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DECLARAÇÃO "CLASECONTRACLASE" | Por uma alternativa anticapitalista, internacionalista e de classe, que vá mais além das eleições gerais da Espanha

A poucos dias das eleições gerais da Espanha, as pesquisas apontam uma vitória apertada do Partido Popular (PP), seguido de perto pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e pelo partido Ciudadanos (Cs). Diante desses representantes capitalistas e de seu regime, nem o Podemos nem a Unidade Popular, e tampouco as candidaturas que dirigem juntos nas regiões da Catalunha e Galícia, são uma alternativa real para os trabalhadores e para o povo. É necessário construir uma alternativa anticapitalista, internacionalista e de classe, que vá mais além das eleições de 20 de dezembro.

quinta-feira 17 de dezembro de 2015 | 00:01

Os debates eleitorais dos últimos dias mostraram claramente que, seja qual for o resultado do dia 20 de dezembro, não podemos esperar nada de bom para os trabalhadores, as mulheres e os jovens. PP, PSOE e Ciudadanos representam os interesses diretos dos capitalistas. São eles quefarão mais acordos de ajustes contra os trabalhadores e os setores populares na próxima legislatura, para assim cumprir com as exigências de Bruxelas e do Eurogrupo.

Todos eles apostam em uma ou outra via de restauração do decadente Regime do ’78,que foi a forma política que adotou o projeto de desenvolvimento capitalista na Espanha, após quatro décadas de ditadura eque tem sido questionado por milhares de pessoas em protestos de rua durante os últimos anos, desde a eclosão no dia 15 de Maio.

Enquanto o Partido Popular e o PSOE estão afundados em casos de corrupção, o partido Ciudadanos se apresenta como uma nova direita “moderna”e anticorrupção; mas seus acordos com o PP – como ocorreu na região de Madrid– já confirmam que o discurso é uma farsa, enquanto no campo econômico e social defendem politicas neoliberais como as que vêm implementando o PP e PSOE durante todos esses anos.

O PP, PSOE e Cs também formam uma grande frente espanholista contra o direito de autodeterminação dos povos, especialmente no caso dos catalães. Trata-se de um pacto reacionário que agora foi transferido para a chamada “guerra contra o terrorismo” e com a ampliação do “pacto antijihadista” depois dos brutais atentados de 13 de novembro em Paris. Embora nenhum de seus representantes queira se sujar antes das eleições, todos eles apoiarão uma maior intervenção do Estado espanhol durante a ofensiva bélica da União Europeia na Síria e no Oriente médio, assim como apoiarão um reforço na repressão interna e na violação das liberdades democráticas, usando como desculpa a luta contra o Estado Islâmico-ISIS.

Podemos e Unidade Popular, o braço esquerdo do regime

Lamentavelmente, diante da tríade do PP-PSOE-Cs, nem o partido Podemos nem a Unidade Popular (Esquerda Unida), representa uma alternativa política real para a crise do Regime do‘78. Pelo contrário, se mostram como o braço esquerdo do regime, com propostas reformistas e “regeneracionistas” (movimento intelectual espanhol que entre os séculos XIX e XX medita objetivamente sobre as causas da decadência da Espanha como nação).

No caso do Podemos(que está tentando subir ao pódio superando Ciudadanos e o PSOE), sua perceptível “mudança para o centro”levou o partido a se adaptar completamente ao regime político e as regras do jogo impostas.E se antes questionava moderadamente, agora celebra diretamente o governo. A inclusão em suas listas eleitorais do ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas espanholas de Zapatero, o general Julio Rodríguez;as promessas de respeitar “até a última vírgula” os compromissos do Estado espanhol com a OTAN e a reivindicação da Transição que foi acordada com o franquismo para a volta da Coroa como sendo um “avanço democrático”, deixam bem claras quais são as reais intenções do partido.
Sobre a questão Catalã, o Podemos mantem uma defesa formal do direito a decisão de autonomia por parte dos catalães; no entanto, deixou claro que para alcançá-la, apenas apoiará a via legal e constitucional do processo. Um beco sem saída que nega em seus atos o que é prometido em palavras.

Na Catalunha surgem como uma coalizão com ICV (Iniciativa por Catalunha Verdes) e EUiA (Esquerda Unida e Alternativa). A coalizão leva o nome de En Comú Podem e embora quisesse se apresentar como os defensores de um referendo, não são diferentes de Pablo Iglesias (eurodeputado) e suas posições de que o processo deve passar pela legalidade constitucional, o que torna o a resolução do problema impossível.

Quanto a Unidade Popular, que muitos ativistas sociais consideram uma alternativa à esquerda ao invés do Podemos, o partido terminou sendo uma marca branca da Esquerda Unida para se apresentar nas eleições. Embora hoje se apresente sob a marca “Unidad Popular”, a Esquerda Unida está imersa em uma profunda crise política interna. Carrega em sua bagagem nada mais nada menos que um longo histórico de pactos e acordos como PSOE e com a gestão de cortes, como em Andaluzia ou o tripartit catalán; assim como escândalos de corrupção no qual estavam envolvidas figuras importantes, como no caso dos “cartões black”, onde Miguel Blesa e Rodrigo Rato, ex-presidentes do banco Caja Madrid foram acusados de serem responsáveis das despesas de antigos conselheiros do banco madrileno que utilizaram dinheiro de forma ilícita, através de cartões de crédito.

