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ORIENTE MÉDIO | Protesto no Irã: greve na maior fábrica de açúcar do país.

terça-feira 9 de janeiro de 2018 | Edição do dia

No domingo, todos os trabalhadores da Haft Tappeh, a maior fábrica de açúcar do Irã, entraram em greve. Eles bloquearam os portões da fábrica e realizaram reuniões. Também na indústria de petróleo e gás há rumores sobre a preparação de uma greve. Começa agora a classe trabalhadora organizada a entrar na cena dos protestos?

Há dois meses, a fábrica de açúcar privatizada não pagou os salários - e não é a primeira vez. Desde a privatização em 2016, a situação dos trabalhadores da empresa quebrada se polarizou acentuadamente. Em outubro de 2017, os trabalhadores escreveram em uma carta aberta: "Mais de um ano de sofrimento e medo. Nós só recebemos nossos salários porque entramos em greve e protestamos." Desde o verão, houve uma série de rebeliões na fábrica de açúcar para forçar o pagamento de salários e benefícios. Por fim, fizeram uma greve por quase duas semanas no começo de dezembro pelo pagamento de salários - sem sucesso. No domingo, os trabalhadores entraram em greve novamente e conseguiram lutar pelos salários.

A resistência dos trabalhadores açucareiros no Irã tem uma longa tradição. Eles resistiram à exploração dos proprietários estadunidenses nos anos 60 e 70 e foram a força motriz da Revolução Iraniana de 1978/79. Após a destruição dos sindicatos independentes pela contra-revolução islâmica, este foi um dos primeiros setores da classe trabalhadora iraniana, em que se desenvolveu uma nova organização sindical há mais de 10 anos. Isso se passou numa luta contra as providencias privatizadoras da maior empresa da cidade iraniana do sul de Shush: além de moinhos e refinarias, incluía milhares de hectares de terras aráveis no negócio de semi-privatização.

Com a greve, os trabalhadores da Haft Tappeh também entraram em cena no palco político dos protestos que varreram o país desde 28 de dezembro. Até agora, a imagem dos protestos no Irã foi moldada por manifestações e rebeliões, que emanavam principalmente dos distritos pobres: contra a pobreza e contra o regime. Pela primeira vez, a classe trabalhadora organizada participa dos protestos com a greve em Haft Tappeh. Mesmo que a greve gire em torno de suas demandas econômicas, o sindicato se solidariza com as revoltas. Em uma declaração conjunta com o sindicato de motorista de ônibus de Tehran eles escreveram:

“Durante anos, reclamamos que nossos salários não são suficientes para viver. Mas não fomos ouvidos. Em vez disso, nossos salários, que estão cinco vezes abaixo da linha da pobreza, atrasam por meses. As políticas contínuas de vários governos de privatizações e empresas pessoais (Personalfirmen) com contratos precários arruinaram os direitos dos trabalhadores. (...) Os pobres foram atingidos com a destruição da política de subsídios. Enquanto há anos o montante (os subsídios sob inflação maciça, AdÜ) permanece o mesmo, a liberalização dos preços aumentou. (...) O protesto legítimo e a greve dos trabalhadores e professores foram respondidos com espancamentos, demissões, chicotadas e prisões. (...) Este é o sabor amargo da injustiça de todos os trabalhadores e pessoas marginalizadas. A resposta das pessoas no protesto é a não violência.” Depois de muitas semanas de greves mal sucedidas, os trabalhadores de Haft Tappeh conseguiram impor suas reivindicações em apenas um dia de greve: o regime tem medo de que um conflito se desenvolva. Mas eles também criaram um exemplo positivo: quem faz greve pode vencer. Nos últimos dias, espalharam-se rumores não confirmados que rebeliões na indústria petrolífera estão sendo preparadas. Outros sindicatos já haviam anunciado em 1 de janeiro que eram solidários com os protestos sob o slogan "Pão, trabalho e liberdade". Em sua declaração, eles disseram: "Desta vez, os trabalhadores e o povo do Irã são os únicos aqueles que irão unir e organizar solidariamente a continuidade dos protestos". A greve em Haft Tappeh poderia ser o início de uma onda de greve e, na melhor das hipóteses, levará a classe trabalhadora organizada a assumir a liderança dos protestos.

Texto de: Simon Zamora Martins
Tradução: Vanias Ornelas




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