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quinta-feira 16 de julho de 2015 | 23:14

Ontem, dia 15 de Julho, foi aprovado no parlamento grego o pacote de austeridade, humilhação e espoliação proposto pela Troika e defendido pelo premier grego Alexis Tsipras.

A aceitação deste plano por parte da maioria do Governo Syriza, é uma prova cabal de onde se chega com a estratégia de conciliação de classe que veio orientando este partido desde sua ascensão ao poder. Ao invés de apostar na revolta e indignação do povo grego, que o elegeu como uma saída à esquerda à austeridade, o Syriza apostou todas as fichas na mesa de negociação com os imperialistas. Rifando os direitos daqueles que o elegeu em troca de conseguir empréstimos da Troika (Banco Central Europeu, FMI, e Comissão Europeia) que visam pagar a impagável dívida com a própria Troika.

O melhor exemplo dessa “troca” de direitos dos trabalhadores e jovens por um pseudo “resgate”, é o próprio acordo aprovado ontem, que vai aumentar impostos (podendo chegar a custar 720 euros por lar por ano, num país onde o desemprego atinge 26% da população - 50% dos jovens) e reduzir os direitos de aposentadoria (sendo que 60% da população grega hoje é pensionista).

Este acordo foi firmado e agora aprovado pelo parlamento, após o tão polêmico referendo de Tsipras consultando o povo grego se aceitavam o pacote oferecido anteriormente pela Troika. O resultado do referendo foi um contundente Não, que atingiu 61% dos votos, e nos bairros operários chegou à 80%.

Poderíamos dizer que este Referendo foi um tiro no pé dado por Tsipras e pelo Syriza pois, por um lado, resultou num profundo rechaço por parte de seus credores, que ofereceram depois disso este acordo ainda mais duro, o que muitos analistas chamaram de “vingança”. E por outro lado, descreditou o governo com a população, pois ao dar voz ao povo e depois joga-la na lata do lixo, dizendo “sim” à um acordo ainda pior do que aquele que o povo disse “não”, desmascarou ainda mais como o Syriza abriu mão do mandato que recebeu (primeiro nas eleições, depois no referendo) de pôr fim à austeridade que vem há anos sendo imposta ao povo. Uma das expressões desse descrédito é o crescente movimento virtual #ExplainNoToTsipras, “explique Não para o Tsipras”, uma forma irônica de dizer que o governo não levou a frente a vontade da população.

Apesar disso, o verdadeiro grande tiro que o Tsipras deu no próprio pé do governo com este referendo, é ter dado a possibilidade para que o povo grego que está terminantemente contra a austeridade, pudesse reconhecer sua força e comprovar que hoje tem a maioria no país. Este pode ser um importante ponto de apoio para que a classe operária grega e a juventude, a partir desse reconhecimento de força, possa avançar na consciência de que não precisa deste governo, que neste momento o traiu, e de é apenas ela própria a alternativa para realmente impor o não. Retirando todas as ilusões depositadas no Syriza, jogando-o para escanteio junto com sua estratégia negociadora, e tomando a linha de frente na decisão do futuro grego a partir das ruas.

O povo grego vem demostrando desde o estouro da crise econômica muita disposição de luta, realizando mais de 30 greves gerais no país contra os ajustes econômicos e as medidas de austeridade, com uma massiva participação da juventude nestes processos. A derrota da estratégia e a capitulação de Tsipras, que apenas resultou em mais austeridade, pode acelerar a conclusão das massas de que o campo privilegiado dos trabalhadores e da juventude é exatamente este, o luta de classes, é a mobilização, e não a mesa de negociações e os acordos de conciliação de interesses. Os interesses do povo grego são inconciliáveis com os interesses do imperialismo, principalmente com a Alemanha de Merkel. E neste sentido, o reconhecimento por parte da vanguarda que tem saído em luta de que 61% da Grécia está contra a austeridade, de que nesta polarização social o “Não” é a maioria, pode ser ser uma fortaleza fundamental que dê a convicção necessária aos trabalhadores e a juventude, de que podem em confiar em suas próprias forças, para protagonizarem nos próximos meses novos levantes de massas.

Durante o acordo de ontem, pôde ser visto os primeiros sinais desse enfrentamento, com os milhares que saíram as ruas contra sua aceitação pelo parlamento. Se hoje a classe operária grega ainda não pode contar com a emersão de uma direção decidida, para impor através de seus métodos a queda desse acordo, o não pagamento da dívida, o fim dos ajustes e da austeridade - rumo à uma série de medidas que possam planificar a economia grega sobre controle dos próprios trabalhadores - ao menos está claro que poderá contar com um amplo apoio popular para entrar em cena.

A mobilização do povo grego, dirigido por essa forte e experiente classe operária, aliada à juventude mais radicalizada, é única força que pode resolver a difícil situação na qual se encontra o país, fazendo frente ao imperialismo Europeu, rumo ao fim das mazelas que só prometem aumentar o sofrimento desta nação. Ao mesmo tempo, esta é a única saída que evita o fortalecimento de forças de direita como a Aurora Dourada.

Que esta lição que já podemos tirar a partir dessas primeiras experiência com esse governo reformista de um partido amplo, sirva também às correntes políticas, como o Mes/PSOL, que aqui no Brasil reivindicam até o último momento o Syriza e sua estratégia. Não há outra aposta a ser feita frente à uma situação de crise capitalista como a da Grécia, que não a da mobilização operária e juvenil, trazendo consigo a maioria da população (no caso os 61%), na defesa intransigente dos direitos do povo, sem nenhuma ilusão de com negociações é possível frear a espoliação dos imperialistas que não querem pagar nada por essa crise gerada por eles próprios.




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