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Escalada na retórica golpista | A luta de classes é o que pode calar as ameaças militares

Na última semana, o estado maior das forças armadas deu um salto qualitativo na sua retórica golpista na política nacional, como não se via desde consolidada a constituição de 1988.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

sexta-feira 16 de julho de 2021 | Edição do dia

Foto: Alexandre Manfrim

Trabalhando ora nos bastidores, ora de maneira mais aberta durante o processo de Impeachment de Dilma e depois na prisão de Lula em 2018, em apoio à Lava-Jato e conluio do Estado norte-americano, os chefes militares vêm disputando desde 2016 junto ao STF, o papel de força moderadora, ou seja, o poder de tutela deste regime apodrecido do golpe institucional.

Semana passada, a declaração do presidente da CPI, Omar Aziz, contra a “banda podre” das forças armadas, teve, talvez, um efeito inverso do que ele esperava. Sempre que Bolsonaro vomitava alguma rotineira ameaça golpista acompanhada de “meu exército”, a grande mídia, os partidos da direita tradicional e até mesmo veículos de imprensa progressista faziam questão de ressaltar a ala “legalista” e colocar palavras de respeito ao jogo democrático formal na boca dos militares, tentando, assim, separar os “bons” dos “maus” militares.

As críticas da grande mídia aos militares, que cresceram após o “perdão” execrável do estado maior à indisciplina de Pazuello, e intensificaram-se mais depois do surgimento de coronéis corruptos, e generais, nos esquemas de compra de vacinas, esperavam enfraquecer os militares. As frações do bonapartismo institucional que se alinham em torno do STF e da CPI tiveram o efeitos não de separar a “banda podre”, mas acabaram por alinhar as forças armadas, que fizeram uma operação articulada que representou um salto qualitativo na sua retórica golpista no regime.

Acontece que a separação entre legalistas e a “banda podre” não passou nunca de uma ilusória mentira. As palavras de Aziz foram respondidas por uma declaração conjunta do comando militar, junto de generais da reserva, da entrevista do comandante da Aeronáutica e do comandante da Marinha.

As diferenças políticas entre os militares, que se mantém obscuras pelo próprio caráter de cotidiana conspiração dentro das cúpulas contra a soberania popular, não estão acima do projeto político que defendem. Se acham, como fez o STF em 2016 e 2018, os defensores da “lei e da ordem”. Se unificam em torno do artigo 142, da Lei de Segurança Nacional,a anistia dos torturadores e de toda sua tradição, mestre em dar golpes, reprimir e massacrar a população que se revolta, enquanto se ajoelham aos EUA. O oficialato brasileiro é, acima de tudo e de todos, profissional na arte de reprimir a classe trabalhadora, explorados e oprimidos, na defesa da ordem e lei capitalista, suas reformas anti operárias, privatizações e privilégios.

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Homem armado não ameaça

Contra os quilombolas que lutavam contra a escravidão, contra a população de Canudos, pela invasão de territórios dos povos indígenas, os miltiares não ameaçavam, mas executavam a repressão, genocídio e expansão da ordem colonial e domínio dos senhores de engenho com maestria. O mesmo fizeram em 1964 contra camponeses e a classe trabalhadora, em nome do imperialismo americano e a burguesia nacional.

Contudo, o homem armado também teme, e o que mais o amedronta é a ameaça à ordem burguesa que explorados e oprimidos podem representar. Por isso, desde quando as FA ainda eram as tropas imperiais de Portugal, buscavam o domínio na base da bala. Mas, nem mesmo os tanques de guerra foram capazes de conter o grande ascenso operário no final dos anos 70, quando metalúrgicos no ABC enfrentaram-se com a repressão da Ditadura Militar. O papel de contenção coube à Lula e os “sindicalistas autênticos”, que se alinharam junto à direita do MDB pela transição “lenta, gradual e segura” oferecida pelo regime militar.

Hoje, da mesma maneira, vemos um processo de contenção de todo o ódio e rechaço ao governo de Bolsonaro, Mourão e militares, que busca preservar este regime golpista que pariu Bolsonaro. As alas alinhadas ao STF e a oposição burguesa à Bolsonaro tentam lavar suas mãos, fazendo demagogia com os escandalosos casos de corrupção que a CPI revela. Contudo, o que indica as consequências da declaração de Aziz e a recente campanha da mídia burguesa contra os militares é que não é possível confiar nesta direita embandeirada do Impeachment, a prisão de Lula, das privatizações e reformas e muito menos nos seus métodos de luta política que apostam nos mecanismo institucionais deste regime apodrecido por eles e agora por Bolsonaro e militares.

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Trabalhador em greve aterroriza homem armado

A hospitalização de Bolsonaro abre novas interrogantes, mas que não mudam o fato que uma das suas primeiras visitas foi de Heleno, chefe do GSI. Contra a escalada militar é necessário que a classe trabalhadora se coloque como um sujeito político central, formando uma unidade de aço com a juventude, negros, mulheres, LGBTs, indígenas e camponeses. Essa unidade entre explorados e oprimidos é capaz de derrotar a unidade golpista expressa pelos militares, que escalou em qualidade.

Uma greve geral, organizada a partir de uma intensa mobilização, seria uma demonstração de força que tem o potencial de aterrorizar muito mais os generais do que declarações de senadores, revelações da CPI ou editoriais de jornais liberais. Para isso, contudo, as centrais sindicais, como a CUT e CTB, assim como a UNE, que no momento realiza um congresso sem direito de voz da base de estudantes, precisa romper com a paralisia.

Aproveitando-se dos rachas internos deste regime do golpe, a classe trabalhadora e o conjunto dos oprimidos pode emergir como sujeito independente para revogar as reformas, privatizações e privilégios que enriquecem e apoderam os militares, impondo uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que também avance para punir Pazuello e seus coronéis, assim como os torturadores da Ditadura, extinguir a LSN e o artigo golpista 142.




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