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CORONAVÍRUS E TRABALHO PRECÁRIO | Telemarketing e corona vírus: mais de 50 em uma sala minúscula, chefia em home office

Em meio a pandemia mundial do coronavírus, com quarentena em diversos países e categorias de trabalhadores, jovens trabalhadores do telemarketing são obrigados a trabalhar em condições precárias para receber muito pouco. Ao final, denúncia de um trabalhador do telemarketing.

terça-feira 17 de março de 2020 | Edição do dia

Alto fluxo de pessoas, guichês muito próximos, compartilhamento dos materiais de trabalho como microfones, teclados e mouse, além de transportes públicos lotados para chegar no trabalho. Para qualquer pessoa que acompanha a pandemia do coronavírus vê que essas condições são justamente o que deve ser evitado para se prevenir da contaminação pelo Covid-19. Contudo, essa é a realidade esquecida de milhares de trabalhadores do telemarketing.

Reproduzimos aqui, denúncia enviada por um trabalhador do telemarketing que ocultaremos o nome. Se você também tem denúncias do seu local de trabalho envie para o Esquerda Diário.

"Comecei a trabalhar a poucas semanas no telemarketing, quando a contaminação pelo Corona Vírus estava ainda muito inicial no Brasil, mas já alarmava o mundo. Em primeiro lugar, a seleção é feita em salas de 10 a 15 m ², com mais de 50 pessoas. A seleção durou das 09:00 até as 14:00 e teve gente que ficou em pé, durante boa parte do tempo. Não tinha cadeiras pra todo mundo e o lugar era muito apertado. Como a rotatividade é alta pelas condições de trabalho, as seleções ocorrem todos os dias em dois horários. Milhares de jovens tentam a todo custo um emprego precário, mas nem todos conseguem entrar. A empresa expõe todos ao risco do Corona Vírus.

No treinamento a situação não foi diferente. Éramos 35 pessoas em uma sala um pouco maior, mas ainda assim muito perto um do outro. Inclusive é motivo de brincadeira estarmos ali o dia inteiro, passando o vírus um para o outro. Não nos pagam alimentação e transporte na primeira semana, o salário é muito baixo por isso ninguém quer faltar ou reclamar da situação, a maioria que está ali são jovens que acabaram de sair do ensino médio e tentam o primeiro emprego. Existem mães, pais, pessoas com mais de 50 anos que foram recentemente demitidos em meio a crise econômica que precisam de algo a todo custo. Ninguém quer faltar, pois se desconta ainda mais no pequeno salário.

A única coisa que a empresa fez com relação ao Corona Vírus foi colar alguns cartazes falando para lavar as mãos e colocou alguns potes de Álcool em Gel pela empresa. São mais de 2 mil trabalhadores no mesmo prédio. Na operação dividimos o microfone, cada um tem seu receptor de áudio, mas se perder não ganha outro. Dividimos também o teclado, onde várias pessoas diferentes mexem todos os dias e não é limpo há muito tempo.

O que gera mais raiva é que a empresa liberou toda a chefia para fazer home office, trabalhar em casa, como prevenção contra a contaminação do Corona Vírus. Mas nada é falado aos operadores, as ligações e reclamações continuam a mil, expondo milhares de jovens a contaminações, que assim podem contaminar mais pessoas nos trens e metrôs lotados, familiares e etc. Além de ganharmos mal e irmos trabalhar com medo de contrair o vírus não podemos faltar, já que se faltamos é descontado no já pequeno salário. Enquanto isso, a chefia está tranquila em casa."




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