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GLOBO E BOLSONARO | 3 vezes que a Globo apoiou Bolsonaro na pauta econômica

Segunda (23), ocorreu a primeira entrevista da série de entrevistas do Jornal Nacional com os presidenciáveis. O primeiro foi Bolsonaro. Em horário nobre da televisão, Bolsonaro destilou mentiras e negacionismo, chegando a fazer chacota com as mortes por covid e dizendo que não houve corrupção no seu governo.

quarta-feira 24 de agosto de 2022 | Edição do dia

A realidade mostra o retrato de um Brasil em que as vidas dos trabalhadores, dos setores oprimidos e do povo pobre estão sendo profundamente arrasadas pela inflação, pela fome, pelo desemprego e pelo trabalho precário, fruto da crise econômica e os ataques descarregados pelos representantes dos capitalistas nas nossas costas. Bolsonaro é responsável, mas também os supostos "defensores da democracia" da FIESP, da Febraban e… da Globo, cujos porta-vozes nas entrevistas são William Bonner e Renata Vasconcellos, mas também aí podemos apontar seus outros meios de comunicação - além da televisão - como os jornais. Aqui, selecionamos os 3 principais flancos do programa de governo de Bolsonaro e Guedes para relembrar e comprovar que, mesmo que a Globo se coloque contra Bolsonaro, ela está junto a ele para defender a pauta econômica do governo, no campo oposto, a 180°, das lutas, greves, paralisações da classe trabalhadora e da juventude, desde o golpe institucional de 2016.

1. Reforma da Previdência

Em 2019, contra os já dois anos de mobilizações contra a Reforma da Previdência, e junto a Bolsonaro e Guedes, o jornal O Globo propagava a mentira de que, sem ela, o país entraria em catástrofe e aumentaria o desemprego, e de que, com ela, seria possível retomar o crescimento econômico, diante da recessão. O jornal dizia: "A Reforma da Previdência favorece a retomada de investimentos".

Na televisão, poderiam ser citadas várias vezes que o Jornal Nacional festejava cada passo dado para a aprovação da reforma. Como exemplo, na edição de 20 de fevereiro de 2019, Bonner divulgava uma reunião de Bolsonaro com Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, os então presidentes da Câmara e do Senado respectivamente, e diversos ministros para pedir apoio para seu projeto. A Globo cumpriu o seu papel nesse apoio e defesa, com a correspondente de Brasília dizendo: "o governo estima que a nova Previdência vai trazer uma economia de mais de 1 trilhão de reais em 10 anos".

Enquanto a Globo e o conjunto da imprensa burguesa, como Estadão e Folha de S.Paulo, comemoravam cada avanço desse ataque, na vida de cada trabalhador e trabalhadora no país estava sendo desenhado o que depois vimos avançar para os governos de estados e municípios, sendo aprovadas por governadores da direita como João Doria e também pelos do PT e do PCdoB: trabalhar até morrer. É isso que foi defendido desde o golpe institucional de 2016 e seus articuladores do STF, Rodrigo Maia e militares. Desde aí a Globo vociferava a campanha de que a Reforma da Previdência era a "mãe das reformas", porque é a que mais garante a longo prazo que a crise econômica seja descarregada nas costas dos trabalhadores e do povo pobre, enquanto empresários e banqueiros podem manter seus lucros e a dívida pública continue sendo paga religiosamente.

2. Privatizações

Em 2018, a Globo já divulgava amplamente o plano econômico de Paulo Guedes. O segundo foco de Bolsonaro e Guedes, depois da Reforma da Previdência, eram as privatizações, que vimos concretizar especial e brutalmente com a Eletrobrás. À Globonews, naquele ano, Guedes já dizia: "Tem três grandes despesas: (...) Previdência é (necessário fazer) a reforma da Previdência, juros (a solução) são as privatizações e pessoal é (preciso fazer) uma reforma administrativa. (...) É o que eu acho que tem que ser: um ataque frontal às despesas públicas, nos três fronts”. O que Guedes queria dizer, e a Globo endossava, é que precisava nos atacar para salvar os lucros dos empresários (mais uma vez). "Vocês todos elogiam quando a Petrobras vende um ativo para reduzir a dívida, todo mundo bate palma para o Pedro Parente. A União tem que vender ativo. A Petrobras vende refinaria. E o governo pode vender a Petrobras, por que não?", disse Guedes na mesma entrevista de 24 de outubro de 2018 à Globonews.

Sobre a privatização da Eletrobras, aprovada neste ano de 2022, o jornal O Globo disse recentemente: "O movimento é importante não só para a empresa, mas para todo o setor elétrico brasileiro. Companhias privadas e especialistas apostam que a venda da Eletrobras vai trazer mais dinamismo e competitividade para o setor, além de ampliar os investimentos". Em plena pandemia, em 2020, pudemos ver os resultados da política de privatização da energia, com o revoltante caso do Amapá, em que milhares de pessoas no escuro, sem condições de realizar suas necessidades pela falta de energia fruto de um incêndio em uma subestação controlada por capital privado espanhol. Absurdamente, a região metropolitana de Macapá voltou a passar por apagão durante a tramitação da privatização da Eletrobrás, em agosto de 2021.

E em 21 de agosto de 2019, no início do governo, Renata Vasconcellos no JN também anunciava a continuidade de Bolsonaro e Guedes da política de Temer golpista, com uma lista de 9 estatais, dentre elas a Eletrobras, mas também dos Correios. Novamente, estando na trincheira oposta da classe trabalhadora, dos petroleiros que lutam contra a privatização da Petrobras, e, no ano seguinte, em 2020, seguramente contra a greve dos trabalhadores dos Correios, que lutavam pelos seus direitos e denunciavam o andamento da privatização.

