×

Rumo ao Acampamento Nacional da Faísca | 5 motivos para os estudantes da UFABC serem parte da Refundação de uma Juventude Revolucionária no Brasil

Nos dias 10, 11 e 12 de dezembro ocorrerá o Encontro Nacional de Juventude impulsionado pela Faísca - Anticapitalista e Revolucionária, com estudantes secundaristas, jovens trabalhadores e universitários do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte. Contará com centenas de jovens para debater a necessidade de uma juventude revolucionária para enfrentar a extrema direita com independência do PT, que segue imobilizando a luta contra Bolsonaro, Mourão e o regime do golpe, para transformar nossa energia e disposição de luta em votos em 2022. Este texto é pra você que acredita, assim como nós, que não podemos esperar até as eleições, porque a comida no prato e trabalho com todos os direitos precisamos para já, é urgente nos para transformar a vida e mudar o mundo.

sábado 20 de novembro de 2021 | Edição do dia

Como parte da preparação do Encontro Nacional, a juventude Faísca junto com o grupo de mulheres Pão e Rosas tem organizado regionalmente encontros teórico-políticos para apresentar nossas ideias socialistas e revolucionárias, e poder dar bases aos debates de refundação de uma juventude revolucionária nacional. Se inscreva aqui para participar do Encontro no ABC.

Apresentamos abaixo, cinco motivos do porque os estudantes da UFABC devem participar junto com a Faísca ABC desse encontro e da construção de uma juventude com ideias trotskistas para conectar cada uma das nossas lutas com o objetivo de acabar com o capitalismo e todas as formas de opressão.

1. A experiência da aliança entre estudantes e trabalhadores como na greve da GM é o caminho:

Durante as duas primeiras semanas de Setembro, os trabalhadores da GM cruzaram os braços e realizaram uma greve importante em São Caetano do Sul contra o arrocho salarial e em defesa dos trabalhadores acidentados, pelo direito à estabilidade. Diante dessa luta importante na região, nós, como estudantes da Faísca na UFABC buscamos construir medidas concretas de apoio à greve, chamando as entidades estudantis e de trabalhadores da universidade a cercar de solidariedade esta luta, articulando iniciativas entre os meios virtuais e presenciais, até estar ombro a ombro com os trabalhadores na porta da fábrica durante as assembleias.

Apesar da direção burocrática do sindicato, dirigido pela Força Sindical, não ter sequer lido a moção de apoio aprovada entre os estudantes, e não ter permitido que os estudantes pudessem se juntar aos trabalhadores, a barreira física não foi capaz de impedir que estes vissem o apoio concreto de estudantes e trabalhadores da universidade. E o retorno dos trabalhadores ao verem que estávamos lá, desde cedo, em apoio à greve certamente reforça as nossas convicções de que a nossa luta é uma só. Os cortes nas universidades públicas, ataques à permanência estudantil - contra os quais queremos construir uma força real para um combate sem ilusões nas burocracias universitárias - são parte dos mesmos ataques promovidos pela patronal e pelos governos que degradam as condições de vida dos trabalhadores, que são parte de um mesmo objetivo do sistema capitalista, que alimenta seus lucros generalizando a miséria para a maioria da população.

Essa experiência embrionária de aliança entre estudantes e trabalhadores que buscamos concretizar com Comitê da UFABC em Apoio a Greve da GM, reunindo outras organizações e estudantes independentes, é parte da nossa luta em cada universidade para forjar um movimento estudantil aliado a classe trabalhadora dentro e fora da universidade para questionar a universidade de classe até a sociedade de classe. Assim como é parte da luta para unificar os setores da esquerda e da vanguarda em base a luta de classes, fortalecendo a auto organização dos estudantes e impedindo que as lutas sejam derrotadas pelo isolamento que é também impulsionado pelas direções que ocupam os sindicatos e as entidades estudantis, como o caso da ausência do DCE da UFABC, dirigido pela Correnteza/UP, e seu silêncio em apoiar ativamente a greve da GM é uma das expressões da urgência de retomar as entidades para mão dos estudantes.

