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Editorial MRT | 3 propostas para a classe trabalhadora enfrentar a crise política no Brasil

Neste dia 15 de julho o Esquerda Diário entra em nova etapa em meio a uma crise política nacional de grandes proporções. Conheça nossas propostas.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quinta-feira 15 de julho de 2021 | Edição do dia

Como indica o lema da nova etapa do Esquerda Diário, “a luta de classes na sua mão”, nossa mídia anticapitalista e militante busca analisar os principais fatos políticos internacionais e nacionais para apresentar a perspectiva da classe trabalhadora na sua luta contra este Estado capitalista e seus governos de plantão. Como explicamos nesta matéria, buscamos um leninismo do século XXI para fazer do Esquerda Diário um verdadeiro organizador coletivo da nossa classe e, como explicamos nesta outra matéria, isso só é possível porque por trás do Esquerda Diário estão centenas de articulistas, analistas, redatores, diagramadores, editores e todo o tipo de atividade necessária para todos os dias colocar a luta de classes na sua mão. E no Brasil, colocar a luta de classes na sua mão tem o significado que vai para além de informar, mas de pensar e construir uma alternativa diante da crise política no país.

Como analisamos no último programa “O Brasil não é para amadores”, os principais fatos políticos das últimas semanas foram por um lado a pressão do imperialismo norte-americano e sua política de “destrumpizar” o governo Bolsonaro com a reunião da CIA aqui no Brasil e por outro lado um aumento de qualidade no tom dos militares que reagiram à CPI da Covid com posicionamentos golpistas de apoio a Bolsonaro. Estes dois fatores marcam a conjuntura imediata e se potencializam diante das últimas pesquisas de opinião que apontam que a maioria do país não considera que Bolsonaro seja capaz de governar.

Em meio a um dos pontos mais altos da crise política, Bolsonaro é internado para fazer uma cirurgia não sem antes ter feito provocações repudiáveis ao povo cubano, mostrando os interesses que compartilha com o imperialismo norte-americano de Biden, enquanto a população que se enfrenta contra os ajustes antipopulares da burocracia stalinista do PC, e contra as armadilhas da direita restauracionista alimentada pela política do governo Díaz-Canel. Esta internação, de qualquer forma, coloca interrogantes sobre os desdobramentos da crise política.

Enquanto isso a agenda de manifestações controladas pelas centrais sindicais continuam sem radicalização ou plano de luta concreto. A União Nacional dos Estudantes faz neste momento talvez um de seus Congressos mais burocráticos, se aproveitando da virtualidade para impedir ainda mais a participação real dos estudantes. O impeachment, ainda que tenha alcançado maioria no país, parece distante de efetivação na Câmara e no Senado. As articulações para a Frente Ampla rumo a 2022 com Lula encabeçando as intenções de voto continua sendo um dos elementos mais importantes para garantir que não exista saída para a crise política por fora das instituições.

Toda esta situação é consequência direta da ofensiva da direita desde 2016 que com o Congresso Nacional, o STF, o apoio dos militares e de vários governadores e partidos burgueses levou adiante um golpe institucional para aprofundar os ataques e assim abriu caminho não somente para a extrema-direita entrar no governo através de eleições manipuladas como sedimentou o caminho para que essa extrema-direita junto com os militares façam ameaças de maior fechamento do regime político. Somente a classe trabalhadora, com seus métodos de luta, aliado com a juventude e o povo pobre, podem enfrentar estas ameaças, assim como todas as reformas, cortes e privatizações. Diante deste cenário, nós do MRT que impulsionamos o Esquerda Diário apresentamos 3 propostas imediatas para a organização da nossa luta e chamamos os trabalhadores e a juventude a batalhar por estas ideias em seus locais de trabalho e estudo construindo conosco blocos nas próximas manifestações do dia 24/07:

1 - É preciso lutar por uma greve geral para derrotar Bolsonaro, Mourão e todos os ataques

O tamanho da crise política no país exige que a classe trabalhadora entre em cena de forma organizada, com seus métodos. Uma greve geral, ou seja, uma paralisação organizada da classe trabalhadora seria muito mais potente do que os esparsos atos que vem ocorrendo há mais de um mês porém sem um plano de luta efetivo. Nós construímos esses atos com essa política e denunciamos como são controlados pelas direções burocráticas e decididos em reuniões de cúpula, onde a base dos trabalhadores e da juventude não tem voz. Todo o espectro de partidos que hoje se colocam contra Bolsonaro, que vai desde figuras reacionárias como Joice Hasselman e KIm Kataguiri, passando pelo PT e a esquerda institucional, no fundo apresentam para os trabalhadores e jovens uma posição de espectadores da CPI e atos de rua que serviriam como pressão à CPI e ao Congresso Nacional para a aprovação do impeachment.