Tanto Podemos como a Unidade Popular se negam a denunciar o papel da burocracia sindical, com a qual convivem e em alguns casos chegam a ter alguns de seus representantes como candidatos em suas listas.Desde o começo da crise,uma casta burocrática com as mãos atadas nas cadeiras sindicais, tem desempenhado um papel fundamental em conter, isolar ou trair diretamente as lutas operárias, como vimos nos casos de Panrico, Cola-cola ou Movistar. Um papel nefasto que sem dúvida contribuiu para o refluxo da mobilização social, mas que foi reforçado pelas ilusões de que a “mudança” pode vir pela via eleitoral e parlamentaria, como afirmam Podemos e Unidade Popular.

Essa atitude por si só, demonstra que nem Podemos nem Esquerda Unida se propõem a lutar seriamente contra os ajustes e ataques às condições de vida dos trabalhadores e do povo. Na falta de outra demonstração, também se pode destacar o apoio de Pablo Iglesias aoTsipas depois da capitulação do Syriza frenteà Troika. Uma derrota sem luta para o povo grego, da qual Pablo Iglesias concluiu que “não há alternativa” possível a Troika, demostrando por sua vez quanto estaria disposto a ceder, caso chegue ao palácio presidencial da Espanha, La Moncloa.

A falência do Syriza que em poucos meses se converteu no governo implementador dos cortes de pensões, privatizações e ajustes contra o povo trabalhador, evidencia o fracasso de alternativas reformistas como Podemos e Esquerda Unida, que deram apoio ao partido grego. Ambas as formações, apesar de suas nuances discursivas, propõem um programa neokeynesiano de reformas moderadas e uma estratégia de ocupar espaços nas instituições da democracia capitalista, negando a luta de classes e gerando a falsa ilusão de que é possível humanizar o capitalismo.

Além disso, ambos os partidos são parte dos governos municipais das chamadas candidaturas cidadãs. Nos lugares onde se apresentaram juntos, como na Catalunha, figuras como Ada Colau estavam profundamente envolvidas na campanha. Mas nos meses que se seguiram as eleições municipais em maio, podemos ver como os novos prefeitos e prefeitas das“mudanças” abandonaram boa parte de seus programas de reformas, demandas como a de remunicipalização de serviços ou da continuidade de políticas racistas, como a perseguição dos “vendedores ambulantes” em Barcelona.

Por todos esses motivos, nas eleições do dia 20 de dezembro, nós do Clase contra Clase não devemos dar nosso apoio político ao Podemos e muito menos a Unidade Popular. E por não existir uma alternativa anticapitalista e de classe nessas eleições, chamamos os eleitores a votar em branco ou nulo, ou absterem-se.

Sabemos que muitas companheiras e companheiros com os quais compartilhamos diretamente as lutas contra os ataques da patronal e do governo, irão votar na Unidade Popular ou no Podemos. Porém, isso não impede que continuemos desenvolvendo uma frente única nas ruas, nas empresas e lugares de estudo. Para além do dia 20 de dezembro, devemos nos preparar para enfrentar os novos ajustes que serão implementados pelos representantes do Regime do ‘78 e suas saídas “gatopardistas”,ou seja, saídas que na prática só alteram a parte superficial das estruturas do poder, conservando intactos os elementos essenciais dessas estruturas. Mas também para construir uma alternativa política anticapitalista dos trabalhadores, das mulheres e da juventude.

Por uma alternativa anticapitalista, internacionalista e de classe

Nós do Clase contra Clase, temos ressaltado a necessidade de avançar em uma organização de todas e todos aqueles que defendem uma saída anticapitalista, internacionalista e de classe, para construir um programa que visa resolver os graves problemas sociais e as grandes reivindicações democráticas que vêm se expressando nas ruas desde o dia 15 de Maio; desde denunciar a casta burguesa e a corrupção; até o fim da monarquia; e defendendo o direito à autodeterminação dos povos, começando pela Catalunha.Um grupo que seja uma alternativa frente aos projetos reformistas do Podemos e Unidade Popular.

Um grupo que coloque eixo na luta de classes; que fortaleça a organização e a mobilização da classe trabalhadora, das mulheres e da juventude, para enfrentar os ajustes que virão depois do dia 20 de dezembro e para varrer a burocracia sindical.

Uma união que se proponha a lutar pelo direito à autodeterminação, sem depositar a mínima confiança nos representantes políticos da burguesia catalã e apostando em uma estratégia de independência política e de classe. Um grupo que proponha como tarefa imediata, trabalhar pelo surgimento de um movimento contra a guerra, a ofensiva liberticida e as políticas racistas contra os imigrantes e refugiados.

Que diante da falência do neo reformismo – como já vimos na Grécia com o Syriza -, tenha como referencia, experiências avançadas da esquerda anticapitalista e revolucionaria como a Frente de Esquerda e dos trabalhadores (FIT) na Argentina; que construa um programa onde a crise seja paga pelos capitalistas e que lute para um verdadeiro progresso constituinte por meio da mobilização social, sobre as ruínas do Regime do ’78, para dar passo a um governo dos trabalhadores.

No encontro realizado em Málaga (Andaluzia) no dia 28 de novembro, no qual participamos militantes do Clase contra Clase junto a outras organizações como IZAR, Andalucía desde Abajo e setores descontentes do Podemos,se decidiu convocar um segundo encontro em Madrid. O Encontro será realizado no mês de fevereiro para discutir os aspectos pragmáticos, políticos e organizativos de uma nova “alternativa anticapitalista para a crise e as tentativas de restauraro Regime do ‘78”. Essa será uma grande oportunidade para avançar nesse sentido.

Tradução: Cassius Vinicius J.




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