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EDITORIAL | 5 pontos para potencializar a mobilização com a força do 29M

As mobilizações do 29M marcam uma inflexão na conjuntura política do país. É a volta dos atos de rua em meio à pandemia. Uma ampla vanguarda, que lutou contra o negacionismo de Bolsonaro, percebeu que não pode cair na falsa campanha do #FicaEmCasa da Rede Globo, de setores do regime político e das burocracias, que têm utilizado a justificativa sanitária para conter o descontentamento social, deixando as ruas para a extrema-direita. E por isso o ódio a Bolsonaro se fez sentir nas ruas em todos os estados. Mas e agora, como seguir?

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

segunda-feira 31 de maio de 2021 | Edição do dia

As ações de sábado foram uma expressão de um descontentamento estendido ao longo do último um ano e meio. 460 mil mortes por Covid, fome, desemprego, reformas, privatizações e cortes nas universidades. Esse descontentamento social vinha sendo “comprimido” pela política do PT, através da direção da CUT, e do PCdoB, na direção da UNE, que serviram como correia de transmissão da política dos governadores, STF e Congresso Nacional que diziam #FicaEmCasa enquanto uma enorme massa de trabalhadores seguia trabalhando durante toda a pandemia sem segurança sanitária. Os atos mostraram como amplos setores sociais, em especial da juventude, perceberam que essa política não impediu que centenas de milhares morressem pelo covid, e pior, estão morrendo de fome e sofrendo com o desemprego, e que é preciso no Brasil seguir o exemplo da Colômbia porque o governo brasileiro também é mais perigoso do que o vírus. No Brasil as burocracias alimentaram o medo e passaram a usar a situação pandêmica como forma de conter as mobilizações buscando transformar trabalhadores e jovens em espectadores da CPI da Covid ou massa eleitoral passiva para 2022. O PSOL seguiu essa mesma política. Um ano e meio depois, ficou claro que é preciso lutar e esse é um dos principais ganhos subjetivos do 29M, o que marca uma inflexão na conjuntura do país. Todo jovem e trabalhador está agora se perguntando, como seguir? Apresentamos aqui 5 pontos decisivos para a continuidade da nossa luta.

1 - Unir as demandas da juventude e da classe trabalhadora

Desde o começo do ano se expressaram alguns focos de resistência em setores da classe trabalhadora com greves e lutas parciais. Mas na semana anterior ao 29M, a greve dos metroviários de São Paulo já apontava “novos ares” da situação política no país. Uma categoria estratégica se enfrentando com o governo do Estado de São Paulo para impedir que utilizassem o Metrô como “ataque exemplar” para retirar direitos também de outras categorias. Apesar de toda a operação midiática para colocar os metroviários contra a população, isso não teve sucesso. O apoio popular se fez sentir e o governo não conseguiu ser duro em toda a linha. A mobilização dos metroviários continua e em meio a isso os cortes nas universidades federais avançaram e os estudantes começaram a se mobilizar. Um começo de aliança operária-estudantil através da unidade entre metroviários e estudantes das universidades federais já poderia se apontar como uma política explosiva. Mas o que vimos sábado nas ruas coloca a necessidade de que seja consciente a política de unificar as demandas. Lutar contra os cortes nas universidades, mas também lutar contra as reformas, o desemprego e as privatizações, por vacina pra todos com a quebra das patentes. A unificação dessas bandeiras pode massificar as mobilizações canalizando de forma mais coordenada o descontentamento que já está colocado contra as mortes por Covid e a fome, junto com essas demandas. A bandeira da unificação entre trabalhadores e juventude é fundamental porque as direções dos movimentos atuam para separá-las. Enormes ataques, como a privatização da Eletrobrás e a reforma administrativa, estão tramitando no Congresso e a unificação das pautas é fundamental para que eles sejam derrotados.

Veja também: Unificar estudantes e trabalhadores contra os cortes e em defesa das mulheres rumo ao dia 29

2 - Assembleias de base e Comando Nacional nas Universidades Federais

Para potencializar as mobilizações é preciso organizar as novas ações a partir das bases definindo urgentemente uma nova data de forma democrática. Isso significa voltar para as estruturas operárias e estudantis e organizar assembleias de base que debatam os rumos do movimento. A nossa luta não vai se potencializar se for depender de direções burocráticas dos movimentos que não colocam no centro o peso da base para massificar ainda mais a luta. As assembleias alastradas aos milhares por todo o país poderiam votar as demandas e a política a levar adiante, exercendo na prática a aliança entre juventude e trabalhadores, com a juventude por exemplo se posicionando contra o novo ataque do STF que permite a demissão em massa passando por cima dos acordos coletivos de cada categoria. E partindo de que as universidades federais vem sendo o setor de vanguarda mais organizado, poderia sair na frente colocando de pé um verdadeiro e forte Comando Nacional com delegados eleitos em cada universidade federal, buscando se ligar não somente aos trabalhadores mas à juventude de fora das universidades. Essas são medidas de organização decisivas para impedir que o movimento seja burocratizado e ao contrário possa dar vazão organizativa para o ímpeto de juventude que se expressou nas ruas.

