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153 anos de Lenin
"Dizemos partido, subentendemos Lenin."
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Estudante de Letras da UFRN e militante da Faísca Revolucionária
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Hoje, Lenin e sua memória comemoram 153 anos. Sua história, assim como a de Trótski, se confunde com a história da revolução de outubro na Rússia e não à toa. Lênin legou à história e luta de todos os trabalhadores suas concepções sobre o imperialismo, suas concepções aguçadas de estratégia e o coração da luta dos trabalhadores: sua concepção de partido. Analisando as relações entre a classe proletária, o partido e sua direção, em resposta à revista pseudo-marxista Que faire?, Trotsky afirmou:

Nossos sábios [do "Que faire?"] poderiam dizer que, tivesse Lênin morrido no exterior no começo de 1917, a Revolução de Outubro teria acontecido “da mesma maneira”. Mas isso não é verdade. Lênin representava um dos elementos vivos do processo histórico. Ele personificava a experiência e a perspicácia do setor mais ativo do proletariado. Sua aparição no momento certo na arena da revolução foi necessária a fim de mobilizar a vanguarda e provê-la com a oportunidade de organizar a classe operária e as massas camponesas. [1]

Esta leitura de Trótski, concreta quanto à importância de Lênin ao processo revolucionário, entra no veio de uma discussão central: a deturpação, a vulgarização da história, teoria e prática dos grandes revolucionários. Sobre isso, o próprio Lênin em 1917 diria sobre a imagem dos revolucionários que

Depois da morte deles, tentam transformá-los em ícones inofensivos, canonizá-los, por assim dizer, conceder a seu nome certa glória para “consolar” as classes oprimidas e para enganá-las, castrando o conteúdo da doutrina revolucionária, embotando seu gume revolucionário, vulgarizando-a. [2]

Este mesmo processo, que Lênin segue então para explicitar ponto-a-ponto como foi feito pelos social-democratas alemães com as teorias de Marx e Engels, ocorreu com a obra dos mesmos Marx e Engels, com a obra de Rosa Luxemburgo e com sua própria obra nas mãos da burocracia stalinista que se instalou no partido bolchevique em um processo de degeneração do estado operário da URSS. Elevando a figura de Lênin à de um ser imaculado, imputando falsamente a Lênin a defesa do socialismo em um só país — mesmo que o próprio tenha explicitado o absurdo desta ideia [3] — , o stalinismo não só deturpa a teoria e ação leninista em sua totalidade, retira Lênin completamente da materialidade. Ainda em sua polêmica com o Que faire? Trotsky acrescenta:

A concepção política de Lênin correspondia ao real desenvolvimento da revolução e era ajustada a cada novo acontecimento. [...] Um fator colossal na maturidade do proletariado russo em fevereiro ou março de 1917 foi Lênin. Ele não caiu dos céus. Ele personificava a tradição revolucionária da classe operária. Para que as consignas de Lênin achassem seu caminho dentre as massas, quadros tinham de existir, mesmo que numericamente reduzidos no início. [4]

Como todo verdadeiro revolucionário, ao contrário dos ícones que o stalinismo ergue sobre seu pseudo-marxismo, Lênin cometeu erros e os corrigiu. Suas correções e apurações de elaborações teóricas anteriores não são falhas, são a concretização de seu marxismo. Por fim, sobre a completa deturpação do internacionalismo leninista acho pertinente resgatar um trecho de Trótski em seu "Lenin como tipo nacional":

O internacionalismo de Lenin, longe de ser uma conciliação puramente verbal entre o espírito nacional e internacional, é uma fórmula de ação revolucionária estendida a todos os povos. O território mundial habitado pela chamada humanidade civilizada é considerado como um imenso e único campo de batalha no qual povos e classes se movem. Nenhuma questão importante pode ser encerrada em um marco nacional. Fios visíveis e invisíveis estabelecem uma ligação eficaz entre um evento que pode parecer nacional e dezenas de outros eventos que ocorrem em todas as partes do globo. Em sua apreciação dos fatores e forças internacionais, Lenin estava mais isento do que qualquer outro de qualquer parcialidade nacional. [5]

Hoje Lênin faz 153 anos e entre tantas homenagens que a história da arte guarda a ele, deixo nessa singela lembrança um trecho do poema de Maiakóvski que carrega seu nome:

Vladimir Ilitch Lenin (excerto)

[...]

As palavras
aqui
até a mais importante
tornam-se hábito,
envelhecem como vestidos.
Quero
fazer brilhar novamente
A majestossíssima palavra
“PARTIDO”.
Uma unidade!
Quem dela precisa?!
A voz de uma unidade
é mais fina que um pio.
Quem a ouvirá? –
Apenas sua mulher!
E mesmo
se não estiver na feira,
mas por perto.
O Partido –
é
um furacão único,
prensado de vozes
baixas e finas,
ele
rompe
os reforços do inimigo,
como
os tímpanos
no bombardeio.
É ruim
para a pessoa
quando está só.
É triste para quem está só,
um só não é guerreiro –
cada dúzia
é seu senhor,
e até mesmo os fracos
se estiverem em dois.
Mas
se no partido
juntaram-se os pequenos –
renda-se, inimigo,
pare
e deite!
O partido –
é uma mão de muitos dedos,
serrada
num único
punho ameaçador.
Uma unidade – é um absurdo,
uma unidade – é zero,
um –
até mesmo se for
muito importante –
não levantará
um simples
tronco de cinco polegadas,
muito menos
um prédio de cinco andares.
O Partido –
é
um milhão de ombros,
um a um
unidos estreitamente.
Elevaremos ao céu
as fileiras
do partido,
apoiando
e levantando uns aos outros.
O Partido –
é a espinha dorsal da classe trabalhadora.
O Partido –
é a imortalidade de nossa causa.
O Partido –
é o único,
que não me trairá.
Hoje sou empregado,
mas amanhã
estarei apagando um reino do mapa.
O cérebro da classe,
a causa da classe

a força da classe –
eis o que é o partido.
O Partido e Lenin –
são irmãos gêmeos –
quem é mais
valioso do que a mãe-história?
Dizemos Lenin,
subentendemos –
Partido,
Dizemos
Partido,
subentendemos –
Lenin.

 
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