É com essas perspectivas que buscamos construir o Polo Socialista e Revolucionário, para ampliar a unidade da vanguarda para fortalecer a luta da juventude e dos trabalhadores.

Saiba mais: Greve na GM

2. A crise é econômica, política, social, mas também ecológica

A responsabilidade pelo aquecimento global e pela destruição dos ecossistemas tem uma forma histórica concreta: o sistema capitalista. Marx viu uma incompatibilidade fundamental entre produção sustentável e capitalismo: através da produção de commodities, explicou, que o capitalismo cria uma ruptura metabólica, alterando as condições necessárias para uma troca duradoura entre os seres humanos e a natureza. Embora ele tenha descrito esse fenômeno em relação ao esgotamento dos nutrientes do solo pela agricultura capitalista, hoje estamos testemunhando o mesmo colapso metabólico que ocorre em vários sistemas terrestres e afeta nosso clima, água e ar. A irracionalidade desse modo de produção, baseando-se na exploração do trabalho, na mercantilização, desapropriação e destruição da natureza, no crescimento ilimitado da produção e do consumo – pensado para o lucro empresarial e não as necessidades das pessoas – torna incapaz de manter uma relação harmoniosa com o sistema terrestre.

Mais de 10 mil indígenas ocuparam Brasília contra o projeto de Marco Temporal, que propõe arrancar esses povos de suas terras em prol da sede de lucro do agronegócio. Isso em meio a enorme crise econômica, que é responsável pela instabilidade alimentar de mais de 50% da população, que tem empurrado a classe trabalhadora a situações extremas, como a fila do osso, fila do lixo. A precarização dos postos de trabalho com os ataques, chamados de reformas, colocam todo o peso da crise nas costas dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Tudo isso enquanto o agronegócio não para de lucrar e vemos o presidente gastando verdadeiras fortunas com carne e itens de luxo. Bolsonaro também é responsável pelos maiores índices de desmatamento na Amazônia e no Pantanal, pela impunidade das mineradoras com os desastres de Brumadinho e Mariana e o avanço do garimpo ilegal em terras indígenas.

Veja também: Seis anos da tragédia de Mariana: Impunidade, miséria, morte e o lucro dos capitalistas

É evidente que o manuseio irresponsável das matérias primas na natureza é única e exclusivamente responsabilidade do capitalismo, um sistema podre que em prol de seus lucros destrói o planeta e a vida. Se o capitalismo destrói o planeta, destruamos o capitalismo.

3. É preciso enfrentar Bolsonaro, Mourão e o conjunto do regime do golpe:

Os últimos anos tem sido marcados por uma mutação no regime político brasileiro. "O que é solido desmancha no ar" como vemos a Constituição e o regime de 1988. A enorme crise orgânica aberta no país em 2013, que provocou um choque entre as aspirações de crescimento gradualista lulista e os limites impostos à um país com traços semi-coloniais em meio a crise econômica gerou as maiores manifestações da história recente. Esse processo espontâneo, que podemos chamar de Revolta, levou a momentos de pressões extremas, com milhares nas ruas, medidas de ação direta, e resultou em lutas estudantis e greves importantes como os garis no Rio de Janeiro.

Mas pelo papel que cumpriram as direções das Centrais Sindicais e das entidades estudantis como a UNE, não se desenvolveram os aspectos mais disruptivos, os métodos de auto organização e de democracia de base, e resultou num fortalecimento da direita em base as derrotas e as lutas não dadas. A Lava Jato, como uma intervenção imperialista, foi um dos pilares do golpe institucional que buscou acelerar os ataques do capital financiado que o PT já vinha implementando, mas com dificuldade de se enfrentar com sua própria base social e eleitoral. Todos esses anos foram marcados por lutas agudas, como as ocupações de escola ou as paralisações nacionais contra a Reforma da Previdência.

Frente a chegada de Bolsonaro, o filho ilegítimo do golpe institucional, as organizações de esquerda do PT como PCB, UP, PSOL, PSTU e PCO apostaram suas forças na política do Impeachment, exigindo do Congresso Nacional e do STF resolver a crise do país, por dentro das instituições e não pela força independente e auto organizada da classe trabalhadora. O que no dia 2O, significou abrir espaço para a direita participar das manifestações, o que ao contrário de ampliar os atos, fez diminuíssem.