3 - Os sindicatos precisam convocar uma paralisação nacional

Para potencializar as ações de rua, os sindicatos precisam convocar uma paralisação nacional. Manifestações de dezenas ou centenas de milhares nas ruas ao mesmo tempo em que os principais setores da classe operária paralisam suas atividades para derrotar o governo e todos os ataques em curso poderiam ter um impacto muito grande. A classe trabalhadora precisa entrar em cena e para isso as centrais sindicais, especialmente a CUT e a CTB, precisam sair da “sua quarentena” e organizar a luta dos trabalhadores. A Conlutas e a Intesindical precisam dar o exemplo e desde as categorias que dirigem organizar assembleias que votem um dia de paralisação nacional e um chamado à que a CUT e a CTB encampem essa política. É preciso exigir que essas direções não atuem como cabos eleitorais de Lula nos sindicatos, mas sim que organizem a luta dos trabalhadores agora. Uma paralisação nacional seria a expressão mais forte da unidade da nossa classe junto com a juventude culminando em uma nova manifestação ainda maior em todas as capitais e estendendo para mais cidades. Para que uma paralisação assim aconteça, é importante denunciar a política que o PT vem tendo que não é apenas de “silêncio” por parte de Lula, mas é de contenção do descontentamento para que não saia do controle. Por isso, lutemos em todas as assembleias por uma paralisação nacional.

Saiba Mais: Que as centrais sindicais convoquem uma paralisação nacional contra Bolsonaro e Mourão

4 - Fora Bolsonaro, mas também Mourão e os militares

O motor comum a todos os setores que saíram às ruas foi sem dúvidas o repúdio a Bolsonaro. A palavra de ordem “Fora Bolsonaro” foi colocada do começo ao fim. Nós viemos debatendo sobre essa política: a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” expressa o rechaço da população contra Bolsonaro mas ganhou um conteúdo específico pela política do regime, do PT e também da esquerda institucional de que a saída de Bolsonaro seria através de um impeachment. Isso significa na prática a entrada do General Mourão. Aqui há dois problemas: o impeachment depende da maioria do Congresso Nacional votar e ter acordo com a saída de um presidente, portanto se o Congresso Nacional votar favorável a saída de Bolsonaro isso não significa que o regime político estará mais fraco, e sim que estará unificado para retirar o presidente e colocar outro que possa seguir os ataques. É absurdo o argumento de Boulos de que Mourão seria mais responsável com a pandemia, sendo que os militares são parte da sustentação de Bolsonaro e de tudo que ele fez até aqui. Mais absurdo ainda é admitir que ele manteria a mesma política econômica, ou seja, a agenda de ataques, como se isso fosse de menor importância. O segundo problema é que o lento processo de impeachment não é para “já”, como dizem alguns setores, senão que demoraria meses chegando perto das eleições de 2022, ou seja, ninguém seriamente cogita essa possibilidade. Por isso a bandeira do movimento tem que ser clara e categórica: Fora Bolsonaro, Mourão e os militares. E levando em conta que os outros setores do regime político, como o STF e o Congresso, querem se salvar, deveríamos debater no movimento a bandeira da Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pelas mobilizações em curso para não mudar apenas os jogadores e sim as regras do jogo. Neste caminho nós como revolucionários defenderemos a luta para impor um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

5 - A força das ruas não pode ser utilizada para fins eleitorais por Lula

O regime golpista no Brasil reabilitou Lula como presidenciável devolvendo a ele seus direitos políticos retirados por este mesmo judiciário de forma absolutamente arbitrária e golpista, questão que denunciamos como MRT fortemente diante não somente do golpe institucional, mas também da ofensiva imperialista da Lava Jato. Entretanto, que seja esse mesmo regime o que “devolva” os direitos políticos de Lula é expressão de um rearranjo rumo a 2022 e não que o regime “deixou de ser golpista” ou que as massas em luta tenham conquistado esse direito. Por isso é preciso ter claro o papel que Lula e o PT cumprem como contenção das mobilizações mirando 2022. Enquanto Lula negocia com diversas figuras como FHC, Sarney e Kassab, ignora as manifestações para preservar suas alianças com golpistas e burgueses, que também são responsáveis por todos os ataques que foram implementados desde o golpe, e que Lula já sinalizou que não serão revertidos por ele. Se o dia 29M não seguir uma agenda de mobilizações, inclusive com exigências por uma paralisação nacional, unificando a luta de trabalhadores e estudantes, a tendência é que toda a força que se expressou seja utilizada como massa de manobra eleitoral. É preciso confiar somente nas nossas forças para derrotar Bolsonaro, Mourão e todo o regime do golpe e para fazer com que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

Pode te interessar: Atos do 29M mostram nossa força pra lutar, sem conciliação com inimigos como propõe Lula

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O Esquerda Diário se colocará como ferramenta de luta dessa batalha e a juventude Faísca - Revolucionária e Anticapitalista convocará nesta semana reuniões estaduais para debater a continuidade da mobilização, participe.




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