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BOLSONARISMO
Deus, Família Cristã e o teatro Kajuru por Bolsonaro
Yuri Capadócia

Com uma resposta articulada em duas frentes, as marchas religiosas de sua base e a encenação combinada na ligação "vazada" pelo senador Jorge Kajuru, Bolsonaro busca um revide contra os demais atores do regime político, num momento de pressão contra ele.

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Manifestantes na Av Atlântica no Rio — Foto: Reprodução/COR

Quando acuado contra as cordas, como no momento atual em que o governo está na defensiva, Bolsonaro e seus seguidores, via de regra, costumam revidar. Os atos realizados em mais de 70 cidades do país, sob o mote "Marcha da Família Cristã pela Liberdade" em protesto contra a decisão do STF de proibir a realização de cultos presenciais pelas igrejas, são mais uma vez essa demonstração.

Entretanto, o revide evidenciou mais as debilidades momentâneas do bolsonarismo que conseguiu levar às ruas apenas um punhado de pessoas, como deixam claras as imagens nas diferentes cidades e capitais, onde os atos se limitaram a um máximo de algumas centenas de seguidores.

O baixo comparecimento aos atos não foi visto pelo governo como um problema em si, porque estavam relacionado a outra política, nesse mesmo domingo, na "superestrutura" política: as conversas de Bolsonaro com senadores para diminuir os decibéis da CPI da Covid-19 (que como toda CPI, no parlamentarismo burguês, é fumaça de pressão para manter as coisas tal como estão).

Manifstantes contra o fechamento de igrejas e templos fecharam uma via da Av. Goethe, em Porto Alegre — Foto: Marco Favero / Agência RBS

No conteúdo dos protestos, os costumeiros ataques ao STF, mesmo tendo sido o autoritarismo judiciário do ministro bolsonarista Kassio Nunes, que liberou por decisão monocrática a realização presencial dos cultos, quem colocou a pauta no radar da justiça, onde foi revertida no plenário do Supremo, mantendo as decisões de governadores e prefeitos. Além dos ataques ao STF, cartazes também pediam a reabertura do comércio e intervenção militar.

Esse conteúdo mostra bem a tentativa do bolsonarismo de contra-atacar a ofensiva que os setores do bonapartismo institucional vem tendo no sentido de controlar Bolsonaro e acomodar seu discurso de acordo com a situação agravante da pandemias, e principalmente a decisão do ministro Barroso de abrir uma CPI no Senado para investigar a atuação do Executivo no combate a covid-19. Iniciativas que aumentam a pressão sob Bolsonaro com intuito de condicioná-lo, além de seus protagonistas tentarem se apresentar como grandes combatentes da negligência de Bolsonaro em relação à pandemia.

Por isso, os protestos não tem importância em si mesmos, tendo sido muito pequenos como foram. Devem ser vistos como uma tática combinada ao "teatro Kajuru", ou seja, à divulgação do áudio da conversa, preparada de antemão, entre o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e o próprio Bolsonaro. Os atos deveriam servir como coadjuvantes de rua à tentativa de Bolsonaro de responder "à altura" ao STF golpista. A conversa telefônica mostrava um Bolsonaro confiante, que "Não tem nada a esconder", e se for investigado na CPI da Covid-19, que todos também sejam, governadores e prefeitos. Para fora, a intenção era mostrar aparente independência do Centrão - embora o Congresso o controle - restituir a imagem de um presidente autônomo, e contra-atacar os ministros do STF.

De fato, Bolsonaro já havia começado a atuar em prol de uma imagem de autonomia que ao menos preservada as aparências, apesar da essência de seu condicionamento. Na última semana Bolsonaro recebeu em jantar o apoio de pesos pesados da burguesia paulista, e com uma ala importante do capital financeiro (Bradesco, Safra, BTG Pactual), o que mostrou que ele ainda conta com importante sustentação nas frações urbanas, não apenas rurais, da classe dominante. É também o caso do Centrão, que apesar de aumentar seu preço, segue lhe concedendo apoio.

O domingo deixou a bola no lado do bonapartismo institucional. Congresso, STF, governadores esses que, junto à Bolsonaro, são os verdadeiros responsáveis pela catástrofe sanitária.

As disputas apontam as fragilidades e a fissuras que podem ser exploradas. Mas não será nos aliando com nenhum setor do Centrão, do STF, dos empresários, ou qualquer setor golpista arrependido que será possível combater a crise sanitária e econômica que eles ajudaram a produzir. Nesse sentido, a organização independente dos trabalhadores por um programa emergencial para crise é fundamental, sem confiança nos que sustentam Bolsonaro e naqueles que aprovam medidas contra os trabalhadores, enquanto mantém seus privilégios. Contra Bolsonaro, Mourão e os golpistas, é preciso impor pela luta uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

 
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