”. Esse maior foco não deve exclusivamente a sua experiência como um presidente que seguiu no cargo com popularidade quase nula, o que serviria como ponto de apoio para Bolsonaro em um momento em que a aprovação desse vem caindo. Esse destaque se deve principalmente tanto a reafirmação do pacto social golpista articulado em 2016 entre Judiciário e alas majoritárias do parlamento e da classe dominante , quanto ao papel importante cumprido pelo ex-presidente na última semana como parte das movimentações que buscam a manutenção de cada um dos retrocessos obtidos nos últimos anos sobre os direitos dos trabalhadores.

Como mencionado, Temer é uma das principais figuras políticas do regime que não à toa foi convocada para produzir a carta humilhante que foi divulgada por Bolsonaro frente à agudização do conflito entre os poderes e o debilitamento de seu governo mesmo com os atos. O ex-presidente ressurge como porta-voz dos interesses de setores da economia produtiva, do mercado financeiro e do Centrão que se viram insatisfeitos com a escalada da crise política, cujo auge foram os atos bolsonaristas no dia 07. Nesse sentido, ao mesmo tempo que representa os interesses desses e outros setores que disciplinaram parcialmente Bolsonaro, Temer também utilizou da sua capacidade de mediação para reduzir momentaneamente os conflitos da crise que segue em curso, de modo que a obra do regime do golpe institucional não seja colocada em risco em função da instabilidade política e econômica.

Essa capacidade de costura que contornou a crise institucional, mesmo com o conflito entre Executivo e Judiciário chegando em seu auge, expressou-se na ligação entre Temer e Moraes, ministro do STF indicado justamente pelo ex-presidente. Outra demonstração foi a contenção de setores do Centrão, como Kassab, um termômetro importante desse setor, que desde a publicação da carta mudou de posição e deixou claro que a possibilidade de impeachment se distancia nesse momento.

O vídeo que viralizou nas redes sociais, no qual Temer ri da imitação de Bolsonaro feita pelo “humorista” André Marinho, reforça o papel do ex-presidente para garantir o recuo. Filmado e divulgado intencionalmente pelo seu assessor, o vídeo mostra como Bolsonaro teve que se disciplinar para evitar um avanço maior sobre seu governo e sobre sua família que hoje é alvo de investigações. Dessa forma, ao passo que o material divulgado cumpre o papel de exibir a humilhação do atual presidente que não conseguiu organizar atos fortes o suficiente para se impor às demais instituições, ele demonstra também o papel de sustentação cumprido por Temer e pelos setores que esse representa para garantir que cada uma das reformas sejam aprovadas.

Correndo ao resguardo de Bolsonaro, Temer prova mais uma vez como o regime se dispõe a manter o bolsonarismo como sua pata de extrema direita, o bonapartismo institucional ainda mantém intenções mais centrais em manter o seu "filho ilegítimo" na presidência até às eleições de 2022 do que um impeachment. O cálculo pela estabilidade a serviço dos capitalistas e de mais ataques e reformas pesa, e Bolsonaro, apesar das diferenças de método e de grupos que privilegia, realiza sua tarefa com empenho. Importante destacar que o bolsonarismo e seu reacionarismo está longe de estar morto, ao contrário, a atuação de figuras como Temer servem para tentar momentâneamente acordos e distensionamentos, mas estrategicamente a extrema-direita segue com seu projeto, e inclusive poderá promover novas ações reacionárias, como a do dia 07.

Essa articulação para garantir que os efeitos da crise continuem sendo jogados sobre as costas dos trabalhadores, coloca em dia a necessidade uma saída independente sem confiança na institucionalidade burguesa para derrotar de fato o governo de Bolsonaro. Temer, STF e outros atores como os governadores e o congresso passam longe de serem defensores da democracia, pelo contrário.

Cada um deles cumpriu um papel fundamental para que Bolsonaro fosse eleito, assim como não hesitam em degradar ainda mais as condições de vida e trabalho da classe trabalhadora no país em que se formam filas em açougues por ossos. Somente a força organizada dos trabalhadores é que pode dar uma saída para a crise, sem alianças com MBL como fez o PCdoB nos atos do último dia 12, muito menos com a paralisia do PT que não organiza os trabalhadores a partir da CUT para fazer a população esperar até 2022.

É fundamental se apoiar em cada foco de luta que se levanta pelo país para conseguir colocar abaixo Bolsonaro, Mourão, o conjunto do regime do golpe e suas reformas a partir da organização dos trabalhadores em cada local de trabalho, por uma greve geral que acerte em cheio os bolsos dos empresários.

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