Vale lembrar que anteriormente, em 2017, a Globo fez forte campanha pela privatização da CEDAE, empresa de água e esgoto no Rio de Janeiro, com uma reportagem no Fantástico conduzida por ninguém menos que Luciano Huck que dizia cinicamente: "quem paga a conta é você".

3. Carteira de trabalho verde e amarela

A carteira de trabalho verde e amarela foi um forte flanco desde o programa de governo de Bolsonaro e Guedes. O programa, também divulgado pelo G1, dizia: "Criaremos uma nova carteira de trabalho verde e amarela, voluntária, para novos trabalhadores. Assim, todo jovem que ingresse no mercado de trabalho poderá escolher entre um vínculo empregatício baseado na carteira de trabalho tradicional (azul) – mantendo o ordenamento jurídico atual –, ou uma carteira de trabalho verde e amarela (onde o contrato individual prevalece sobre a CLT, mantendo todos os direitos constitucionais)".

Trata-se do aprofundamento da Reforma Trabalhista, aprovada em 2017 por Temer golpista, especialmente voltado para a juventude trabalhadora, que é jogada para os postos mais precários, empurrada em bicicletas com bags de entrega nas costas rodando por horas extenuantes. Em novembro de 2019, Bolsonaro decretou a MP do Contrato Verde Amarelo, que incluía uma série de medidas como trabalho aos domingos e feriados e uma profunda desoneração dos patrões. Ainda que tenha passado por algumas mudanças, a essência do projeto, que foi aprovado na Câmara dos Deputados em abril de 2020, foi a mesma que saiu da cabeça de Bolsonaro e Guedes e encontrou apoio no STF e entre os militares. Levá-la ainda mais adiante é parte da campanha atual de Bolsonaro. Resultado dela, e especialmente da prevalência da "negociação direta com o patrão", foi o brutal assassinato do congolês Moise Kabagambe neste ano de 2022, morto a pauladas por reivindicar seu salário em um quiosque na Tijuca, no Rio de Janeiro.

No jornal O Globo, era dito cinicamente que o Programa Verde e Amarelo tentava "melhorar geração de emprego formal". Segundo o JN de 15 de abril de 2020, "as regras de contratação mais simples e de menor custo para as empresas serviriam para estimular o emprego de jovens de 18 a 29 anos". Hoje, é lógico, fazem coro com a carta da FIESP do 11 de agosto e seus banqueiros signatários, que buscam uma estabilização da política, com receio de que a classe trabalhadora se organize de fato contra o que chamam de "flexibilização do trabalho".

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Para combater Bolsonaro, o bolsonarismo, o conjunto da extrema-direita e os ataques, é necessário fortalecer a unidade entre a classe trabalhadora, a juventude, as mulheres, os negros, os povos originários, as LGBT e o povo pobre. Numa perspectiva de combate frontal a todos os nossos inimigos que nos atacam, desde a FIESP ao agronegócio, este sendo um ponto também em que Bonner e Vasconcellos não se diferenciaram de Bolsonaro na entrevista, porque a Globo não apoia em nível algum a luta dos indígenas, que se colocam como atores políticos nacionais nos últimos anos e em toda a história de combate à colonização no Brasil. Essa luta com independência de classe exige que nossa unidade seja fortalecida com a superação da conciliação de classes de Lula e o PT se aliando com Alckmin, que já é o representante da chapa para garantir aos empresários que a Reforma Trabalhista não será revogada em um possível governo Lula-Alckmin.

Na retomada desses pontos para refrescar a memória de que a Globo está com Bolsonaro e Guedes quando se trata de nos atacar, é preciso dizer também que foram travadas lutas importantes contra as reformas e privatizações, com chamados a paralisações nacionais, greve geral, assim como a luta nas universidades federais contra o Teto de Gastos. Todas essas lutas apontaram que é necessário superar as burocracias da CUT, CTB e UNE, centrais sindicais e entidade estudantil dirigidas pelo PT e pelo PCdoB, pois, dentro de sua lógica de acordos com a burguesia, impõem derrotas e deixam que os ataques passem. Temos que exigir que essas direções que estão em centenas de sindicatos, DCEs, centros acadêmicos e grêmios pelo país, organizem nossa luta, e que seja pela base, para que cada trabalhador e estudante, em cada local de trabalho e estudo, possa opinar e decidir sobre os rumos da luta.

Por isso, nós do Esquerda Diário, um jornal que está em diversos países, feito por e para trabalhadores, estudantes e setores oprimidos, no lado oposto da trincheira da Globo e da FIESP, colocamos que, para combater Bolsonaro, é necessário defender a revogação de todas as reformas, defender uma Petrobras e uma Eletrobras 100% estatais, sob gestão dos trabalhadores e controle da população. É a serviço disso, de organizar a luta pela base, que as candidaturas do MRT para deputados, de Marcello Pablito e Maíra Machado em SP, Carolina Cacau no RJ, Flavia Valle em MG e Valéria Muller no RS, também estão.

Assim como chamamos todas, todes e todos a acompanhar programas como o Esquerda em Debate, que pauta discussões entre a esquerda crítica à chapa Lula-Alckmin e com intelectuais de peso no Brasil para afiar as armas do marxismo, por uma sociedade livre da opressão e da exploração. Para debater um caminho, ao contrário do que se propõe o PSOL, na federação com a REDE, partido anti-aborto e pró-golpe de 2016, que compõe a campanha da chapa Lula-Alckmin.

Basta de Bolsonaro e militares descarregarem a crise nas nossas costas, basta de suas ameaças golpistas, e basta da FIESP, a Febraban, o STF e a Globo fazerem demagogia com o desemprego, a fome e a inflação. Que sejam os capitalistas a pagarem por essa crise!




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