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#SEMANAMIGUEL | A repressão no Recife e a justiça por Miguel

O que a repressão deste 29M na cidade do Recife tem a ver com a impunidade e as arbitrariedades no caso do Menino Miguel?

terça-feira 1º de junho de 2021 | Edição do dia

Ilustração: Victor Cubaiá

De um lado, a cidade de Recife ganhando o noticiário do país todo pela repressão injustificável de Paula Câmara, que terminou com dois trabalhadores perdendo a visão. De outro lado, o fato de que no dia 2 de junho se completa 1 ano da morte do menino Miguel, filho de Mirtes Renata, que ficou por poucos minutos aos descuidos da patroa e, enviado para um andar superior, terminou perdendo a vida ao cair do prédio. Há algo de podre na hipocrisia do governo e da justiça nos dois acontecimentos, e é preciso unir os pontos.

Sobre o dia 29, não há nenhum indício forte que aponte que estamos diante de um motim, ao contrário. Quando isso aconteceu no Ceará houve maior conflitividade. Estamos diante de ordens de um governo dito de centro de reprimir de forma desavergonhada a juventude e os trabalhadores no dia 29 em Recife, quando nem os governos de direita o fizeram. A explicação remete ao sistema político mais geral.

O PSB parecia estar se fortalecendo. De Geraldo Alckmin à Marcelo Freixo, passando por Tabata Amaral, as “promessas de contratação” desse partido circulavam pelos meios, e com elas o sinal de fidelidade ao regime político. Não existe maior juramento às classes dominantes do que uma postura agressiva, uma repressão, contra a massa trabalhadora e a juventude, diante das lutas sociais.

Ao mesmo tempo em que Paula Câmara flertava com o PT e o sonho de ser vice de Lula, o partido de conjunto faz um sinal também para o capital financeiro. Era esse o resultado esperado, mas no palco da luta de classes, o espetáculo nem sempre está no controle dos dominantes, nem mesmo do clã de Pernambuco. O descontrole não provém dos “setores bolsonaristas da polícia”. É a polícia. Essa instituição e seu comando diante da primeira ordem de repressão, cumpriu as ordens com grande dedicação, e claro que bolsonaristas mais radicais exercitaram seu sadismo repressivo. Spray de pimenta na vereadora do PT e dois trabalhadores perdendo o olho em meio a repressão, uma lástima, um descalabro.

[Um parêntese: é irônico que no último oito de março uma companheira do Pão e Rosas de Recife colocou que não era possível avançarmos no movimento em aliança com o PSB, e foi recebida pelo PT com a resposta de que “não se pode quebrar a unidade...com o PSB”. Acho que está companheira estava certa, não?]
Voltando à repressão. Agora Paulo Câmara, João Campos e o PSB tem que lidar com os “excessos inesperados”, deixando ambíguo o que foi de sua autoria. Mas o secretário de justiça afirmou que “nós [o governo] acompanhamos a operação desde a praça do Derby [concentração do ato]”. Disse que iria afastar os polícias do spray de pimenta e o comandante para “averiguar”. Apesar da grande demagogia do governador, até segunda-feira à noite os presos na manifestação continuam sendo processados.

Daqui o fio de ligação. Vejam a “justiça do 29M”, dos quatros presos, nesse delírio repressivo do governo e sua polícia, um era entregador, de 23 anos, com duas filhas, que estava passando pelo ato. Queriam que ele pagasse uma multa de 5 mil reais! Obviamente o mesmo tratamento não foi dado aos atos bolsonaristas, esses até tiram fotos com os policiais. Afinal, as balas da repressão policial encontram um alvo que tem cor e classe, a trabalhadora.

Aqui começamos a ligar os pontos. Na outra frente da nossa batalha contra os mesmos inimigos, Mirtes Renata vai completar um ano de luta cotidiana por Justiça por Miguel. Olhem essa imagem: um entregador próximo ao ato é preso e pedem 5 mil de fiança no mesmo dia para ele que não estava no ato, e mesmo que estivesse, é a coisa mais democrática possível poder ter o direito de se manifestar contra um governo de gestão catastrófica da pandemia que tem ceifado milhares de vidas e empurrado o Brasil à fome. Enquanto isso, Sari Corte Real, a patroa que colocou Miguel no elevador e apertou o botão enviando o menino Miguel para o nono andar, que terminou na morte de uma criança, segue impune. A conclusão, ao meu ver, é óbvia. O governo e a justiça têm classe, e não é a nossa.

Alianças, conciliações, esperanças dos que querem governar para a elite escravocrata e burguesa em Pernambuco ou em cada canto desse país, só podem levar a novas catástrofes, novas desilusões, novas perdas de esperança. Vejam a que ponto com a experiência da conciliação dos governos petistas chegamos nesse país: ataques da grande mídia, do judiciário, Lava Jato, golpe institucional e a emergência da extrema-direita. Não, basta, não vai dar jogo por esse caminho.

O que faz tremer o governador e o juiz racistas não são as promessas, as corregedorias, as ONGs e a hipocrisia da Globo. O que faz tremer esses de cima é a ação dos de baixo, dos trabalhadores e jovens que decidem se rebelar e organizar sua revolta nas ruas contra essa situação.

Daqui a consideração que me resulta: nessa semana, especialmente em Recife, o movimento deveria fazer sua, na luta por organizar novos atos e chamar uma paralisação nacional, a bandeira da luta por Justiça por Miguel. E essa luta, por seu lado, deve reafirmar os métodos do 29M, pois só seguindo a mobilização e desconfiando das instituições vamos avançar firme nessa batalha. Essa é a unidade que queremos, e que vamos batalhar por ela.




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