A convivência destas organizações de esquerda às burocracias sindicais, muitas vezes considerando a construção da unidade com reuniões de cúpulas e entre setores mais acomodados e burocratizados desses sindicatos, do que com chamados a assembleias de base, eleições de delegados eleitos e de comandos nacionais de mobilização. A ideia de Lenin de "Lutar juntos e marchar separados", como forma de derrotar os ataques a classe trabalahdora, enquanto se busca aumentar a influência dos Revolucionários dentro das fileiras da classe trabalahdora, se inverteu já que as lutas que acontecem pelo país acabam isoladas e sem encontrar uma unidade da esquerda para apoia-las e levou com que a esquerda marcasse junto com a direita, misturando suas bandeiras, ou melhor, retirando as reivindicações fundamentais de anulação das reformas trabalhista e da Previdência, o combate a privatização dos correios, aumento salarial de acordo com a inflação, e todas as questões elementares que chocam os interesses de classe que impedem uma unidade efetiva entre os trabalhadores e jovens com partidos capitalistas como PDT, PSB, Rede, Sustentabilidade, Solidariedade, nem falar de PSDB e MBL.

Além do problema do Impeachment implicar na entrada de ninguém menos que Mourão, um racista declarado e saudosista da ditadura militar, ainda significou imagens lamentáveis das bandeiras da UP e da CSP-Conlutas ao lado de Kim Kataguiri do MBL e Joice Hasselmann, ex-PSL e atualmente do PSDB. Não é possível enfrentar a extrema direita, com mais direita.

É preciso um caminho de independência de classe, que busque enfrentar todas as instituições capitalistas que atuam junto para retirar nossos direitos e impor precarização e miseria para as grandes massas. Por isso, nosso grito é por Fora Bolsonaro, militares e Mourão! Por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que possa decidir plenamente sobre todos os temas elementares do país, onde os Revolucionários possam apresentar suas ideias para todo o país e assim abrir espaço para a luta por um governo de trabalhadores em ruptura com o capitalismo, em base a auto organização e auto atividade das grandes massas.

4. A revolução no Brasil tem rosto de mulher negra: o combate revolucionário contra o racismo, o machismo e a LGBTfobia:

Nas escolas e mesmo nas universidades mentem sobre a história do povo negro. Muito longe de ser um povo dócil e que aceitou sua escravização, como diz um trotskista negro norte americano, CLR James: “O único lugar onde os negros não se rebelaram foram nos livros dos historiadores capitalistas”.

Desde os princípios do internacionalismo do marxismo revolucionário, na fundação da I internacional, Marx e Engels batalharam para construir na Inglaterra uma solidariedade ao povo negro na sua luta contra a escravidão nos Estado Unidos. A famosa “Guerra por independência”, para Marx, se tratava, de fato, da luta do trabalho livre contra o trabalho escravo. A III Internacional, em seu IV Congresso, vota a primeira resolução internacional de luta negra da história: igualdade salarial entre brancos e negros e o chamado aos negros a serem a vanguarda da revolução. Apesar da burocratização da União Soviética e da III Internacional com Stalin à frente, que implicou na orientação de defender que os negros tivessem que se subordinar as burguesias nacionais escravocratas e racistas, a IV Internacional buscou recuperar o caráter revolucionário do marxismo, e se ligou ao gigante proletariado negro no sul da África e pode contribuir para fortalecer uma perspectiva de emancipação para os trabalhadores em todo o mundo.

As ideias trotskistas que queremos nos apropriar para transformar o mundo, é a defesa do marxismo revolucionário, da luta de classes e da independência dos trabalhadores frente a todas as variantes da burguesia, no nosso tempo. É a defesa da ideia da luta de classes como motor da história no século XXI, contra toda a revisão do marxismo que foi assumida pela academia de um Marx branco, hetero, europeu despreocupado com os países coloniais ou o povo negro. Ou de correntes como UP e PCB que retomam a figura de Stalin como um ideal revolucionário por fora de apontar o papel contra revolucionário nas ideias, mas também nos processos revolucionários concretos, o que levou ao maior debandada de negros das fileiras comunistas da história.

