Cerca de 500 pessoas estiveram presentes no Festival Palestina Livre do Rio ao Mar na UERJ, no dia 27 de março, ao longo de mais de 6 horas de evento cultural e político que atraiu muitos estudantes, artistas e apoiadores. O primeiro grande festival do tipo em uma universidade no Brasil desde o início da campanha genocida de limpeza étnica do Estado israelense em Gaza no último outubro, financiada pelos EUA e as demais potências imperialistas. Reunindo artistas independentes de dentro e fora da universidade, o Festival buscou somar as vozes dos estudantes e trabalhadores da UERJ às centenas de milhares que, mundo afora, apoiam o povo palestino contra o genocídio levado a frente pelo Estado israelense, e abrir espaço aos artistas independentes corajosos que são invisibilizados pela indústria cultural sionista.
O Festival foi marcado com fortes apresentações de artistas como TOCAIA, a dupla de DJs Dendê Discos, a cantora palestino-brasileira MAJ, PRESE, Azizi, Renan Mariath, Loket Quazy, Adilson Franco. Além de exposição de fotografias de Fellipe Lugão, projeção de imagens de artistas e cobertura fotográfica do evento por Katja Schiliró que desenvolve um trabalho fotográfico direcionado exclusivamente para mães e familiares vítimas de violência do estado desde 2012.
“É encorajador ver esse tipo de solidariedade e conscientização sendo amplamente divulgado através das plataformas artísticas e culturais. Não podemos nos eximir de fazer nossa parte por uma causa humanitária de alcance mundial, a posição da arte sempre foi ajudar a produzir questionamentos e nós como artistas precisamos nos posicionar.”
Azizi
Nossa juventude tem direito à cultura, não aguentamos mais viver nessa sociedade onde a juventude é massacrada pela polícia nas favelas, sem direito à trabalho, educação e arte. Esse grito também ecoou no festival através das mensagens nas composições dos artistas e das fortes saudações de Ana Paula Oliveira do coletivo Mães de Manguinhos e muitos familiares de vítimas da violência do Estado. Uma atmosfera emotiva e combativa tomou conta do Festival Palestina Livre do Rio ao Mar quando elas ecoaram a solidariedade internacional ao povo palestino denunciando também a violência policial, o Estado, a cumplicidade do judiciário com a impunidade policial, o racismo e o capitalismo por trás das mortes que vitimaram seus filhos e filhas.
Entre as muitas mães, pais e familiares presentes, falaram Patrícia de Manguinhos; Sandra e Vladia do Jacarezinho; Fernanda e Rosi da Maré, Sônia e Adriana do Chapadão; Jackeline do Lins, Fatinha da Rocinha; Priscila e Ana Claudia da Cidade de Deus e Seu José do Acari. As falas demonstraram que a luta por justiça e em defesa da Palestina é uma só, impactando as novas gerações a tomarem para si essas batalhas, unificando a luta estudantil com as mulheres que lutam todos os dias contra o Estado e a impunidade.
O festival também contou com saudações importantes de trabalhadores em greve, como Fábio Marinho, técnico da UFRJ, Isadora Romero, militante do Pão e Rosas atualmente grevista da educação municipal de SP, Tufão, metroviário de SP demitido por lutar, e Leandro Lanfredi, petroleiro do Movimento Nossa Classe que constrói hoje uma chapa classista em defesa do Sindipetro-RJ.
Simone Ishibashi, doutora em Economia Política Internacional pela UFRJ, editora da revista semanal de teoria marxista Ideias de Esquerda, do Esquerda Diário e especialista em Oriente Médio fez uma saudação impactante pelo Movimento Revolucionário de Trabalhadores, que só aponta como a solidariedade internacional à resistência do povo palestino não apenas é necessária mas fundamental, e precisa ser redobrada.
Importante ressaltar o caráter totalmente independente como foi construído o Festival, não recebendo nenhum apoio financeiro de empresas e governos, contando com a contribuição voluntária de apoiadores da arte política e da causa palestina. Compreendemos a arte como ferramenta política para lutar por outra sociedade, sendo necessário abrir espaço aos artistas incomodados e corajosos que não se resignam frente a realidade. A arte carrega o potencial subversivo e disruptivo de escancarar as mazelas latentes da sociedade, pode cumprir um papel fundamental em dissipar as nuvens do ceticismo e pessimismo sendo incompatível com o espírito de acomodação.
Nesse festival se fez ouvir o grito de artistas, da juventude, de trabalhadores, de mães que lutam por justiça e seguiremos denunciando que as armas que matam a juventude negra no Brasil são as mesmas que matam as crianças palestinas, unificando nossa luta para batalhar pela solidariedade internacional por uma Palestina livre das amarras imperialistas e capitalistas, pela libertação e emancipação de toda a humanidade, para abrir caminho a uma sociedade sem opressão e exploração, onde a arte será a própria vida.
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