A Bancada Negra foi proposta por Taliria Petrone (PSOL) e Damião Feliciano (União Brasil), respectivamente vice coordenadora e coordenador geral da Bancada. Além deles, Benedita da Silva (PT) também é vice coordenadora ao lado da bolsonarista Silvia Cristina (PL).
Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF
terça-feira 5 de dezembro de 2023 | 10:34
Foto: Cortesia
Não dá para acreditar que o PT e o PSOL estão juntos com o bolsonarismo para supostamente “lutar” por políticas públicas voltadas para a população negra que diminuam as desigualdades raciais e o racismo. Talvez precisemos refrescar a memória para deixar claro algo que teria que ser óbvio para esses partidos. Foi Bolsonaro que parabenizou a polícia civil carioca depois da chacina do Jacarezinho. Silvia Cristina, uma das dirigentes da Bancada, não é apenas de um partido responsável nos últimos 4 anos em estimular e apoiar a violência policial contra a população negra, mas também de um partido que tem militante condenado por trabalho escravo, como é o caso do deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE). Damião Feliciano que é o líder principal da Bancada Negra votou a favor da reforma trabalhista e é um apoiador da criação do “Estatuto do Nascituro” na Câmara Federal, se colocando contra qualquer proposta sobre a legalização do aborto e também responsável por uma das reformas que aprofunda o trabalho precário que afeta, principalmente, a juventude negra.
A bancada teve como principal articulador Antonio Brito (PSD), cotado para ser o próximo sucessor de Arthur Lira (PP) na presidência da Câmara dos Deputados que negociou com a bancada evangélica os votos para aprovação da Bancada Negra. No acordo com os evangélicos do Congresso, ele se comprometeu em assinar um projeto que cria uma bancada semelhante para representar os cristãos no colégio de líderes. Ou seja, para a Bancada Negra existir, precisou negociar mais espaço político para um dos setores mais reacionários do Congresso.
No dia da Consciência Negra a Bancada Negra se encontrou com Arthur Lira para debater suas propostas. Não podemos confiar nem um pouco que um político como Lira está do nosso lado, um dos pilares do governo Bolsonaro e que não condena o estado sionista e racista de Israel que promove uma limpeza étnica contra o povo palestino na Faixa de Gaza.
Podíamos seguir em outros exemplos para demonstrar como PL, PSD e União Brasil são parte de fortalecer a ideologia racista no Brasil e nunca estiveram ao lado dos negros e trabalhadores na luta antirracista. Esses exemplos da unidade com a extrema-direita e à direita numa suposta luta antirracista na realidade só fortalece esses setores reacionários que foram parte de passar ataques contra os trabalhadores.
O PT e o PSOL através da Bancada Negra vão aprofundando o processo de institucionalização no Congresso da reivindicação das pautas da população negra e de um setor do movimento negro que se vê representado nela, só que agora ao lado do PL e partidos do Centrão. Esse grave erro em como levar adiante a luta por nossas demandas nos leva a refletir sobre os limites da representatividade.
O que une os parlamentares do PSOL e PT com bolsonaristas e partidos com uma tradição reacionária, racista e anti-operária é o fato de todos eles serem negros. Mas isso não deveria ser o critério para atuar junto com o bolsonarismo, pelo contrário, a justificativa de estarem juntos no Congresso por serem todos negros esconde a ideologia racista que esses partidos defendem. E mais uma vez a representatividade vai se mostrando ineficiente para combater o racismo e neste caso da Bancada Negra ainda por cima cria uma suposta aparência de que o bolsonarismo e o Centrão podem ser aliados na luta antirracista.
Atualmente temos um governo de frente ampla de Lula e Alckmin que vem mantendo ataques, promovendo cortes e novos ataques. Esse mesmo governo está dando treinamento para a polícia do Haiti através da PF, a mesma polícia que matou Genivaldo numa câmara de gás improvisada. No estado da Bahia onde o PT governa há um crescimento enorme da violência policial e chacinas contra a população negra. Nem de longe são esses os combates que estão na mira da Bancada Negra, porque ela mesma é parte da atuação da frente ampla que tenta livrar a cara de partidos burgueses e do bolsonarismo, mas também do próprio PT que está à frente desses ataques e em outra medida do PSOL, por integrar a frente ampla.