Para a tradição de Marx, Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo e Trotsky a questão negra tem uma importância fundamental para a revolução mundial, mas para o Brasil em particular, tem um valor ainda mais imediato. Somos o maior país de população negra fora da África, com a polícia mais assassina do mundo e onde as filas do osso, do lixo, e o trabalho cada vez mais sem direitos e mais precário, tem cor. Num país marcado por projetos de conciliação de classes como o PT, e sindicatos que nunca tratam da luta fundamental por igualdade salarial entre brancos e negros e num combate profundo pela efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso público, os negros são uma força convulsiva e antiburocrática que pode ser o fermento da luta para retomar os sindicatos e as entidades estudantis de volta para as mãos dos trabalhadores e estudantes e assim colocá-las à serviço de fortalecer as nossas lutas. A revolução no Brasil, não será fruto de uma maturidade abstrata da população, mas é parte das tarefas de estratégia para articular o combate ao racismo a uma luta decidida contra o capitalismo e todos os projetos que buscam conciliar nossos interesses com os nossos inimigos, os escravocratas de ontem.

Pode te interessar: 20N . Por justiça a Nego Beto gritamos: basta de Chacinas, fila do osso e precarização! Que os capitalistas paguem pela crise

5. É preciso defender a permanência de todos os estudantes, mas também questionar o caráter de classe das universidades e subverter sua produção à serviço da classe trabalhadora e da sua libertação

Quantas aulas não frequentamos que poderiam ser um e-mail? Pois é, muitas vezes, nos questionamos como dentro de um dos maiores polos de produção científica e de conhecimento possam surgir tantas pérolas como “A Alemanha nunca teve colônia” dentro de uma disciplina de economia. Mas os problemas do caráter de classe não estão apenas nas grades curriculares, que deveriam ser produzidas coletivamente, mas desde o acesso com o filtro racista e elitista do vestibular, os problemas da permanência que vão desde o sistema de matrículas com CR e CP, até o fechamento do RU, o corte das bolsas do PIBID, da Resistência Pedagógica, os assédios sofridos por alunes trans, o racismo estrutural sentido por muitos estudantes negros, cotistas ou não, e a estrutura de poder da universidade que legitima o trabalho precario e terceirizado dentro da universidade, além de fazer demagogia de representatividade, quando na verdade concentram o poder entre uma burocracia acadêmica junto com empresários que organizam a universidade atrás das revoluções francesas onde se instituiu o sufrágio universal.

Não queremos um movimento estudantil institucionalizado como um braço da reitoria, ou sua ala crítica. Precisamos de um movimento estudantil que busque unidade com os professores e esteja ombro a ombro com os TAs e os trabalhadores do RU, da limpeza, da segurança para enfrentar a terceirização, os ataques aos trabalhadores, como parte de uma mesma estratégia de que os estudantes, como maioria, junto com os demais setores da universidade possam lutar para assumir o controle da universidade e colocar o conhecimento à serviço de fortalecer as lutas fora da universidade, a resolver os problemas estruturais de moradia, de saneamento básico, de proteção ambiental, etc.

Essas questões só podem ser conquistadas com um programa que busque dialogar com a maioria da juventude que está fora das universidades. Por isso, lutamos pelo fim do Vestibular e estatização de todas as vagas privadas do Fies e do Prouni, rumo à estatização de todo ensino privado para garantir o acesso e a ampliação das universidades públicas. Assim como seguimos na linha de frente da defesa das cotas, exigindo sua ampliação, com cotas proporcionais ao número de negros e negras de cada Estado.

É através de uma forte aliança da juventude secundarista que questiona o "novo Ensino Médio" cada vez mais precário, as intervenções bolsonaristas no ENEM e nas universidades com seus "interventores", os jovens trabalhadores que vem seu futuro sem direitos e sem esperança é que ser a faísca que junto com os trabalhadores incendeie o capitalismo e abra caminho para uma vida plena de sentido.

Encontro Nacional da Faísca | Juventude sem futuro é o c*ra*ho: queremos revolução




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias