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Retratos da precarização | "Passarei mais uma férias passando fome", retrato do descaso e precarização da assistência estudantil na UFRGS

Este é um relato da precarização da assistência estudantil e o descaso da UFRGS, enviado anonimamente para a redação do Esquerda Diário. Colocamos o Esquerda Diário a disposição para todas as denuncias de precarização, para que a voz dos estudantes e dos trabalhadores seja ouvida.

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

quinta-feira 7 de março | Edição do dia

Na madrugada do dia 10 de fevereiro, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UFRGS, através de seu canal de divulgação, enviou um email para todos os estudantes com o seguinte assunto: “Você sabe onde buscar ajuda quando o assunto é saúde mental?”. 2 horas após, uma estudante não identificada respondeu o email com o questionamento “Quero saber onde buscar saúde alimentar? Passarei mais uma férias passando fome”.

Este email só foi respondido hoje, dia 07 de março, quase um mês depois da súplica da estudante da qual só tivemos acesso por um descuido do canal de divulgação da PRAE, que respondeu o email privado endereçando para todos os estudantes da graduação na universidade.

No email, a estudante ainda relata uma situação de profunda precarização para os estudantes do litoral norte:

aqui no litoral o RU não funciona nas férias e me alimento nele, além disso o valor disponível por vós para auxílio alimentação nos fins de semana, mal dá para comer por cinco dias aqui no litoral, quiçá um mês e meio, já q meu último dia de aula foi ontem e as aulas só retornam em 18 de março, com o RU junto. Vcs (vocês) sequer consideram os percalços e diferenças que os alunos do litoral passam! Não nos proporcionam alimentação, nem saúde, nem arte, nem diversas outras coisas, como o fazem ao pessoal da capital, somos preteridos a olhos nus!”

A resposta da UFRGS não poderia ser a mais perfeita representação de uma instituição que limpa as mãos sobre a sua responsabilidade em relação a uma medida básica para combater a evasão, a alimentação, em especial aos estudantes do litoral, que saem de vários dos municípios do RS para traçar o sonho de um diploma:

Em específico sobre seu relato de estar com fome, entendemos se tratar de situação crítica. Orientamos que procure o atendimento do NAA (Núcleo de Assistência ao Aluno), para obter informações de como acessar serviços oferecidos próximos de você. Além dos serviços da UFRGS, existe política municipal e estadual para segurança alimentar dos cidadãos.”

Dessa forma, a UFRGS mostra quem são aqueles que pagam o preço dos cortes e ataques contra a educação: os estudantes mais precários e pobres, cotistas que mais precisam de medidas básicas de permanência estudantil. Enquanto isso, a reitoria interventora de Bulhões e Pranke gasta rios de dinheiro público em viagens internacionais (chegando a casa dos 40 mil por viagem) para vender a fachada de uma “universidade de excelência” aberta ao “empreendedorismo”, e faz de tudo para manter o conjunto da herança da intervenção bolsonarista em nossa universidade, como fez com seu último canetaço revertendo a resolução que estabelece a paridade na universidade.

Quantos são os estudantes que mandam emails para a ouvidoria da PRAE e sequer são respondidos? Quantos mais relatos como esses estão presentes em cada instituto? É preciso que o movimento estudantil da UFRGS se coloque na linha de frente para batalhar por condições dignas de permanência estudantil, como os RUs abertos nos sábados e nas férias. Uma batalha assim precisa estar articulada com a demanda pela abertura do livro de contas da universidade, para que saibamos a real situação financeira da UFRGS, ligado com a necessidade de que sejamos nós, estudantes, professores, trabalhadores técnicos e terceirizados, quem deve gerir o conjunto da universidade e decidir os seus rumos.

Uma batalha assim também precisa ser articulada com uma profunda aliança junto aos trabalhadores terceirizados, uma maioria negra e precarizada em nossa universidade que também é a primeira a sofrer com o peso dos ataques à educação e cortes, já que nossas demandas não podem significar mais precarização. É por isso que nós da Faísca Revolucionária defendemos a efetivação de todos os terceirizados de nossa universidade, com plenos direitos e sem necessidade de concurso, pois todos os dias provam que estão aptos aos seus cargos, assim como a necessidade de mais concursos para suprir toda a demanda.




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