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REABERTURA DAS ESCOLAS | 5 motivos para apoiar a greve da educação contra Kalil e o retorno inseguro

As trabalhadoras e os trabalhadores da educação municipal de Belo Horizonte estão em greve sanitária contra o retorno inseguro que Kalil e os empresários da educação querem impor. Abaixo listamos 5 motivos do porque devemos apoiar a luta dessas trabalhadoras.

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

sexta-feira 30 de abril de 2021 | Edição do dia

Imagem: Silas Pereira

1) Uma greve sanitária contra o retorno inseguro das aulas

A greve tem como pauta a defesa da vida, contra o retorno totalmente inseguro e sem as mínimas condições sanitárias recomendadas pelo próprio comitê que assessora o prefeito nos assuntos relacionados à Covid. Como colocam em sua carta aberta à comunidade, as educadoras em greve entendem os desafios impostos às famílias por já estarmos há mais de um ano sem aulas presenciais e o quanto isso vai debilitar a educação das crianças e adolescentes.

No entanto, a proposta de retorno agora está longe dessa preocupação, o que move o prefeito e os empresários a defenderem essa medida é simplesmente a garantia dos seus lucros e interesses. A greve dos trabalhadores da educação além de se colocar contra o retorno inseguro, também defende a necessidade de garantir ampla vacinação e um conjunto de medidas que possam garantir o controle racional da pandemia.

2) Porque a comunidade escolar é quem deve decidir sobre o retorno das aulas presenciais

A ampla maioria das escolas públicas não têm a preparação necessária para o retorno presencial. Enquanto Belo Horizonte fecha abril com mais de 1.000 mortos pela pandemia, o prefeito quer impor a ida presencial das educadoras, dos trabalhadores da limpeza e da cozinha, chamando a greve de esdrúxula e ameaçando cortar os salários daqueles que mantiverem a greve sanitária em defesa de suas vidas. Na grande BH os trabalhadores mais precários, como garis e faxineiras representam 62% dos internados por Covid, e já nessa primeira semana em que foram obrigados a retornar, escutamos muitos depoimentos sobre como o retorno se deu sem nenhuma segurança, expondo-os a perigos de contaminação, faltando até mesmo lugar adequado para que esses trabalhadores possam se alimentar nas escolas.

Essa atitude de Kalil só demonstra que apesar de no discurso se contrapor ao negacionismo de Bolsonaro, quando se trata de defender os lucros dos empresários, o prefeito é capaz de deixar de lado até mesmo a ciência da qual ele diz defender e confiar. Por isso, a decisão sobre o retorno presencial das aulas não pode estar a cargo do prefeito e dos empresários, mas sim da comunidade escolar. Quem deve decidir sobre quando, como e de que forma vai ser o retorno devem ser as e os professores, juntamente com todos os trabalhadores das escolas, os pais e os estudantes, auxiliados pelos trabalhadores da saúde. A greve é um ponto de apoio para conquistar essa demanda, pois a partir da organização dos trabalhadores da educação é possível fortalecer organismos democráticos que permitam ampliar a articulação dos trabalhadores e da comunidade escolar, para que juntos possam decidir sobre a melhor forma de garantir a educação das crianças e adolescentes.

3) Para fortalecer a unidade de nossa classe, efetivos e terceirizados, contra Kalil e empresários da educação

Não é a primeira vez que as educadoras de Belo Horizonte entram em greve contra Kalil. Em 2018, essa categoria, composta majoritariamente por mulheres negras, se enfrentou não só com o prefeito, mas também com a repressão do então governador Pimentel do PT numa dura batalha em defesa da educação. Essas mulheres e homens carregam um histórico de combatividade e lutas, em defesa da educação e dos direitos da classe trabalhadora e da população.

Que nesse momento elas se coloquem em luta, aponta um caminho para todos nós: que nos organizando e mobilizando podemos dar uma resposta para a profunda crise social, política e sanitária que vivemos. Cerquemos de solidariedade ativa a luta dessas trabalhadoras, combatendo cada mentira espalhada pelos políticos e empresários burgueses, fazendo ecoar a voz das lutadoras, das mulheres trabalhadoras que podem efetivamente apontar o caminho para superação da barbárie que esse sistema capitalista nos leva.

4) É uma luta de trabalhadores que em sua maioria são mulheres e negras

As e os trabalhadores da educação têm rosto, sonhos e voz. São uma maioria de mulheres negras que agora se colocam em luta. Enquanto Bolsonaro, Mourão, Zema, Kalil e o judiciário seguem defendendo as reformas que afetam sobretudo as mulheres e os negros, são justamente esses setores mais oprimidos, que muitas vezes ocupam os postos de trabalhado mais precários, os que se colocam em luta. Mas num país onde a classe trabalhadora é majoritariamente feminina e negra, defender uma perspectiva feminista e antirracista precisa passar em primeiro lugar por apoiar ativamente as lutas da nossa classe.

O que vemos na greve da educação em BH, mas também em outros conflitos operários pelo país, como na greve das trabalhadoras da LG, é justamente o protagonismo das mulheres negras, que se colocam na linha de frente da luta contra os patrões e seus ataques. A potência dessas lutas pode contagiar muitos outros setores da nossa classe.

5) É uma greve desde onde a esquerda pode batalhar para que os sindicatos rompam sua paralisia contra os ataques de Kalil, Zema e Bolsonaro

Em todo mundo vemos as mulheres e os negros se rebelando contra a miséria capitalista e mostrando que é possível construir uma outra alternativa. Nos pequenos focos de resistência que surgem por todo país, contra a catástrofe preparada por Bolsonaro e o regime golpista, são também esses setores os que assumem a dianteira da nossa luta. Por isso, ser feminista e antirracista no Brasil hoje é apoiar ativamente cada uma dessas lutas, para que triunfem, para que os trabalhadores voltem a confiar em suas próprias forças e não nas instituições desse regime cada vez mais degradado. Ao invés de alimentar ilusões na justiça burguesa, é preciso retomar a confiança na força da nossa classe organizada.

Essa é a perspectiva que levamos à frente desde o Esquerda Diário e o grupo de mulheres Pão e Rosas, colocando todas as nossas forças para dar voz a essas trabalhadoras. Esse é também o chamado que fazemos para as organizações de esquerda como o PSOL, para que coloque toda sua força parlamentar com os mandatos de Áurea Carolina, Andreia de Jesus, Iza Lourença e Bella Gonçalves para construir um apoio ativo a essas trabalhadoras. E ao PSTU, que está a frente da direção majoritária do sindicato juntamente com a Resistência-PSOL, para que possam a partir da luta das e dos trabalhadores da educação coordenar e unificar ações da esquerda para exigir que as burocracias da CUT e CTB, que são dirigidas pelo PT e PCdoB e estão à frente de vários sindicatos importantes no estado, possam sair da paralisia e organizar nossa classe contra os ataques dos governos e empresários.

Veja também: Em apoio à luta da educação, Faísca e Pão e Rosas fazem intervenção na prefeitura de BH




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