Ao contrário, essa força precisa entrar em ação com assembleias de base em cada local de trabalho e estudo, para organizar e coordenar uma força que possa se expressar em um primeiro forte dia de paralisação nacional combinado com ações de rua mas que se insira num plano de luta. Os atos de pressão rumo a 2022 não vão nos levar a lugar algum. Além disso, nossa consigna precisa ser para derrotar Bolsonaro e também Mourão, mas com centralidade no enfrentamento a todas as reformas, privatizações e cortes, pois estes ataques são protagonizados também por parte da direita que hoje quer aparecer como “opositora a Bolsonaro”. Se atacamos os lucros patronais e enfrentamos os ataques econômicos fica mais claro quem está do lado de quem, e inclusive é a única maneira de golpear a localização que os militares assumiram no regime político.

2 - A unidade é da nossa classe com a juventude, as mulheres, negros, LGBT´s e indígenas

Para que essa greve geral possa ocorrer, assim como as assembleias de base, é preciso unir a nossa classe. A desenfreada corrida por uma “frente ampla” com protagonistas do golpe institucional de 2016 e burgueses mostra que quem fica de fora dessa frente é justamente a classe trabalhadora e o povo pobre. Nossos interesses não são conciliáveis com empresários e burgueses. Por isso, ao contrário de aplaudir o PSDB nos atos precisamos exigir que as centrais sindicais organizem um plano de luta efetivo. Sem divisões, sem atos fracassados como foi o ato dos Correios onde a burocracia fez questão de não organizar nada deixando os carteiros e trabalhadores dos Correios nas mãos. É preciso ter assembleias de base, coordenar e unificar a nossa força numa agenda comum de luta que transcenda a mera pressão. Nossa classe não pode ficar subordinada às mesmas instituições que vieram para fazer as reformas como a trabalhista, da previdência e tantas outras que querem tirar nosso couro e fazer a gente trabalhar até morrer com precarização e acidentes de trabalho. Essa força unificada na defesa dos indígenas, contra a PL 490 e o Marco Temporal, atuando lado a lado da juventude que enfrenta os cortes na educação e sendo parte de gritar contra a violência machista e os assassinatos de negros nas favelas do país, essa é a potente unidade que pode enfrentar a crise política no país.

O PSOL, PSTU, PCB, UP, PCO precisariam ter uma política de denúncia da posição das centrais sindicais e não de encobrimento da política traidora. Se assim o fizessem, poderíamos ter na CSP-Conlutas e Intersindicais um pólo anti-burocrático que batalhasse nesse momento para agitar nas categorias de base da CUT e da CTB por exemplo a ideia de greve geral. Nas centenas de sindicatos da CSP-Conlutas e Intersindicais poderia ser organizado assembleias para votar esse plano de luta e essa exigência. O Conune, reunido nesse momento com objetivo de referendar cargos da burocracia estudantil, deveria ao contrário, se colocar como um forte Congresso pela unidade de estudantes e trabalhadores se colocando na perspectiva dos estudantes irem a cada local de trabalho se dispondo a contribuir na construção de uma greve geral.

3 - Por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana

Se a classe trabalhadora entra em cena, ao lado da juventude e de todos seus aliados oprimidos, é preciso não somente levantar a bandeira por Fora Bolsonaro e Mourão, assim como os militares e todos os ataques, mas apresentar uma alternativa política que questione o conjunto do regime político fruto do golpe institucional de 2016 que não podemos deixar de denunciar porque seus efeitos se fazem sentir até hoje. Se queremos efetivamente derrubar Bolsonaro precisa ser pelas mãos da nossa classe e da nossa luta, do contrário as instituições deste regime vão buscar todo tipo de blindagem ou então um “rearranjo” para que qualquer mudança de “jogadores” não altere as regras do jogo. O que significa não alterar as regras do jogo? Que os militares, o Congresso, o STF, os governadores todos continuem atuando como um balcão de negócios dos capitalistas para que todas as reformas que ainda querem implementar possam ser aprovadas descarregando a crise econômica nas nossas costas. Por isso nossa classe precisa de uma bandeira que não permita que isso aconteça, como seria por exemplo o impeachment.

Precisamos lutar por uma Assembleia Constituinte, que seja livre e soberana, ou seja, dissolvendo as velhas instituições que serviram ao golpe institucional. Somente assim enfrentaremos as ameaças dos golpistas de hoje na voz dos militares e de Bolsonaro que ameaçam as poucas liberdades democráticas desse regime. Uma Assembleia assim precisaria ser imposta pela força da mobilização, exigiria a auto-organização das massas para levar adiante suas decisões e abriria espaço para que nós, revolucionários, defendamos que a classe trabalhadora assuma a luta por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.




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