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#JujuyResiste | Paralisação nacional da educação argentina: que seja o início de um plano de luta até derrubar a reforma do governador Morales

O governo de Gerardo Morales, da UCR (Unión Cívica Radical), na província de Jujuy, no norte argentino, aprovou, com os votos do PJ (Partido Justicialista, de Alberto Férnandez), uma reforma constitucional antidemocrática e ilegítima que vem sendo repudiada nas ruas. Os professores estão em luta e vieram exigindo da Confederação dos Trabalhadores da Educação da República Argentina (Ctera) medidas de ação em âmbito nacional, mas sua direção até então virou as costas para os docentes. Agora está sendo convocada uma paralisação em repúdio à repressão em Jujuy. Precisamos paralisar massivamente e lutar para que este seja o início de um plano de lutas até que caia a reforma de Morales e triunfem as lutas nas províncias contra este ataque.

terça-feira 20 de junho de 2023 | Edição do dia

Em uma verdadeira rebelião, o povo de Jujuy tomou as ruas e estradas em repúdio à reforma constitucional, que já vinha sendo questionada por limitar o direito democrático à manifestação, possibilitar o saque de lítio e retirar direitos.

Para evitar que esse questionamento crescesse, na madrugada da última sexta-feira (16), os deputados constitucionais da UCR e do PJ votaram a favor e encerraram o debate para aprovar a Reforma. Porém a reação foi contundente, com atos massivos em dezenas de pontos da província unindo professores, trabalhadores estatais, rurais, estudantes e comunidades originárias, mostrando que essa reforma não tem nenhuma legitimidade e que há forças para derrotá-la.

Veja também: Somando-se às mobilizações, a Frente de Esquerda se retira da Reforma Constitucional de Jujuy

Enfrentam um regime decidido a passar a reforma, que respondeu com uma repressão brutal que já tem um saldo de mais de 30 presos e numerosos feridos, entre eles jornalistas, como Lucho Aguilar, da rede internacional La Izquierda Diario, e Natalia Morales, deputada eleita pelo PTS (Partido de Trabalhadores Socialistas, organização irmã do MRT na Argentina) na Frente de Esquerda-Unidade, tendo sido recentemente soltos.

A burocracia sindical: dias de paralisia cúmplice

As direções da Ctera e da CTA (Central dos Trabalhadores da Argentina) deram as costas para a luta dos professores, que vêm batalhando e exigindo ações nacionais para fortalecer a luta.

No início de maio, teve início uma dura luta em Salta, província no noroeste do país, onde professores auto organizados impulsionaram um ato contra o ajuste e por aumentos salariais, e foram brutalmente reprimidos nos dias 24 e 25 de maio pela polícia do governador Sáenz, amigo de Sergio Massa (da Frente de Todos, atual ministro da Economia), mas isto não foi motivo para que Sonia Alesso e os demais dirigentes da Ctera saíssem de sua paralisia. Tampouco as 19 detenções no dia 25 ou as acusações por parte da juíza Zunino que hoje tramitam contra esses lutadores. Muito menos a aprovação da lei anti protestos, que alguns professores chamaram de “lei anti docentes” e que foi votada por todo o arco político uma semana depois.

A direção da Ctera manteve essa mesma postura passiva até o último sábado, depois de doze dias de luta com atos, paralisações e ameaças de descontos e sanções por parte do governo de Jujuy. Nossos companheiros membros do diretório do combativo grêmio docente Cedems vêm fazendo chamados a cercar de solidariedade a luta em Jujuy, e exigindo ações nacionais, alertando que o governo buscava derrotá-los.

No último 15 e 16 de junho, unificaram-se oito províncias em luta: Jujuy, Salta, Santa Cruz, Terra do Fogo, Chubut, Formosa, Buenos Aires e grande Buenos Aires. Também se levantou a necessidade de um plano de luta para impor na agenda política nacional as demandas dos trabalhadores da educação e do conjunto do povo trabalhador, contra os governos regionais e federal, desesperados em seguir pagando o FMI. Embora muitos governantes estejam em disputa eleitoral, se unem quando se trata de atacar e perseguir aqueles que lutam.

Na última quinta-feira (15), as ruas em torno do Obelisco, na capital Buenos Aires, foram bloqueadas em protesto, como parte da construção de uma jornada nacional de luta em várias províncias do país, em contraponto à linha de isolamento imposta pela direção da Ctera.

É chamativo que a Ctera denuncie a repressão em Jujuy, mas tenha se calado sobre a luta em Salta quando o governador Sáenz reprimiu os professores em quatro oportunidades diferentes e onde há vinte processos contra trabalhadoras e trabalhadores da educação. Da mesma forma, Santa Cruz e Chubut – duas províncias governadas pelo peronismo de Arcioni/Massa e de Alicia Kirchner – têm greves docentes há muito tempo sumariamente ignoradas pela Ctera.

Os coletivos docentes Corriente Nacional 9 de Abril e Agrupación Marrón, compostos por professores do PTS e independentes, como parte dos diretórios dos sindicatos, batalharam para construir a solidariedade ativa à luta em Jujuy desde distintas regiões do país. Neste sentido, nesta semana uma delegação de diversos companheiros docentes destas agrupações e representantes da categoria viajará à província de Jujuy para se somar em apoio à luta.

22 de junho: paralisação massiva para impor um plano de luta nacional

Agora, a direção da Ctera quer se relocalizar convocando uma paralisação em repúdio à repressão. Mas não apresenta um plano para enfrentar seriamente Morales e derrotar a reforma. De certa maneira, isto não surpreende. já que o peronismo deu os votos à UCR de Morales para aprovar a reforma, e os dirigentes da Ctera e da Celeste (chapa da qual faz parte Sonia Alesse, secretária geral da Confederação) compartilham a filiação política com o PJ de Alberto Férnandez.

Apenas os deputados constituintes da Frente de Esquerda, a exemplo de Alejandro Vilca, denunciaram as manobras da Convenção Constituinte em Jujuy e renunciaram sua participação na mesma para não compactuar com a aprovação da reforma constitucional. Além disso, estiveram desde o primeiro dia acompanhando as mobilizações e fizeram parte das convocações junto aos setores combativos.

Para derrotar a direita de Morales e do PJ, é necessária a nacionalização da luta: colocar em movimento mais de um milhão de docentes em todo o país com assembleias, piquetes, atos, liberando toda a força e disposição de luta que os professores vieram demonstrando. É preciso tomar essa paralisação em nossas mãos, unificar as lutas a nível nacional e cercar de solidariedade os docentes e o povo de Jujuy que já não tem mais medo. A mobilização ativa, no marco da paralisação nacional, permitiria aos professores em todo país expressar sua força nas ruas. No entanto, não basta uma paralisação isolada, é preciso construir desde as bases, a partir de assembleias massivas, um plano de luta para derrotar a reforma e seguir com essa força para impor as demandas do povo trabalhador.

Nota aos leitores brasileiros:

Convidamos todas e todos acompanharem pelo Esquerda Diário, nesta terça-feira (22), a jornada nacional de luta da educação na Argentina, cujo espírito de enfrentamento aos ataques conflui com a mobilização que diversas categorias docentes vêm protagonizando em várias regiões também em nosso país neste semestre, contra o Novo Ensino Médio, por reajuste salarial digno e melhores condições de trabalho nas escolas, a exemplo de São Paulo, Amazonas, Distrito Federal e Rio de Janeiro, estado onde a greve segue em curso. Os professores argentinos mostram o caminho para batalhar pela continuidade da luta e arrancar as demandas que se escutam nas ruas de Jujuy: Arriba los salarios, abajo la reforma!




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