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UNICAMP | Tom Zé é escolhido reitor da Unicamp, mas precisamos apostar em nossa luta

Na quinta (15) foi escolhido pelo governador do estado de São Paulo o novo reitor da Unicamp. Processo ocorrido na universidade é apenas uma consulta e Dória poderia escolher qualquer candidato, mostrando o quão antidemocrático é o processo de escolha do reitor da Unicamp.

terça-feira 20 de abril de 2021 | Edição do dia

No contexto em que diversas universidades sofrem ataques de Bolsonaro, com cortes de bolsas de pesquisa e verba orçamentária, foi escolhido por Dória o novo reitor da Unicamp, Tom Zé. Remarcamos em diversos artigos aqui no Esquerda Diário, como a escolha para o reitor é um processo antidemocrático, começando pelo fato de ser feito apenas uma consulta à universidade, podendo o governador, assim como fez Bolsonaro em algumas federais, escolher quem quiser da lista votada pela comunidade. Também essa votação é feita com professores tendo 70% do peso da votação, e estudantes e funcionários apenas 30% ambos, sem nenhuma voz aos trabalhadores terceirizados.

Tom Zé, disputou o segundo turno com Mário Saad e Marco Zezzi uma chapa de direita que tem defensores de Bolsonaro e são abertamente a favor dos interesses mais privatistas dentro da universidade. E tiveram como propostas a desvinculação da permanência dos estudantes da universidade, para que as bolsas sejam obtidas e financiadas por empresas privadas. Também tinham como proposta a desvinculação do HC da Unicamp, para que a universidade não entrasse mais em seu financiamento, abrindo caminho para a privatização desse importante hospital para a população.

Também participou como candidatos a chapa de Sérgio Salles e Eliana Amaral, uma continuidade de Knobel, com muitos ataques e muita demagogia com a luta dos estudantes e trabalhadores. Também uma chapa encabeçada pela responsável da moradia e faz parte do descaso pelo que essa vem passando, com alagamentos, falta de energia e o risco do desabamento de casas, colocando em risco os estudantes.

No meio desse processo de conjunto antidemocrático, Dória acatou a consulta feita e Tom Zé assume a reitoria de uma importante universidade no país com alta produção científica e que envolve grande interesses de empresas e órgãos como a FIESP (que tem cadeira no conselho universitário. Assume uma universidade que em a pandemia vem acumulando ataques aos estudantes com a falta de permanência e o ensino a distância (que até se discute torna-lo mais permanente) e aos trabalhadores e a população, a partir da precarização da saúde em especial do Hospital de Clínicas da Unicamp (HC).

Há pouco tempo foi noticiado que se faltaria medicamentos para intubação em um hospital que é referência para toda a Região Metropolitana de Campinas, que além da falta de leitos e a sobrecarga de trabalho dos profissionais, coloca em risco o acesso da população a saúde em meio ao pior momento da pandemia, onde atingimos mais de 4 mil mortes na semana passada. Aí se incluí a cidade de Sumaré, onde vivem diversos trabalhadores efetivos e terceirizados e é a cidade que carrega a marca de mais mortes por falta de leito de UTI na região.

Também foi na Unicamp que morreram duas trabalhadores terceirizadas do bandejão de covid-19 e os trabalhadores terceirizados continuam trabalhando com baixos salários e mesmo cumprindo uma função tão essencial, correm o risco de serem demitidos. Também morreu um trabalhador da limpeza da moradia. Esses trabalhadores são considerados invisíveis pela reitoria e mesmo tendo anos de trabalho não tem os direitos dos trabalhadores efetivos.

Tom Zé durante sua campanha disse que iria reformar a moradia e resolver o problema do orçamento "buscando fontes alternativas de financiamento junto à sociedade civil". A questão é que essa “sociedade civil” já sustenta a Unicamp com o pagamento de impostos, e ainda assim não tem pleno direito a usufruir de todas as suas capacidades, pois são barrados por exemplo pelo excludente vestibular. O que Tom Zé chama de sociedade civil na verdade é reforçar os laços com a iniciativa privada, fazendo com que cada vez mais tenha participação as empresas que se utilizam dos profissionais e estrutura públicas, para inovarem e patentearem essas inovações para seus próprios lucros. Também como dizer defender a permanência, defendendo dentro da universidade, empresas que precarizam a vida da juventude, como a Ifood, que a Unicamp diz ter orgulho de ter saído dali.

Tom Zé, assim como Knobel seu antecessor, tenta passar a imagem de democrático, em um momento no país marcado pelo regime do golpe institucional de 2016 e a eleição de Bolsonaro em 2018. Onde vemos a participação cada vez maior dos militares na política, bem como as arbitrariedades do STF, Congresso e Senado que apesar das disputas, atuam juntos quando é para aplicar pesadas reformas, como a trabalhista e a da previdência, sobre as costas da população com recordes de desemprego e de mortos pela covid.

Foram os estudantes com apoio dos trabalhadores que conquistaram as cotas em 2016 com 3 meses de greve e ocupação da reitoria. Ali conquistando diversas demandas e mostrando ainda hoje qual deve ser o caminho para a luta.

Desde o Esquerda Diário e a juventude Faísca na Unicamp, defendemos o voto nulo nesse processo para fortalecer a organização pela base dos estudantes e dos trabalhadores. Partindo de denunciar que a consulta é um processo antidemocrático e tutelado por Dória que não pode ser a canalização de nossas lutas como querem fazer parecer o petismo e o PCdoB, que nacionalmente freiam e não unificam as lutas dos trabalhadores para aguardar 2022, enquanto seguem as reformas.

Para lutar por uma universidade e HC voltado aos interesses dos trabalhadores, ao combate da pandemia e na defesa de uma ciência para resolver a vida da maioria da população é preciso se apoiar nas lutas em curso nacionalmente, como as mobilizações desde a base dos trabalhadores da LG e dos trabalhadores do transporte e rodoviários que estão marcando paralisações no dia 20.

Temos que ser uma voz por um programa de universidade que queira voltar nosso conhecimento aos trabalhadores e à população pobre em um momento de luto e fome, e não aos que seguem lucrando, que defenda a quebra das patentes, incluindo a da vacina, e a liberação das pesquisas. Precisamos exigir reforma e ampliação da moradia de acordo com a demanda, bolsas sem a contrapartida do trabalho de acordo com a demanda e, defendendo as cotas, lutar pelo fim do vestibular que exclui milhares, ainda mais na pandemia. A unificação de estudantes, funcionários efetivos e terceirizados podem ser uma potente força para transformar a Unicamp dos pés à cabeça, algo que nenhum reitor irá fazer.

Frente a propostas como essa, precisamos decidir os rumos da universidade e defender uma Estatuinte Livre e Soberana que debata a forma como as decisões são tomadas na universidade, com o real peso de estudantes, trabalhadores e professores na realidade, e a quem de fato ela serve, questionando os privilégios da burocracia universitária, avançando ao fim do atual CONSU e da reitoria.




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